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PONTO AO MEIO DIA






            O Ensino na Escola Naval



                       - Um Caminho para o Futuro


                Escola Naval tem como missão, des-  efectivamente centrada no aluno e, ainda, da   A maturidade profissional dos oficiais aquan-
                de o longínquo ano de 1782 em que a  criação do Suplemento de Diploma que ga-  do da frequência do 2º ciclo de estudos será uma
          A  Academia Real dos Guarda-Marinhas  ranta a legibilidade e a comparabilidade da  mais valia permitindo a estes uma evolução con-
          foi criada, formar os alunos que a frequentam  formação ministrada.   solidada dos conhecimentos e uma maior diver-
          para o exercício das funções inerentes à condi-  Neste novo enquadramento prevê-se, como  sidade de opções no prosseguimento dos estu-
          ção de oficial da Marinha.         regra, uma duração de quatro anos para o 1º  dos e, à Escola Naval, a abertura de um novo
            Hoje, como há mais de duzentos anos, a  ciclo (licenciatura) e de um ano para o 2º ciclo  campo de participação nos estudos pós-gradua-
          aprendizagem dos oficiais abarca um vasto e  (mestrado). De notar que a duração de quatro  dos, resultando numa consolidação da sua po-
          complexo processo educacional e formativo  anos para o 1º ciclo foi adoptada por todas as  sição como instituição universitária.
          que tem em vista garantir o desenvolvimento  escolas universitárias de engenharia nacionais   A aplicação do conceito ECTS aponta para
          nos planos humano, científico, cultural, mili-  em consonância com os critérios veiculados  uma nova aproximação pedagógica ao ensino
          tar, técnico-naval e físico.      pelo MCES.                         levando, entre outras alterações, à redução da
            Os curricula dos cursos devem pois ser dese-  A Escola Naval, após aprofundada refle-  carga horária por forma a não ultrapassar trin-
          nhados tendo em conta, por um lado, os interes-  xão, propôs superiormente a adopção de um  ta horas semanais. Esta situação leva à neces-
          ses da Marinha reflectidos no custo/eficácia do  modelo de ensino pautado pelos seguintes  sidade de deslocar algumas das actividades
          investimento no processo formativo no quadro  princípios:            de formação prática, nomeadamente parte da
          dos requisitos que a condição de ensino supe-  UÊ `œ«Ì>ÀʜʫÀˆ˜V‰«ˆœÊ`>Ê  6ÊVœ“œÊii“i˜-  formação marinheira, para períodos extracur-
          rior universitário obriga e, por outro, o sempre  to central do modelo de ensino, consubstan-  riculares como são os sábados de manhã.
          desejado equilíbrio entre as vertentes educacio-  ciado em dois ciclos de formação separados   1“>ʜÕÌÀ>Êv>ViÊ`iÃÌ>ʓiÓ>ÊiۜÕXKœÊÌÀ>-
          nais e formativas acima indicadas.  por um período de experiência profissional  duzir-se-á em criar mais oportunidades de
            Os últimos desenvolvimentos curriculares  (2 a 4 anos). O 1º ciclo conduzirá ao grau de  aprendizagem através de cadeiras electivas,
          na Escola Naval, ocorridos em 1998 (1) e em  licenciatura universitária com entrada nos  destinadas aos alunos que se revelem mais
          2002 (2), visaram objectivos específicos impor-  quadros de oficiais, e o 2º ciclo ao grau de  capazes e que possam assim melhorar o nível
          tantes para a Marinha e para a Escola Naval,  pós-gradua ção profissionalizante ou mestra-  de conhecimentos em áreas não cobertas pelos
          sendo o primeiro (na sequência dos acidentes  do. Estes dois ciclos constituem a formação de  curricula normal, resultando daqui vantagens
          ocorridos em 1996 com navios da Marinha)  base dos oficiais;          vis a vis o ingresso em cursos de pós-gradua-
          orientado para o aprofundar da prática ma-  UÊ >À“œ˜ˆâ>ÀÊ>Ê`ÕÀ>XKœÊ`œÊ£¨ÊVˆVœÊVœ“Ê>Ê ção. A aplicação deste conceito poderá evoluir
          rinheira e operacional sem trazer alterações  duração que se prevê no quadro da nova LBE  também para programas individuais de carác-
          substanciais à estrutura curricular global nem  para as licenciaturas universitárias (4 anos);  ter obrigatório para alunos que necessitem de
          à duração dos cursos (cinco anos, sendo um de   UÊ œ˜viÀˆÀÊ>œÊ“œ`iœÊyi݈Lˆˆ`>`iÊÃÕwVˆi˜-  suplantar deficiências académicas.
