Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
5. O CRUZADOR AUXILIAR “PEDRO NUNES”
Foi construído em 1889, no estaleiro inglês “Scott & C.” em lume e vindo de uma direcção imprevisível, levou a ser apelidado
Greenock, com o nome de “Malange”, para a Mala Real Portu- de “Navio Fantasma” em Brest e em Plymouth, tendo-se rapida-
guesa, Companhia adquirida, em 1902, pela Empreza Nacional mente tornado conhecido e prestigiado.
de Navegação.
Quando da assinatura do Armistício encontrava-se em Ports-
Face à entrada de Portugal na Grande Guerra, além dos na- mouth, prestes a rumar a Devonport para entrar em fabricos, após
vios alemães apresados no Tejo, em Fevereiro de 1916, houve dois anos de intensa e permanente actividade. Consta no seu Livro
necessidade de mobilizar navios mercantes portugueses que pu- do Serviço Diário Fundeado o seguinte: Às 12 horas do dia 11 de
dessem ser utilizados em serviços de âmbito militar. O “Malan- Novembro foi dada volta aos serviços como regozijo por ter aca-
ge” foi um deles. bado a guerra, tendo-se embandeirado nos topes com as bandeiras
nacionais e no tope do mastro grande com as bandeiras inglesa
Aumentado ao “Efectivo dos Navios da Armada” em 17 de Abril e portuguesa. Do Relatório do Comandante, o capitão-de-fragata
de 1916 e identificado como “Pedro Nunes”, possuía as seguin- Alberto Gonçalves Aprá, igualmente se transcreve: O Armistício
tes características: deu-se quando este navio estava em Portsmouth e portanto os pe-
Deslocamento....................................................3.574 toneladas rigos e os dias amargos passaram; porém o que não deve passar
Comprimento fora a fora ..................................... 108,50 metros da memória de todos é o esforço enorme de que toda a guarnição
Boca...................................................................... 13,12 “ deste navio produziu durante os dois acesos anos de guerra sub-
Calado máximo ..................................................... 10,70 “
marina: nos portos a carga e a
O aparelho propulsor era descarga em poucas horas para
constituído por apenas uma não se perder a lua, no mar no
máquina que desenvolvia a serviço permanente de noite e
potência de 2.300 cavalos, a de dia. Significativo testemunho
que correspondia a velocidade que notabiliza o comportamen-
de 16 nós. to da guarnição do cruzador em
tempo de guerra.
Esta velocidade, então apre-
ciável para um navio do seu O conflito tinha termina-
tipo, aliada à existência de um do mas a situação política em
casco robusto e à elevada auto- Portugal agrava-se com o as-
nomia de 8.850 milhas, foram sassinato do Presidente Sidó-
os parâmetros que levaram à nio Paes, em Dezembro de
sua mobilização. 1918. No Norte estala uma in-
surreição com vista à restaura-
Classificado como cruzador, ção do regime monárquico. É
são-lhe então instaladas 2 pe- então criada a Divisão Naval de Operações, da qual faz parte o
ças Schneider de 120 mm, 2 “Pedro Nunes”, com a missão de neutralizar essa revolta. Cons-
Armstrong de 76 mm e uma Hotckiss de 47 mm. tituem também a Divisão o cruzador “Vasco da Gama”, o con-
tratorpedeiro “Guadiana”, as canhoneiras “Ibo” e “Limpopo”, os
A guarnição compreendia 155 homens (12 oficiais, 18 sargen- caça-minas “Açor” e “Celestino Soares” e o rebocador “Bérrio”.
tos e 125 praças). O navio, com o Almirante Chefe de Divisão a bordo, após rece-
ber autorização do Ministro da Marinha, em 8 de Fevereiro de
Durante os cerca de sete anos ao serviço da Armada a sua prin- 1919, secundado pela “Ibo”, faz fogo sobre a Fortaleza de Viana
cipal actividade esteve relacionada com o serviço de transporte. do Castelo, então reduto das forças monárquicas, que em Março
Assim, em Junho de 1916, logo após ter sido artilhado, largou de são completamente derrotadas.
Lisboa com a missão de transportar prisioneiros alemães para An- Volta pela última vez a Inglaterra, em Julho de 1920, para tra-
gra do Heroísmo e militares de Cabo Verde. Em Dezembro foi ao zer para Lisboa os restos mortais do guarda-marinha da Aviação
Funchal, levando e trazendo pessoal e material, inclusive peças Naval Guilherme Abreu Fonseca, morto num acidente aéreo na-
de artilharia e respectivas munições para a Madeira. quele país onde frequentava um curso de pilotagem.
De Janeiro a Julho de 1921, desloca-se ao Extremo-Oriente,
Entretanto, tendo sido constituído o Corpo Expedicionário Por- transportando material para Cabo Verde, S. Tomé, Angola, Mo-
tuguês (C.E.P.) tornava-se necessário transportá-lo para França, o çambique e Macau, tendo na ocasião praticado não só portos
principal teatro de operações da Grande Guerra. Nesse transporte destes territórios, como também Capetown, Colombo, Singapu-
efectuado via marítima, já que além da travessia por terra ser mais ra e Hong-Kong.
difícil a vizinha Espanha tinha optado pela neutralidade, foram A sua última longa viagem decorre de Julho a Novembro de
utilizados os cruzadores auxiliares “Gil Eanes” e “Pedro Nunes” e 1922, quando ruma ao Brasil em serviço do Comissariado Geral
para escolta os contratorpedeiros “Douro” e “Guadiana”. do Governo na Exposição Internacional do Rio de Janeiro.
Em 9 de Julho de 1923, foi abatido ao “Efectivo dos Navios da
O “Pedro Nunes” largou para a primeira ida a França em 8 de Armada” o “Pedro Nunes”, um navio que mobilizado para o servi-
Fevereiro de 1917 com destino a Brest, tendo no regresso esca- ço na Marinha cumpriu exemplarmente as missões que lhe foram
lado Plymouth, a fim de embarcar carvão. Esta rota seria cum- atribuídas, tendo a sua acção sido imprescindível no transporte e
prida em mais sete missões de transporte de pessoal e material apoio logístico do Corpo Expedicionário Português.
do C.E.P.
J. L. Leiria Pinto
Nas oito viagens foi escoltado por um dos contratorpedeiros
portugueses, ocasionalmente por navios do mesmo tipo ingleses CALM
ou seguiu integrado em comboios ou mesmo, confiante na sua
velocidade, navegou sozinho, sem escolta.
De qualquer modo, atravessando habitualmente zonas minadas
e infestadas de submarinos alemães, onde já tinham sido assina-
lados vários afundamentos da navegação aliada, o navio jamais
sofreu qualquer ataque inimigo. O facto de chegar sempre incó-