Page 8 - Revista da Armada
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O PROCESSO DE MUDANÇA NA MARINHA
O PROCESSO DE MUDANÇA NA MARINHA
areceu-nos adequado abordar, hoje, por certo, de influenciar o ser e o estar da em proveito próprio e, neste sentido, com a
nesta nossa Revista da Armada, de “coisa militar”. defesa da soberania e da jurisdição marítima
Pforma necessariamente breve e con- O grande objectivo será o reequacionar sobre os espaços de responsabilidade nacio-
tida, a problemática da “Mudança na Ma- de tudo: missões, orgânica, instrução, dou- nal; com a exploração económica dos seus
rinha”. Trata-se de um tema actual, de que trina, equipamento e tecnologia, bem como, recursos, a liberdade e segurança das co-
muito se fala e que por isso mesmo con- o pugnar por uma maior flexibilização de es- municações marítimas; e, ainda, com a uti-
siderámos conveniente contextualizá-lo truturas e organizações, em simultâneo com lização do mar e do navio como plataforma
melhor na sua matriz de base, de concei- uma mais conseguida agilização de proces- para influenciar os acontecimentos em terra,
tos e princípios enquadradores. Este, pois, sos e uma mais necessária e fluida relação onde e quando necessário.
o nosso propósito! interdepartamental. Será pois, neste preciso contexto que o
Na realidade é comum ouvir falar-se da Do nosso ponto de vista este entendimen- poder naval poderá ser chamado a desem-
“Transformação nas Forças Armadas” e se- to representa mesmo a necessidade de um penhar uma diversidade enorme de papéis
quentemente questionar os ramos sobre os envolvimento político bem mais próximo e tarefas de que a Marinha sempre se en-
seus projectos e programas com vista a uma e presente do que em qualquer das outras carregou, e encarregará, atentos alguns dos
sua concretização efectiva. Mas, a par de modalidades referidas, de “adaptação”, ou seus principais atributos, de versatilidade e
“Transformação” igualmente se ouve falar “modernização”, onde o envolvimento téc- flexibilidade, de manobralidade e sustenta-
em “Reestruturação”, em “Racionalização”, nico e militar será quase sempre condição bilidade.
em “Adaptação”, em “Modernização” das bastante e suficiente. Para tanto, bastará ao País ter uma Mari-
Forças Armadas (FA) e tantas vezes sem cui- Feito este pequeno enquadramento en- nha de Guerra oceânica e uma firme vontade
dar de saber o que isso possa representar, contrar-nos-emos melhor posicionados para de a utilizar. Daí o afirmarmos que qualquer
em termos de organização e processo de olhar, agora, o processo de mudança na processo de mudança na Marinha, qualquer
mudança da “coisa” militar. Marinha que, nas suas diversas vertentes de que seja a modalidade de que se possa re-
E será que todos estes termos quererão “adaptação”, “modernização” e “transfor- vestir, não poderá deixar de atender, tam-
signi ficar uma mesma coisa? mação”, vem sendo desenvolvido, pratica- bém ele, a este outro princípio-base de que
De acordo com o dicionário, o termo mente desde 1976/77. o País precisa e quer, de facto, ter umas FA,
“Transformação” tem a ver com o acto de Na realidade, poderemos aí situar o iní- ter uma Marinha, porque se assim não for,
transfigurar, de dar uma forma nova, de al- cio do nosso último processo de mudança, tudo o que se faça no sentido da mudança
terar qualquer coisa. Enquanto que “Adap- o qual, como todo o processo de mudan- poderá ser em pura perda.
