Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República

7. O COntratOrpedeirO “dOurO”

  No início da segunda década do século XX a Marinha Portuguesa         para a sua 1ª viagem ao serviço do CEP. Comboia o “Pedro Nunes”
precisava de ter meios capazes de enfrentar a ameaça dos torpedei-      até Brest escala a seguir Devonport, o porto militar de Plymouth e
ros, navios cuja eficácia tinha sido comprovada em marinhas estran-     regressa a Lisboa a 11 de Maio.
geiras e alterado as tradicionais tácticas navais.
                                                                          A 2ª viagem, de 12 de Julho a 2 de Agosto, é semelhante à an-
  Após acaloradas discussões, em que interveio decisivamente o          terior e na 3ª de 27 de Agosto a 20 de Setembro, apenas pratica o
então capitão-tenente Leotte do Rego, um dos principais defensores      porto de Brest.
da entrada de Portugal na Grande Guerra, foi encomendado ao Ar-
senal da Marinha um novo tipo de navio – o contratorpedeiro – cuja        Entre estas duas últimas viagens escolta o paquete “Beira” até 280
construção se iniciou em Fevereiro de 1911. Denominado “Douro”          milhas da barra do Tejo.
foi lançado à água em Janeiro de 13, numa cerimónia presidida pelo
Presidente da República, Dr. Manuel Arriaga que colocou a mão na          Segue-se um interregno nas missões a França, já que se torna ne-
roda de proa, num gesto simbólico de o empurrar para a água dizendo     cessário reforçar a escolta a navios de passageiros entre o Continente
“Em nome da Pátria e da República desejo-te uma carreira feliz”         e Ilhas, área atlântica onde atacavam com frequência os submarinos
                                                                        alemães. Assim, apoia o “Lourenço Marques” até ao Funchal e deste
  O “Douro” foi o primeiro de uma série de quatro contratorpedeiros,    porto o “S. Miguel”, a Ponta Delgada e Lisboa.
todos construídos no Arsenal da Marinha, (“Guadiana” – 1914, “Vou-
ga” – 1920 e “Tâmega” - 1922), dando por isso o nome à classe.            A 4ª viagem, decorre de 17 de Novembro de 1917 a 22 de De-
                                                                        zembro, mais uma vez escoltando o “Pedro Nunes”, com a particu-
  Aumentado ao Efectivo dos Navios da Armada em 13 de Junho             laridade de, após praticar Devonport, voltar a Brest antes do regres-
de 1913, possuía as seguintes ca-                                       so a Lisboa. Segue-se uma escolta ao “Moçâmedes”, do Funchal
racterísticas:
Deslocamento..........670 toneladas                                                                         para Lisboa.
Comprimento (fora a fora)..............                                                                        A 5ª viagem é de 14 de Feverei-
....................................... 73 metros
Boca................................. 7 “                                                                   ro de 1918 a 10 de Abril, além de
Calado .......................... 2,3 “                                                                     escalar os portos habituais, Brest e
Velocidade máxima ............ 27 nós                                                                       Devonport, pratica pela primeira
Velocidade de cruzeiro ........13 “                                                                         vez Portsmouth,. tendo escoltado
Autonomia ................. 1600 milhas                                                                     o “Pedro Nunes” e o “Gil Eanes”
                                                                                                            para Lisboa.
  O seu armamento compreendia
1 peça Armstrong de 100 mm, 2 de                                                                               Na 6ª viagem de 17 de Maio de
76 mm e 2 tubos lança-torpedos                                                                              1918 a 26 do mesmo mês apenas
de 450 mm. Para propulsão tinha                                                                             escala Brest.
