Page 249 - Revista da Armada
P. 249

tomado e enveredei por um caminho pedre-  um processo longo, que tem como única am-  tam. Para tamanho empreendimento, vou pe-
         goso e, agora, faça o que fizer não consigo  bição a paz. A mesma paz que muitos pro-  dir ajuda, concluirá certamente o leitor anó-
         sair dele – é a perplexidade da Vida (lá está  curam ao longo dos tempos e ainda muitos  nimo, à poderosa Rainha do Mundo. Sem a
         ela outra vez). Preciso, por tudo isto, mais do  procuram, mas poucos encontram…Na ver-  sua ajuda já teria soçobrado a tamanha tem-
         que nunca, da esperança que esta “Rainha do  dade, de tanto a procurar ao longo de anos  pestade.
         Mundo” transporta.                 e anos, criei uma espécie de ilhas fantasmas,   E eu que já escrevi sobre a vida, a morte e o
           A esperança é a seiva que mantém a vida.  refúgios secretos, tão estranhos como a ideia  sofrimento de muitos, decidi hoje escrever so-
         Sem ela ninguém pode sobreviver. Todavia  e a dor de ter um filho doente e internado, há  bre a minha própria intimidade. É uma atitude
         a esperança conquista-se e precisa, regular-  já três longos meses…   intempestiva (e egoísta) da qual espero, desde
         mente, de ser renovada. Se não o conseguir-  Cada um de nós passou por momentos  já, perdão. Na realidade, o âmbito desta histó-
         mos fazer nós próprios, deveriam ser outros a  assim na vida, onde só nos apresentam um  ria, não é só pessoal, nem sequer naval é, sa-
         fazê-lo por nós. Há várias formas de o fazer.  túnel escuro, do qual não se vislumbra a saí-  bem no seu íntimo profundo os meus amigos,
         Por mim, nestes dias tristes, voltei aos lugares  da. Quando um filho adoece, uma parte de  mais amplo – é humano. Sem esta Rainha do
         de outros tempos, que no meu espírito nunca  nós adoece com ele. Achamos que de algum  Mundo, tudo me pareceria hoje mais vazio e
         estão longe. Em noites brancas, silenciosas,  modo poderíamos ter feito melhor e certa-  mais triste, por isso escrevi sobre ela. É destes
         agarro-me, com a força que o espírito permite,  mente preferíamos carregar, inteiramente, o  aconchegos, que se ganha a Vida. Resta-me
         à beleza da música e ao silêncio ruidoso dos  fardo que lhe coube a ele, na ignóbil roleta  acreditar que tudo passa e só ficará (para todo o
         livros e histórias de outros. Nesses silêncios,  russa do sofrimento. No final estamos cansa-  sempre), aquilo de que nos lembrarmos quan-
         paradoxalmente, tudo se apresenta lumino-  dos. Cansados de racionalizar, o irracional  do passar muito, muito, muito tempo…Assim
         so e cristalino, como se cada nota de piano  e sem força para aceitar o inaceitável…Res-  será, também, com estas palavras, que, estou
         viesse directamente do coração de quem a  ta-me apenas procurar, nesta manhã, o meu  certo, encontrarão eco no coração de muitos e
         tocou e cada cenário, de um qualquer livro,  “…castelo longínquo...”, com a maior cama  serão absolutamente incompreendidas por ou-
         ganhasse som cheiro e cor – fazendo parte,  do Mundo, para poder descansar…Vou pre-  tros tantos…São sempre estas as sortes da vida,
         também, da minha realidade. Procuro, nestes  cisar de lançar muitos “…feitiços maus…”,  assim é a fragilidade do homem….
         atalhos, a certeza de que tudo, tudo o que é  para “…transformar em sapos…”, todos os                 Z
         bom e tudo o que é mau, acabará um dia…É  pensamentos angustiantes que me atormen-                  Doc


