Page 285 - Revista da Armada
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porque os sente mais próximos do desen-  e na desgraça, de uma forma ímpar e ines-  E o que ao Doc mais falta faz é arte. Arte
         canto, que impregna o seu sentir mais ín-  quecível. Há dívidas que nunca serão pagas,  para saber cantar o som da ansiedade ex-
         timo…Outra razão, e o Doc tentou dizê-lo  assim o sente o Doc em relação aos que sem-  pressa nos passos ritmados dos doentes,
         muitas vezes, é a de que quem luta com o  pre o souberam apoiar e que se contam hoje  nos corredores dos hospitais. Arte para
         mundo, por ideais da razão ou do coração,  entre os seus mais íntimos amigos…  construir a esperança que há no sorriso,
         seja de que modo for, tem sempre grande va-  Parou neste ponto, para atravessar um de-  desdentado, dos moribundos. Arte, final-
         lor e será sempre mais rico, como pessoa…E  serto de três semanas, o curso deste relato,  mente, para acreditar que a diferença vale
         estes, que muitas vezes são maltratados pe-  que, até aqui, parecia mais um documentá-  a pena e que toda a riqueza do mundo é
         los seus próprios pares, pelas circunstâncias  rio factual e exacto…Ora o Doc, que não sou  menor que o sentimento…E se o Doc fosse
         da vida, ou por um destino cego e cruel que  eu, sabia que faltava o fundamental. Faltava a  poeta…Se o Doc fosse poeta, cantaria ain-
         os não poupou, saíram, através da RA, de  emoção. É que tudo o que está para trás é ver-  da mais a alegria dos grumetes no apito das
         um silêncio anónimo, eivado das melhores  dade, mas nada, nada mesmo, seria possível  licenças, o som suave do casco, contra o
         emoções e ideais que o ser humano pode  se não houvesse poesia – a mais suprema das  bater da onda, o calor do Equador distante
         produzir, para um público que – as mais das  artes. Nada seria escrito, se não se sentisse o  e as vozes de uma língua perdida, naque-
         vezes – os compreendeu e amou.     fresco da madrugada, ou o silêncio da noite.  le mar austral, bem junto ao Timor longín-
           Neste, já longo, caminho cruzaram-se  Se não se soubesse ler o canto do melro, na  quo. Mas o Doc não é poeta, nem eu, que
         muitas pessoas e algumas vontades. Dos  árvore mais próxima. Nada teria forma se não  sou apenas médico, mas os dois, eu e ele,
         amigos, haverá sempre o Comandante Sousa  se soubesse da imensidade do mar em dia de  procuramos a poesia que há na vida. È
         Machado, o Grande Ilustrador. Homem rijo,  tempestade, ou se não compreendêssemos as  esse o prazer da escrita para o Doc, é esta
         de um tempo em que os homens tinham ver-  mensagens, lidas na nortada do fim da tarde,  a sua verdadeira paixão, é esta, por fim, a
         gonha. Homem destemido, governador das  que nos falam de lugares longínquos – em  verdadeira génese das Histórias da Botica.
         “Terras do Fim do Mundo”, em Angola. Ar-  tempos também Portugal – onde os homens  À RA, e a quem a representa, ficará, para
         tista de renome, cuja obra ilustrará para sem-  são escuros, o dia é claro e mulheres, semi-  sempre, associada a ousadia de ter permi-
         pre mais, muito mais, que as páginas da RA.  desnudas, se oferecem, num pecado, que não  tido tal desígnio, para a qual, mais a mim
         A sua obra dará corpo, estou certo, para as  sentem, a marinheiros de um passado, que  do que ao Doc, faltam palavras para o de-
         gerações vindouras ao imaginário da Mari-  sempre nos assombrará…porque sempre nos  vido reconhecimento…
         nha. Mas existem muitos outros, que ao lon-  encontrámos, como Nação, na aventura, na                 Z
         go deste tempo encorajaram o Doc, no êxito  coragem e na distância…                           Doc e eu…



                            A CAPELA DE S. ROQUE
                             A CAPELA DE S. ROQUE


             scassos e dispersos são os escritos, na maioria simples apon-  de referência da Capela que foi erigida por vontade dos genuínos
             tamentos, sobre a Capela do Antigo Arsenal de Marinha, hoje  descendentes das gerações construtoras das caravelas e das naus
         Evulgarmente conhecida por Capela de S. Roque.       que sulcaram os mares nunca dantes navegados e que hoje é ver-
           Recentemente, ao ter-se                                                        dadeiramente a Capela da
         conhecimento de um traba-                                                        Marinha.
         lho relativo a este valioso                                                     Foto SAR FZ Silva  Seguidamente a Professora
         componente do património                                                         Isabel Mendonça, Directora
         histórico da Marinha, a Co-                                                      da Escola Superior de Artes
         missão Cultural logo se dis-                                                     Decorativas, fez a apresen-
         ponibilizou a levar a efeito a                                                   tação do livro, referindo-se,
         respectiva edição.                                                               em pormenor, não só aos
           Assim, no passado dia 22                                                       elementos decorativos que
         de Junho, na Biblioteca Cen-                                                     constituem o acervo da Ca-
         tral da Marinha foi apresen-                                                     pela como também aos ar-
         tada a obra “A Capela de S.                                                      tistas que os conceberam,
         Roque no Real Arsenal da                                                         tendo concluído que perante
         Ribeira das Naus”, da autoria                                                    a obra acabada, pode afirmar-
         da Drª Maria Luísa Oliveira                                                      -se, sem receio de contradita,
         Guimarães e que constitui a                                                      que o objectivo foi alcança-
         tese da sua licenciatura em                                                      do: de futuro todas as inves-
         Artes Decorativas.                                                               tigações sobre a Capela do
           O evento foi iniciado pelo Presidente da Comissão Cultural,                Arsenal, as peças decorativas que
         CALM Leiria Pinto que afirmou: o trabalho publicado não se cir-               encerra e a Confraria que nela es-
         cunscreve apenas ao seu objectivo principal – o estudo da orna-              teve sedeada, terão como referên-
         mentação e do acervo artístico e documental da Capela de S. Roque            cia incontornável este trabalho
         – também historia a reconstrução da Baixa Pombalina e a inserção             inovador.
         e a integração do edifício da Capela do Real Arsenal, uma das pri-             Por fim, a autora do livro expres-
         meiras infraestruturas a ser construída após o terramoto, tal a im-          sou o seu reconhecido agradeci-
         portância para a época de Portugal como nação marítima. Igual-               mento a todos os que tornaram
         mente o culto ao Santo e à sua Irmandade de Carpinteiros Navais              possível a realização do trabalho
         estão descritos, sendo apresentada em anexo uma importante do-               e fez vários comentários, perante
         cumentação inédita relativa aos dois temas.          imagens projectadas de alguns componentes do acervo ornamen-
           Depois de dar a conhecer uma breve sintese biográfica da au-  tal estudado.
         tora do livro, o CALM Leiria Pinto, em nome da Marinha, felicitou                                     Z
         a Drª Maria Luísa Guimarães pelo seu belo trabalho, um estudo            (Colaboração da Comissão Cultural da Marinha)

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