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“A MARINHA NA REPÚBLICA – OS NAVIOS”
Nodiaseguinte,em2deOutubro,abriupor Subscrição Nacional”, como são os casos da nha Portuguesa na Revolução Republicana.
sua vez ao público, no Museu de Marinha, o canhoneira“Chaimite”edalancha-canhoneira Com os primeiros sinais de revolta em ter-
segundo núcleo da exposição “A Marinha na “Pêro de Annaia”, bem como da canhoneira ra, no início da madrugada do dia 4 de Ou-
República”. “Pátria”, esta financiada através da “Subscri- tubro, o cruzador “Adamastor” foi tomado
Intitulada “ A Marinha na República - Os ção Patriótica” levantada entre a comunidade pela guarnição, e sob as ordens do segundo-
Navios”, este núcleo expositivo pretende ca- portuguesa emigrada no Brasil. -tenente Mendes Cabeçadas efectua três tiros,
racterizar o dispositivo naval em Outubro Segue-seumanovaáreatemática,alusivaàs o sinal combinado para informar que os na-
de 1910, evocando o papel decisivo que os inovações técnicas e tecnológicas verificadas viosnoTejoseencontravamsobocontrolodos
navios da Armada tiveram no controlo da li- na passagem do século XIX para o século XX. revoltosos. Este foi também o primeiro navio
nha do Tejo. a içar a bandeira revolucionária, a qual
Encontra-se dividido em quatro áreas tinha sido entregue pelo comissário na-
temáticas: uma primeira evoca o Ulti- val Machado Santos a um membro da
mato Britânico de 1890, considerado guarnição no dia anterior, bandeira esta
uma das principais causas para o enfra- que pertence ao acervo do Museu de
quecimento do regime de governação Marinha e que pode agora ser aprecia-
monárquico. Sem argumentos de força da nesta exposição. Após o bombarde-
que pudessem constituir resistência às amento do Paço das Necessidades e o
pretensões britânicas, o rei D. Carlos foi constante assédio às forças ainda fiéis à
obrigado a anuir à saída das forças por- Monarquia estacionadas na Baixa da ci-
tuguesas posicionadas nos territórios dade, a acção dos cruzadores continuou
entre Angola e Moçambique, incluídos pela madrugada e manhã de dia 5, com
no denominado Mapa Cor-de-Rosa, o o desembarque de forças do “S. Rafael”
qual indicava com este tom os espaços para dominarem o Museu de Artilharia,
africanos a sul do Equador que Portu- em Santa Apolónia, e a Fábrica de Ar-
gal reclamava para si aquando da Con- mas. Com a tomada da fragata “D. Fer-
ferência de Berlim de 1885. Deste modo, nando II e Glória “e do vapor “Pêro de
ao abdicar-se de quaisquer interesses Alenquer” pela guarnição do “Adamas-
nacionais naquela região, as reacções – tor”, procedeu-se depois ao controlo do
políticas, intelectuais e populares - não Arsenal da Marinha pelo pessoal pro-
se fizeram esperar e, por todo o país, re- veniente do “S. Rafael”. Concretizava-
alizaram-se diversas manifestações de -se assim o plano que visava o cerco ao
repúdio contra a decisão do Monarca e Centro de Operações e a neutralização
do Governo. das forças monárquicas. Da Rotunda,
Entre as diversas reacções contra o com a artilharia sob o comando de Ma-
Ultimato Britânico e a cedência imediata por A vela e a madeira dão agora lugar ao vapor chado Santos, dominava-se o acesso norte da
parte da Coroa Portuguesa perante o mesmo, e ao aço e o desenvolvimento da metalurgia, cidade, impedindo a chegada de reforços, as-
conta-se a “Grande Subscrição Nacional”, a com novas ligas metálicas e aperfeiçoadas téc- sim como a sua posição permitia o controlo
qual destinada à angariação de fundos para a nicas de fundição, permite o crescimento ex- sobre as colinas de Lisboa; no Quartel de Ma-
aquisição de novas unidades navais capazes ponencial da dimensão e calibre da artilharia rinheiros em Alcântara encerrava-se o aces-
de constituírem argumentos que permitissem, naval, aumentando consideravelmente o seu so poente, enquanto se efectuava o controlo
no futuro, fazer valer os interesses nacionais. alcance útil e a eficácia de tiro. Os grandes cou- de parte da zona ribeirinha, complementado
A aquisição de um cruzador para a Armada raçados e cruzadores de batalha, instrumentos depois com o Arsenal; finalmente no Tejo, os
Portuguesa, o qual seria mesmo a primeira de soberania e de projecção de força naval, cruzadores da Marinha completavam o en-
unidade naval desse tipo em Portugal, vai en- consolidam antigos poderes e afirmam novas volvimento, cruzando fogo com a Rotunda e
tão ser o principal destino a dar à receita reali- pretensões por parte de potências emergentes. controlando o principal acesso à capital. O fim
zada através de contribuições de particulares, Mas surgem também novas armas e tácticas da Monarquia era agora uma realidade, con-
comícios e até mesmo de espectáculos de va- que suportam o desafio constante às relações cretizada com a Proclamação da República na
riedades. É então adquirido o cruzador “Ada- de poder. É o caso do torpedeiro “Espadarte”, varanda do Município, sob uma salva de 21
mastor”, construído nos estaleiros Fratelli Or- depois simplesmente designado de “N.º 1”, tiros dos cruzadores surtos no Tejo.
lando, em Livorno, e aumentado ao efectivo assim como a canhoneira-torpedeira “Tejo”, Chegamosentãoaoquartoeúltimomomen-
dos navios da Armada em 2 de Abril de 1897. construída no Arsenal da Marinha, cujos mo- to da exposição, onde se evoca a Proclamação
O modelo do cruzador “Adamastor”, assim delos se encontram expostos. da República e a partida da Família Real para
como a sua expressiva figura de proa, um ca- O terceiro momento da exposição é sobre a o exílio. Destaque para o iate “Amélia”, cujo
deirão que pertenceu à camarinha do seu co- acção determinante dos cruzadores da Mari- modelo e fotos de época se encontram em ex-
mandante e os to- posição, a bordo do
pos do portaló que qual D. Manuel II,
pertenceram ao acompanhado das
navio constituem rainhas D.ª Amé-
algumas das pe- lia e D.ª Maria Pia,
ças que podem ser sua mãe e avó, res-
apreciadas nesta pectivamente, se-
exposição. Mas es- guiram com des-
tão também paten- tino a Gibraltar. O
tes os modelos de rei deposto viveria
outros navios que depois o resto dos
foram adquiridos seus dias no exílio
através “Grande Actuação da Banda da Armada no terreiro do Museu de Marinha em 2 de Outubro. em Londres.
Revista da aRmada • NOVEMBRO 2010 19