3 caldeiras “Yarrow”, utilizando carvão, 3 turbinas “Parsons” com
potência de 11.000 cavalos. A lotação era de 73 homens.                                                        De 7 de Junho a 19 de Julho é a 7ª
                                                                                                            viagem que volta a incluir Portsmouth
  A sua vida operacional, que durou apenas 14 anos, compreende                                              e pela primeira vez Cherburgo.
três períodos. O primeiro começa logo em Agosto de 1913 quando            A Grande Guerra aproxima-se do fim e por consequência o “Dou-
efectua provas de mar e saídas para treino da guarnição. Em Maio de     ro” efectua a sua 8ª e última viagem a França. Larga de Lisboa a 28
1914 inicia missões de patrulha e fiscalização por toda a costa portu-  de Setembro e só regressa a 13 de Fevereiro de 1919. Nesta missão
guesa que durarão cerca de dois anos. Pratica principalmente os por-    pratica pela primeira vez os portos de Nantes e S. Nazaire e escolta o
tos de Leixões, Figueira da Foz, Cascais, Setúbal, Sesimbra e Lagos.    “Pedro Nunes” deste porto até Plymouth, Portsmouth e Southampton
                                                                        onde, de 6 de Novembro a 17 de Janeiro de 1919, efectua fabricos.
  Entretanto, a Grande Guerra deflagra, os navios alemães recebem       É também em Southampton que assiste a entusiásticas manifestações
ordens, do seu governo, para demandar portos neutrais e assim, um       de regozijo popular em 11 de Novembro de 1918, data da assinatura
apreciável número de navios daquela nacionalidade abriga-se em          do Armisticio que põe fim à Guerra.
portos portugueses. O “Douro”, algumas vezes acompanhado do               Fevereiro de 1919 é o princípio do terceiro e último período do seu
contratorpedeiro “Guadiana”, ao serviço desde Maio de 1915, passa       historial. Retoma a patrulha e a fiscalização da costa, escalando os
a ter missões nas aproximações do Porto de Lisboa e a utilizar uma      principais portos do Continente, ocasionalmente navega até à Ma-
amarração fixa frente ao Dafundo.                                       deira e aos Açores, e efectua numerosas manobras integrado na Força
                                                                        Naval de Exercícios. Saliente-se as que decorreram na costa do Algar-
  O segundo período tem o seu início com a entrada de Portugal na       ve em Julho e Agosto de 1925, durante as quais realiza exercícios de
guerra. Em 23 de Fevereiro de 1916 o “Douro” embarcando o capitão-      defesa de portos, artilharia, lançamento de minas e de torpedos.
-de-fragata Leotte do Rego, comandante de Divisão Naval de Defesa         A última actividade de relevo em que participou foi a 25 de Setem-
e Instrução e acompanhado do “Guadiana” e dos torpedeiros “1” e         bro de 1925, em Vila Franca de Xira, quando da inauguração da Base
“2”, procede à apreensão de navios alemães, acção esta que leva a       de Flotilha Ligeira, cerimónia presidida pelo Ministro da Marinha, capi-
Alemanha, a 9 de Março, a declarar guerra a Portugal.                   tão-de-fragata Pereira da Silva, a bordo do cruzador “Carvalho Araújo”
                                                                        e na presença dos contratorpedeiros “Douro”,“Guadiana”, “Vouga” e
  Continua o “Douro” a patrulhar a costa ficando por vezes respon-      “Tâmega” e dos torpedeiros “Ave”, “Lis”, “Sado” e “Mondego”.
sável pelo serviço de vigilância entre S. Julião e Belém. Em Outu-        Sucederam nos anos 30 aos contratorpedeiros da classe “Douro”,
bro de 1916 efectua exercícios de tiro e lançamento de torpedos ao      os da classe “Vouga”. Este tipo de navio manteve-se como navio de
largo de Cascais.                                                       linha da Marinha Portuguesa durante três décadas e meia, isto é, até
                                                                        à chegada, em 1949, das primeiras fragatas – a “Diogo Gomes” e a
  Forma-se então o Corpo Expedicionário Português (CEP) que é           “Nuno Tristão”.
deslocado para França a bordo dos transportes “Pedro Nunes” e “Gil
Eanes”, escoltados pelos dois únicos contratorpedeiros da Armada, o                                                                J. L. Leiria Pinto
“Douro” e o “Guadiana”.
                                                                                                                                                         CALM
  Com largada de Lisboa a 21 de Abril de 1917 o “Douro” parte
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