                                               BIBLIOGRAFIA


            As Fortalezas Marítimas da Figueira da Foz
            As Fortalezas Marítimas da Figueira da Foz


             m cerimónia realizada no final da tarde do dia 19 de Maio, no  da Foz, explicativa das necessidades de defesa e o modo como foram
             Forte de Santa Catarina, e integrada nas Comemorações do Dia  encontradas as soluções. São depois feitas referências, necessáriamente
         Eda Marinha de 2005, foi apresentada a obra “Fortalezas Maríti-  breves, às várias construções militares sucessivamente edificadas, à sua
         mas da Figueira da Foz” da autoria do CMG                              evolução e, no caso de algumas, ao modo
         Rodrigues Pereira.                                                     como desapareceram.
           Na presença de individualidades locais e                               O trabalho apresenta ainda, em anexo, a
         da Marinha, entre as quais se destacavam o                             transcrição de alguns documentos de inte-
         Presidente da Câmara Municipal, Engº. Duar-                            resse relativos aos monumentos estudados e
         te Silva e o Chefe do Estado-Maior da Arma-                            localizados em diversos arquivos.
         da, Almirante Vidal Abreu e após a apresen-                              É interessante recordar, sublinhou o au-
         tação do autor pela vereadora da Cultura,                              tor, que tendo a zona da Figueira da Foz e
         Drª. Teresa Machado, aquele, reportando-se                             de Buarcos sido várias vezes assaltada por
         ao seu trabalho, deu a conhecer o modo de                              corsários ingleses e holandeses no século
         como surgiu a ideia da sua publicação e o                              XVII, esse facto teve importância decisiva na
         respectivo conteúdo.                                                   atenção que os governantes da época deram
           Assim, o Comandante Rodrigues Pereira                                a esta área. Foi efectivamente na Figueira da
         informou que quando em meados de 2003                                  Foz que desembarcaram as forças inglesas
         a Marinha e a Câmara Municipal da Figueira                             em 1808, depois da ocupação do Forte de
         da Foz acordaram nos termos da futura utili-                           Santa Catarina por milícias locais comanda-
         zação do Forte de Santa Catarina, foi convi-                           das pelo académico Zagalo da Universidade
         dado para fazer uma curta intervenção sobre                            de Coimbra. Ainda no século XIX, a Figueira
         aquela construção militar. Após essa inter-                            sofreu outro ataque a partir do mar: as forças
         venção, que teve lugar em Setembro daque-                              liberais assaltaram os Fortes de Santa Catarina
         le ano, surgiu a ideia de a passar por escrito.                        e de Buarcos enfrentando as suas qualidades
         Então houve necessidade não só de rever o                              defensivas. Concluindo que estes fortes são
         texto como também de introduzir dados que                              dos poucos que foram submetidos a prova de
         os condicionalismos de uma intervenção oral                            fogo real pois a maioria das fortalezas maríti-
         tinham obrigado a eliminar. O texto foi revisto e aumentado, obtiveram-  mas portuguesas tiveram apenas uma acção dissuasora.
         -se fotografias e passados quase dois anos de trabalhos da Divisão Cul-  O Comandante Rodrigues Pereira terminou as suas palavras agrade-
         tural do Municipio concluiu-se a sua publicação.     cendo às entidades que apoiaram a edição do livro, nomea damente
           Referindo-se à obra esclareceu que a mesma se inicia com uma abor-  o Chefe do Estado-Maior da Armada e o Presidente da Câmara e à
         dagem das origens da defesa marítima das costas portuguesas, perante  Drª. Ana Paula Cardoso da Divisão de Cultura pela sua participação
         as sucessivas ameaças a que estiveram sujeitas ao longo da História, res-  na fase de elaboração e revisão dos textos e selec ção das gravuras.
         saltando as evoluções técnologicas que foram sofrendo. Segue-se uma   Seguiu-se a habitual sessão de autógrafos.
         curta análise da situação na área geográfica do Concelho da Figueira                                   Z
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U JULHO 2005  31
   244   245   246   247   248   249   250   251   252   253   254