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Cães de guerra e de paz
                            Cães de guerra e de paz

           A Escola de Fuzileiros é uma referência  obtenção de inúmeros prémios em concursos,  «marcham» para a GNR, com os respectivos
         obrigatória no panorama da canicultura  como foram os casos da cadela «Mira» e do  tratadores, para frequentarem o «Curso Cino-
         nacional. Mas não ficou por aqui, hoje a   «Xangai» (ver caixa).       técnico de Busca e detecção de Droga». Desde
         sua secção de cães colabora no combate a   Posteriormente no início dos anos 80 foi ce-  então o Corpo de Fuzileiros tem respondido a
         dois dos flagelos do nosso século: a droga   dido à EF um casal de cães da raça Castro La-  inúmeras solicitações de buscas em unidades
         e o terrorismo.                    boreiro. O desenvolvimento desta raça registou  navais e em terra. Felizmente os resultados têm
                                            mais um êxito, produzindo-se então excelentes  sido na sua maioria negativos, mas há a registar
               os finais dos anos 70 a Escola de Fu-  exemplares que reuniram as mais interessantes  algumas capturas de substâncias ilícitas.
               zileiros (EF) acolheu os                                                    Mais recentemente − já no
         Nprimeiros cães, com o                                                           presente século − foi entendi-
         propósito de estes gradualmen-                                                   do passar-se a dispor da capa-
         te poderem reforçar o serviço                                                    cidade para detecção de enge-
         de vigilância e guardas, num                                                     nhos explosivos improvisados,
         período em que já se faziam                                                      através da utilização de cães.
         sentir algumas carências a nível                                                 Para esse efeito foram adquiri-
         de pessoal.                                                                      das duas cadelas da raça Pastor
           Esta iniciativa originou a cria-                                               Belga − conhecida pela sua na-
         ção na EF de cães da raça Serra                                                  tural sensibilidade para sinalizar
         da Estrela, com tal sucesso que,                                                 explosivos − que frequentaram
         anos mais tarde, aquela unida-                                                   o competente curso na GNR. A
         de foi considerada pelo Clu-                                                     utilização destes animais tem
         be Português do Cão da Serra                                                     sido uma constante, nomeada-
         da Estrela (CPCSE), como um                                                      mente no apoio a cerimónias
         dos santuários desta raça. Foi                                                   públicas, espectáculos e outros
         inclusive, no mesmo período,   Da esquerda para a direita: a Zara, a Nina, o Nero e a York com os seus tratadores.  eventos. Actualmente a Mari-
         realizado pelo CPCSE um fil-                                                      nha dispõe de 4 cães para traba-
         me de propaganda com a colaboração da EF  características do estalão da raça − formato da  lhar na área da droga e 2 nos explosivos.
         e do Engenheiro Sousa Veloso, na altura am-  cabeça, inserção das orelhas, tipo e cor da pe-  Mas a criação de cães na Escola de Fuzilei-
         plamente divulgado na RTP. Foram vários os  lagem, etc. − com realce para o «Lego» que  ros deu recentemente mais uma vez os seus
         exemplares desta raça que se destacaram pela  arrecadou numerosos troféus. Poucos anos vol-  frutos. Assim, dois cachorros filhos da cadela
                                                    vidos os «fuzos» receberam então  Pastor Belga Mali já se encontram a efectuar
                   «Xangai», o Campeão              Cães de Água Portugueses − numa  trabalho específico de preparação para a fre-
                                                    altura em que esta raça se encon-  quência de cursos mais avançados.
          Uma das capas mais conhecidas da RA é sem dúvida a do seu
        nº 151 (ABR84), que apresenta a fotografia do Serra da Estrela «Xan-  trava ameaçada de extinção − atra-
        gai» com o seu tratador −  CAB FZ Bastos. O «Xangai» − que «assen-  vés da contribuição de uma grande   NO FUTURO OS CÃES DEVEM
        tou» praça nos fuzileiros aos quatro meses − foi largamente noticia-  criadora: Carla Molinari.  VOLTAR A PATRULHAR AS UNIDADES
        do na imprensa, nomeadamente nos diários «A Capital» e «Correio
        da Manhã», respectivamente em 3 e 6 de Março de 1984. Não era   NOVAS FUNÇÕES PARA   A RA teve então a oportunidade de visitar
        para menos, pois o nosso Serra da Estrela era apresentado como um      os cães da EF, instalados na sua extremidade
        verdadeiro campeão das raças portuguesas. Palmarés não lhe faltava:   OS CÃES: DETECÇÃO DE
        55 taças, 23 prémios de raça, 38 medalhas, salva de prata de adestra-  DROGA E EXPLOSIVOS  SE, numa pacata zona de arvoredo, dotados
        mento e um sem fim de certificados em concursos nacionais. Tinha         de excelentes condições e actualmente em
        ainda conquistado na exposição da Guarda, aberta a cães Serra da   Chegou-se então à década de 90  remodelação. Existem seis tratadores − com
        Estrela, o primeiro prémio de adestramento. Um dos seus filhos, o   com cerca de 30 cães, num perío-  habilitação em detecção e busca, de droga e
        «Taiko» foi também outro campeão, que seria oferecido ao General   do em que a EF era um parceiro  explosivos. Diariamente os cães fazem o seu
        Melo Egídio. Para a história fica ainda uma entrevista dada ao tempo
        pelo então CTEN SEF Salgado Soares, Segundo Comandante da EF,   importante para o apuramento  passeio e três vezes por semana executam trei-
        ao diário «A Capital» onde se lê em determinada altura: «…Aquele   das raças nacionais, constituindo  no específico na sua especialidade.
        oficial considera que o emprego de cães bem treinados desempe-  ainda um mostruário canino per-  Como é da praxe assistiu-se a várias demons-
        nha com vantagem, nas missões de defesa e segurança, sobretudo   manente, se tivermos em conta  trações, com realce para a «Quinas» uma ca-
        em termos de custo, as funções de seis homens…».
                                                    os milhares de visitantes que esta  dela Labrador, que não teve dificuldade em en-
                                                    unidade recebia regularmente. Foi  contrar o «isco» com cheiro a droga, premiada
                                                    também a altura em que se come-  no final com o seu brinquedo favorito. Curiosa
                                                    çaram a sentir dificuldades finan-  foi a maneira como a «Mali», reagiu ao detec-
                                                    ceiras na manutenção dos caníde-  tar um explosivo: sentou-se tranquilamente!
                                                    os, bem como na área de recursos   Segundo o CMG João Pires Carmona −
                                                    humanos.                   comandante da EF − os cães pelo trabalho e
                                                      A Marinha inicia então um pla-  resultados já conseguidos justificam plena-
                                                    no concertado destinado ao com-  mente toda a despesa e cuidados que acarre-
                                                    bate e prevenção da droga, que  tam. No futuro, sublinha aquele oficial, deve
                                                    consistia na utilização de cães, à  prosseguir -se com a aposta na utilização dos
                                                    semelhança daquilo que já se fa-  cães no patrulhamento das Unidades Navais,
                                                    zia na Guarda Nacional Republi-  recriando -se de novo o conceito do binómio
                                                    cana (GNR), o que lhe iria permitir  homem/cão para defesa imediata.
                                                    ganhar autonomia nesta área. As-                           Z
                                                    sim em meados dos anos 90, dois               Abel Melo e Sousa
                                                    exemplares da raça Cães de Água                        CFR REF

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