          estágio), e o segundo para o aprofundamento  te para permitir inscrever o 2º ciclo no qua-  No sentido de valorizar a integração da Es-
          científico dos cursos tradicionais com o au-  dro da formação complementar dos oficiais,  cola Naval nas comunidades naval e científica
          mento da duração dos cursos de engenharia  conducente a mestrado de cariz científico ou  universitária, mostra-se vantajoso dinamizar
          para seis anos (onze semestres lectivos, sendo  a doutoramento;      uma maior abertura ao exterior, consubstan-
          dois a frequentar na universidade e um de es-  UÊ œ˜ÌÀˆLՈÀÊ«>À>ʜÊ>Փi˜ÌœÊ`>ÊvœÀ“>XKœÊ ciada pela audição sobre matérias de interes-
          tágio), procurando supletivamente alcançar a  pós-graduada na Marinha e da coerência do  se, de personalidades de reconhecido mérito,
          acreditação pelas Ordens Profissionais (OP).  processo de formação, optimizando a articu-  incluindo oficiais da Marinha na situação de
          Para os restantes cursos a duração manteve-se  lação entre a formação na Escola Naval e a  activo, reserva ou reforma que se destaquem
          em cinco anos, aumentando o número de se-  formação complementar;    pelo seu currículo, e ainda pela criação de um
          mestres lectivos para nove e reduzindo o es-  UÊ1̈ˆâ>ÀÊ>Ê>VՓՏ>XKœÊ`œÃÊVÀj`ˆÌœÃÊ­  /-®Ê Centro de Investigação na Escola Naval que
          tágio para um.                    adquiridos em formação graduada e pós-gra-  conduza, em regime de parceria com organis-
            A implementação dos curricula decorrentes  duada como plataforma de acreditação dos  mos da Marinha ou com entidades da esfera
          desta última reforma tem vindo a ocorrer em  cursos pelas OP;        científica, projectos de investigação que levem
          ambiente fortemente caracterizado e condicio-  UÊ œ˜viÀˆÀÊyi݈Lˆˆ`>`iʓœ`Տ>ÀÊ>œÃÊVÕÀ-  a melhorar a visibilidade da Escola Naval en-
          nado pelas perspectivas de evolução do ensino  ricula tendo em vista facilitar o acesso a can-  quanto instituição universitária.
          superior nacional no âmbito do processo emer-  didatos já licenciados ou a frequentar outras   O modelo de ensino cujas linhas princi-
          gente da Declaração de Bolonha, evolução que  licenciaturas;         pais foram acima explicitadas, tem vindo a
          se traduzirá, a nível nacional, através de uma   UÊ/iÀÊi“ÊVœ˜Ãˆ`iÀ>XKœÊ>ÃÊÀiVœ“i˜`>XªiÃÊ ser apreciado em sede do recém criado Con-
          nova Lei de Bases da Educação (LBE).   das comissões de avaliação externa;  selho Coordenador do Ensino e da Formação
            Estamos perante alterações substanciais   UÊ >˜ÌiÀÊ>ÃÊ>ÌiÀ>XªiÃÊVÕÀÀˆVՏ>ÀiÃʈ˜ÌÀœ`Õ-  recebendo deste parecer favorável. A proposta
          ao ensino superior em todo o espaço euro-  zidas pela reforma 2000 que vieram a colmatar  mereceu entretanto aprovação do Almirante
          peu que deverão estar em plena aplicação em  lacunas existentes em áreas do conhecimento  CEMA, perspectivando-se a sua implementa-
          2010 (com o arranque previsto até 2005), apon-  complementares ao core das funções previstas  ção a partir do ano lectivo de 2004/5.
          tando para o reforço do conceito de aprendiza-  para os oficiais.                                    Z
          gem ao longo da vida (ALV), através de uma   O sistema de ensino proposto visa garantir    C. Viegas Filipe
          estrutura de graus consubstanciada em três  uma maior racionalidade na transmissão dos           VALM
          ciclos de ensino de duração padronizada (li-  conhecimentos, permitindo a redução do im-  Notas
          cenciatura / mestrado / doutoramento),  de  pulso inicial de formação dos oficiais (1º ciclo)   (1) Portaria nº 276/98 de 2 de Maio dos Ministros da
          um novo sistema de créditos curriculares (Eu-  sem perda do conhecimento de base que se re-  Defesa e da Educação
                                                                                (2) Portaria nº 1044/02 de 16 de Agosto, dos Minis-
          ropean Credit Transfer System - ECTS) que fa-  puta como essencial à prossecução de novas   tros da Defesa Nacional e da Ciência e do Ensino Supe-
          cilite a introdução de uma prática pedagógica  aprendizagens ao longo da carreira.  rior (MCES)

         4  SETEMBRO/OUTUBRO 2004 U REVISTA DA ARMADA
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