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O PROCESSO DE MUDANÇA NA MARINHA
            O PROCESSO DE MUDANÇA NA MARINHA

             areceu-nos adequado abordar, hoje,  por certo, de influenciar o ser e o estar da  em proveito próprio e, neste sentido, com a
             nesta nossa Revista da Armada, de  “coisa militar”.               defesa da soberania e da jurisdição marítima
         Pforma necessariamente breve e con-  O grande objectivo será o reequacionar  sobre os espaços de responsabilidade nacio-
         tida, a problemática da “Mudança na Ma-  de tudo: missões, orgânica, instrução, dou-  nal; com a exploração económica dos seus
         rinha”. Trata-se de um tema actual, de que  trina, equipamento e tecnologia, bem como,  recursos, a liberdade e segurança das co-
         muito se fala e que por isso mesmo con-  o pugnar por uma maior flexibilização de es-  municações marítimas; e, ainda, com a uti-
         siderámos conveniente contextualizá-lo  truturas e organizações, em simultâneo com  lização do mar e do navio como plataforma
         melhor na sua matriz de base, de concei-  uma mais conseguida agilização de proces-  para influenciar os acontecimentos em terra,
         tos e princípios enquadradores. Este, pois,  sos e uma mais necessária e fluida relação  onde e quando necessário.
         o nosso propósito!                 interdepartamental.                  Será pois, neste preciso contexto que o
           Na realidade é comum ouvir falar-se da   Do nosso ponto de vista este entendimen-  poder naval poderá ser chamado a desem-
         “Transformação nas Forças Armadas” e se-  to representa mesmo a necessidade de um  penhar uma diversidade enorme de papéis
         quentemente questionar os ramos sobre os  envolvimento político bem mais próximo  e tarefas de que a Marinha sempre se en-
         seus projectos e programas com vista a uma  e presente do que em qualquer das outras  carregou, e encarregará, atentos alguns dos
         sua concretização efectiva. Mas, a par de  modalidades referidas, de “adaptação”, ou  seus principais atributos, de versatilidade e
         “Transformação” igualmente se ouve falar  “modernização”, onde o envolvimento téc-  flexibilidade, de manobralidade e sustenta-
         em “Reestruturação”, em “Racionalização”,  nico e militar será quase sempre condição  bilidade.
         em “Adaptação”, em “Modernização” das  bastante e suficiente.            Para tanto, bastará ao País ter uma Mari-
         Forças Armadas (FA) e tantas vezes sem cui-  Feito este pequeno enquadramento en-  nha de Guerra oceânica e uma firme vontade
         dar de saber o que isso possa representar,  contrar-nos-emos melhor posicionados para  de a utilizar. Daí o afirmarmos que qualquer
         em termos de organização e processo de  olhar, agora, o processo de mudança na  processo de mudança na Marinha, qualquer
         mudança da “coisa” militar.        Marinha que, nas suas diversas vertentes de  que seja a modalidade de que se possa re-
           E será que todos estes termos quererão  “adaptação”, “modernização” e “transfor-  vestir, não poderá deixar de atender, tam-
         signi ficar uma mesma coisa?        mação”, vem sendo desenvolvido, pratica-  bém ele, a este outro princípio-base de que
           De acordo com o dicionário, o termo  mente desde 1976/77.           o País precisa e quer, de facto, ter umas FA,
         “Transformação” tem a ver com o acto de   Na realidade, poderemos aí situar o iní-  ter uma Marinha, porque se assim não for,
         transfigurar, de dar uma forma nova, de al-  cio do nosso último processo de mudança,  tudo o que se faça no sentido da mudança
         terar qualquer coisa. Enquanto que “Adap-  o qual, como todo o processo de mudan-  poderá ser em pura perda.
