Page 196 - Revista da Armada
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A propósito de…
A propósito de…
Orientação
Orientação
A lhores atletas da Marinha foram os melhores do Exército que apoiaram os primeiros traba-
propósito da homenagem que os ca-
maradas quiseram fazer ao Sarg. Luís alunos dos cursos de natureza profissional, lho de campo em Aveiras de Cima.
A história da Marinha nestes campeona-
destacando os resultados por si obtidos que foram frequentando ao longo da sua car-
como atleta de Orientação, julgo ser oportuno reira militar. Esta realidade não pode ser vista tos militares foi sempre de uma participação
escrever algo sobre esta modalidade, e a res- como uma coincidência mas como corolário digna, em grande parte pela contribuição da
ponsabilidade que a Marinha teve em todo o do que atrás foi dito. Escola de Fuzileiros, que passou a incluir a
processo que caracterizou o seu desenvolvi- Orientação nos planos de curso. Este consti-
mento e a implantação no meio civil. Ciente NAS FORÇAS ARMADAS tuiu sem dúvida um marco importante para
que há matéria para muito mais, vou apenas o aumento qualitativo na formação dos nossos
cingir-me aos aspectos mais importantes, por A inegável importância que a Orientação militares, tanto no campo profissional como
não haver aqui espaço ou cabimento para uma tem na formação técnico-militar do combaten- desportivo.
abordagem mais detalhada. te atraiu a atenção da então Comissão de Edu-
cação Física e Desportos das Forças Armadas, NA MARINHA
O QUE É A MODALIDADE que no limiar da década de 70 decidiu intro-
DE ORIENTAÇÃO duzir a modalidade nos campeonatos milita- A Marinha, à semelhança do que se passou
res. Este esforço valeu a realização em Mafra na história de outras modalidades, teve um
Um mapa e uma bússola é quanto basta em 1973 do primeiro campeonato apenas com papel preponderante no desenvolvimento da
para a prática desta modalidade. Um percurso a participação do Exército e da Marinha. Após Orientação e sua implantação no meio civil.
marcado no mapa e a vontade Enquanto que dentro da Ma-
de o efectuar é o suficiente para rinha a componente desporti-
que de forma lúdica ou compe- va é justificada, entre outras,
titiva, a pé ou nos mais variados pela razão da sua importância
meios de deslocação darmos na formação técnico-militar do
corpo à modalidade desportiva combatente, no meio civil as po-
de Orientação. tencialidades desta modalida-
A componente intelectual que de conferem-lhe um papel de
lhe está associada de forma de- relevo na vertente pedagógica
terminante confere à Orientação aplicada às escolas, nas verten-
características únicas. O papel tes lúdica, turística, ecológica e
fundamental que a fadiga física de segurança nas matas.
tem na velocidade e qualidade Julgo que a qualidade de for-
de raciocínio, não permite que mação dos nossos militares no
em Orientação o esforço físico ramo de educação física, com
atinja limites inaceitáveis den- uma visão do desporto não ape-
tro do pleno conceito de prática nas militar – de forma restritiva,
O SAR Marques Luís numa prova de orientação.
desportiva e a sua relação com global e abrangente – foi fun-
a condição humana. As valências intelectual e um interregno de um ano a realização dos fu- damental para catapultar a Orientação para o
física, a ausência de pressão exterior ao atleta, e turos campeonatos contou já com a participa- meio civil. A escolha do local de formação, o
a natureza como cenário de prática, constituem ção sucessiva da Força Aérea, GNR, Guarda ISEF para oficiais e o CEFA para praças, con-
as características mais marcantes e gratificantes Fiscal e PSP. A integração no Conseil Interna- tribuiu indiscutivelmente para uma sensibili-
da modalidade. A pessoa vale por si e apenas cional du Sport Militaire (CISM) e consequente zação dos seus militares, que extravasou para
dela depende e da natureza que a rodeia. motivação dos militares, desempenhou um o meio civil em diversos campos no plano des-
A vertente competitiva está ligada ao de- papel decisivo no aumento qualitativo nesta portivo nacional.
sempenho, devendo o atleta efectuar um per- vertente militar. No plano interno a sensibilização para a
curso marcado no mapa no mais curto espa- A diferença abismal entre os nossos atletas importância da Orientação veio promover o
ço de tempo, numa sequência obrigatória de e os da grande maioria dos outros países mo- investimento na qualidade de ensino elabo-
pontos no terreno, com trajectos opcionais para tivou uma paragem nessa participação para rando-se então o pioneiro mapa da Macha-
atingir cada um deles. Em competição o equi- definir objectivos e estratégias. Assim, com a da. Não cabendo aqui a descrição da forma
líbrio entre a componente física e técnica, é de- realização no Brasil em 1983 de mais um cam- como este mapa foi elaborado, pode dizer-se
terminante na performance do atleta. Assim, peonato, foi decidido aí mandar uma delega- que constituiu um marco na viragem do ensi-
sabendo-se que a 140 pulsações por minuto ção constituída por três militares representan- no da modalidade. O investimento no ensino,
o raciocínio é três vezes mais lento, os níveis tes dos três ramos tendo em vista a observação e a aposta na qualidade da massa humana que
de esforço são um compromisso permanente cuidada e elaboração de um relatório conten- integra os nossos quadros, trouxe à Marinha
com a actividade intelectual, dadas as exigên- do as sugestões necessárias para o desenvol- cada vez melhores resultados nos campeona-
cias da leitura do mapa e da escolha opcional vimento da modalidade e futuras representa- tos, o que permitiu discutir a vitória em qual-
de trajectos. ções. Esta delegação, à qual tive o grato prazer quer prova, contrariando a anterior hegemonia
A componente técnica envolve a leitura de de integrar, elaborou uma proposta de acção da Força Aérea. Desta forma, foi-lhe sendo re-
mapas, memória visual, técnica, estabilidade daí resultando um conjunto de acções das conhecido prestígio pela qualidade de forma-
e velocidade de raciocínio. Estes aspectos que quais se destaca a necessidade de elaboração ção dos seus quadros.
igualmente se treinam constituem, mais que a de mapas de orientação adequados à prática A Marinha foi pioneira na organização de
componente prática, qualidades inatas e mar- da modalidade, sem as quais era impensável cursos de cartografia nas suas unidades, em
cam toda a diferença em competição. Permito- qualquer evolução significativa. Neste proces- que técnicos suecos eram os prelectores e mi-
-me aqui fazer um aparte e referir que os me- so foram envolvidos os Serviços Cartográficos litares de todos os ramos os alunos. Também
14 JUNHO 2008 U REVISTA DA ARMADA