tação” significa o ajustamento a uma nova ça nas FA, não poderá, por nunca, deixar Posto isto, começaríamos, então, a nossa
realidade, pôr em harmonia com novas con- de atender ao “Meio” onde se actua, aos observação pelo período que considerámos
dições, aclimatar-se a uma nova situação. Por “Meios” que se operam e à “Tecnologia” de “Adaptação”, o qual, do nosso ponto de
outro lado, o termo “Modernização” impli- que se utiliza. Mas não só! Igualmente terá vista, teve o seu início por volta de 1977, ter-
ca a acção de tornar moderno, de adequar a que atender à “Finalidade” que se prossegue, minado que foi o tempo das longas estações
uma nova moda, a usos e costumes de uma ao tipo de “Missão” que se cumpre, à “Or- em África, com o ajustamento da estrutura
nova época. Deste modo, fácil será consta- ganização” que se preenche e, bem assim, de força da Marinha a um tempo e espaço
tar que apesar da palavra “nova” constituir, ao “desempenho operacional” que, no caso outros, de vivência e intervenção. Como
aqui, o denominador comum, as pequenas da Marinha, mais não é do que o tal serviço exemplos ilustrativos deste período apenas
diferenças encontradas, pouca, ou nenhuma que o ramo oferece e presta 24H por dia, dois. Um, relativo aos “Navios”, em especial,
importância terão numa lógica, somente, de 365 dias por ano. às Fragatas e às Corvetas que, de um certo
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significado literal. Mas, em termos militares Como costumamos dizer a Marinha (e modo independente, actuavam em África e
não será bem assim. os ramos) confrontam-se diariamente com que, por isso, mais do que quaisquer outros
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De facto, autores há que consideram que a sua natureza e a própria essência da sua meios navais, foram objecto de processos de
o termo “Adaptação” tem a ver, apenas, com razão de ser. ajustamento das respectivas organizações in-
o reajustamento dos meios a missões que, Por economia de espaço não nos será ternas e sujeitos a períodos de treino especí-
em substância, em nada se alteraram; en- possível abordar com alguma profundidade fico, por forma a poderem operar integrados
quanto que a palavra “Modernização” su- e desenvolvimento todos estes aspectos. No em Forças Navais Operacionais.
bentenderá já uma determinada melhoria entanto, sobre a “Missão” da Marinha, so- A “Força Naval Operacional Permanen-
de meios, num cenário em que as missões bre a sua razão de ser gostaria de sublinhar te”, a FORNAVOP, assim conhecida, e o
se mantêm igualmente inalteráveis. No que um, ou outro aspecto mais, que reputamos trabalho por ela desenvolvido é, no nosso
respeita ao termo “Transformação” o enten- da maior importância, na contextualização entendimento, um muito bom exemplo do
dimento mais comum vai, porém, no sentido do tema e que nem sempre é bem compre- que se fez nesta matéria.
da existência de uma mudança bem mais ra- endido. Tem a ver com o carácter expedi- Um outro exemplo, tem a ver com a re-
dical e profunda. Na sua génese estará implí- conário de que as forças, hoje, se revestem, conversão dos “Fuzileiros” que deixaram de
cita, pois, a tal “forma nova” do significado relacionado com o facto da defesa dos inte- se organizar em unidades de fuzileiros au-
literal, de que acima falávamos, e isso, se- resses do país se fazer longe do território na- tónomas – Destacamentos ou Companhias
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gundo António Telo , quererá mesmo dizer cional e das suas fronteiras de soberania. E, - para passarem a ser integrados numa estru-
uma “forma nova de fazer a guerra”, muito também, com a expressão “novas missões” tura mais tradicional e permanente, embora
marcada pela “Revolução nos Assuntos Mi- que vulgarmente vem sendo utilizada e que ligeira, de Corpo de Fuzileiros com os seus
litares” (RAM) e pela “Era da informação e de “novo”, do nosso ponto de vista, nada órgãos próprios de Comando e Estado-Maior,
do conhecimento”. Mas também, pela tec- acrescenta à missão da Marinha. De facto, as suas unidades de manobra e de apoio de
nologia e os avanços verificados, por novos a projecção de força e o carácter expedicio- combate e serviços.
meios, sistemas de armas e equipamentos, nário que lhe está subjacente é mesmo da Quanto ao período que apelidámos de
por menos militares profissionais e ainda sua própria essência, enquanto objecto do “Modernização” coincidiu ele, de algu-
por um tempo de inovação e por uma cul- poder naval. Tanto assim que os seus objec- ma maneira, com a entrada ao serviço, em
tura de pró-actividade que não deixarão, tivos sempre tiveram a ver com o uso do mar 1990/91, de novos meios navais, os quais
6 JANEIRO 2009 U REVISTA DA ARMADA