         tação” significa o ajustamento a uma nova  ça nas FA, não poderá, por nunca, deixar   Posto isto, começaríamos, então, a nossa
         realidade, pôr em harmonia com novas con-  de atender ao “Meio” onde se actua, aos  observação pelo período que considerámos
         dições, aclimatar-se a uma nova situação. Por  “Meios” que se operam e à “Tecnologia”  de “Adaptação”, o qual, do nosso ponto de
         outro lado, o termo “Modernização” impli-  que se utiliza. Mas não só! Igualmente terá  vista, teve o seu início por volta de 1977, ter-
         ca a acção de tornar moderno, de adequar a  que atender à “Finalidade” que se prossegue,  minado que foi o tempo das longas estações
         uma nova moda, a usos e costumes de uma  ao tipo de “Missão” que se cumpre, à “Or-  em África, com o ajustamento da estrutura
         nova época. Deste modo, fácil será consta-  ganização” que se preenche e, bem assim,  de força da Marinha a um tempo e espaço
         tar que apesar da palavra “nova” constituir,  ao “desempenho operacional” que, no caso  outros, de vivência e intervenção. Como
         aqui, o denominador comum, as pequenas  da Marinha, mais não é do que o tal serviço  exemplos ilustrativos deste período apenas
         diferenças encontradas, pouca, ou nenhuma  que o ramo oferece e presta 24H por dia,  dois. Um, relativo aos “Navios”, em especial,
         importância terão numa lógica, somente, de  365 dias por ano.         às Fragatas e às Corvetas que, de um certo
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         significado literal. Mas, em termos militares   Como costumamos dizer  a Marinha (e  modo independente, actuavam em África e
         não será bem assim.                os ramos) confrontam-se diariamente com  que, por isso, mais do que quaisquer outros
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           De facto, autores  há que consideram que  a sua natureza e a própria essência da sua  meios navais, foram objecto de processos de
         o termo “Adaptação” tem a ver, apenas, com  razão de ser.             ajustamento das respectivas organizações in-
         o reajustamento dos meios a missões que,   Por economia de espaço não nos será  ternas e sujeitos a períodos de treino especí-
         em substância, em nada se alteraram; en-  possível abordar com alguma profundidade  fico, por forma a poderem operar integrados
         quanto que a palavra “Modernização” su-  e desenvolvimento todos estes aspectos. No  em Forças Navais Operacionais.
         bentenderá já uma determinada melhoria  entanto, sobre a “Missão” da Marinha, so-  A  “Força Naval Operacional Permanen-
         de meios, num cenário em que as missões  bre a sua razão de ser gostaria de sublinhar  te”, a FORNAVOP, assim conhecida, e o
         se mantêm igualmente inalteráveis. No que  um, ou outro aspecto mais, que reputamos  trabalho por ela desenvolvido é, no nosso
         respeita ao termo “Transformação” o enten-  da maior importância, na contextualização  entendimento, um muito bom exemplo do
         dimento mais comum vai, porém, no sentido  do tema e que nem sempre é bem compre-  que se fez nesta matéria.
         da existência de uma mudança bem mais ra-  endido. Tem a ver com o carácter expedi-  Um outro exemplo, tem a ver com a re-
         dical e profunda. Na sua génese estará implí-  conário de que as forças, hoje, se revestem,  conversão dos “Fuzileiros” que deixaram de
         cita, pois, a tal “forma nova” do significado  relacionado com o facto da defesa dos inte-  se organizar em unidades de fuzileiros au-
         literal, de que acima falávamos, e isso, se-  resses do país se fazer longe do território na-  tónomas – Destacamentos ou Companhias
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         gundo António Telo , quererá mesmo dizer  cional e das suas fronteiras de soberania. E,  - para passarem a ser integrados numa estru-
         uma “forma nova de fazer a guerra”, muito  também, com a expressão “novas missões”  tura mais tradicional e permanente, embora
         marcada pela “Revolução nos Assuntos Mi-  que vulgarmente vem sendo utilizada e que  ligeira, de Corpo de Fuzileiros com os seus
         litares” (RAM) e pela “Era da informação e  de “novo”, do nosso ponto de vista, nada  órgãos próprios de Comando e Estado-Maior,
         do conhecimento”. Mas também, pela tec-  acrescenta à missão da Marinha. De facto,  as suas unidades de manobra e de apoio de
         nologia e os avanços verificados, por novos  a projecção de força e o carácter expedicio-  combate e serviços.
         meios, sistemas de armas e equipamentos,  nário que lhe está subjacente é mesmo da   Quanto ao período que apelidámos de
         por menos militares profissionais e ainda  sua própria essência, enquanto objecto do  “Modernização” coincidiu ele, de algu-
         por um tempo de inovação e por uma cul-  poder naval. Tanto assim que os seus objec-  ma maneira, com a entrada ao serviço, em
         tura de pró-actividade que não deixarão,  tivos sempre tiveram a ver com o uso do mar  1990/91, de novos meios navais, os quais

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