Page 14 - Revista da Armada
P. 14
brar alguns pratos da extensa gastrono- nizações internacionais que apoiam a dos fortes aguaceiros que diariamente
mia portuguesa, o marisco e os chocos organização do país duvidam da bon- nos assolavam.
fritos estiveram entre os mais requisita- dade da opção pelo português. Díli foi A aproximação ao porto de Jacarta,
dos. Ainda no que diz respeito ao re- uma das nossas maiores contribuições na ilha de Java, foi marcada por um
lembrar de costumes e sabores portu- para a diplomacia portuguesa ao longo intenso tráfego marítimo. Este termi-
gueses, muitos elementos da guarnição desta viagem. nal comercial movimenta milhares de
visitaram a empresa portuguesa ENSUL, A viagem continuou com destino a contentores, numa estimativa de 15000
que importa produtos nossos, e regres- outra capital, desta feita a da Repu- navios por ano. Os fundeadouros a la-
saram ao navio recheados dos navais blica Indonésia – Jacarta. A navega- dearem a entrada da barra faziam jus
“mimos” que apaziguarão as saudades ção de aproximadamente sete dias, a essa premissa com inúmeros navios
em navegações longas. Alguns fundeados. Pelas nove da ma-
canalizaram o seu tempo para nhã alcançámos a nossa posi-
percorrer os mercados tradicio- ção entre os demais cargueiros,
nais, onde abundava a fruta tro- gruas e contentores. Numa ce-
pical, as peças artesanais e por rimónia de boas-vindas presi-
vezes arenas do desporto nacio- dida pelas autoridades navais
nal – a luta de galos. e presenciada pelo Embaixador
No penúltimo dia da estadia de Portugal e comitiva, sobres-
em Díli, o navio aprontou-se saíram as danças tradicionais
para a visita de despedida do javanesas, interpretadas por um
Almirante CEMA com o clarim, elegante e exótico grupo de bai-
o terno de mestres e guarnição larinas locais.
estendida à borda. Num dis- Se, por um lado a conjugação
curso breve, porém carregado da distância de 10 km ao centro
de simbolismo o Comandante de Jacarta, com o trânsito caóti-
da Marinha voltou a enaltecer Alm CEMA com o Presidente Ramos Horta e o Comandante da co que poderia converte-la em
a importância desta missão e o “Sagres”. mais de 90 minutos em tempo,
empenho demonstrado apesar foi desde logo apontada como
da sua anormal duração. As suas factor dissuasor das visitas; por
palavras, que transmitiram um outro, a atenção que os média
sentimento de despedida para indonésios deram à “Sagres”,
com este meio operacional, em garantiram a publicidade neces-
muito revigoraram a motivação sária e a rentabilização do esfor-
dos presentes. ço desenvolvido na projecção
Largámos de Díli na manhã da visita do navio na opinião
de 18 de Setembro. Mais uma pública.
manobra de compêndio a fazer A convite do Embaixador de
lembrar o tempo em que não Portugal, uma comitiva de 40
havia meios de apoio. Abriu de militares da “Sagres” compare-
popa, inverteu a proa na exígua ceu numa recepção em honra
baía, apitou três longos e um Presidente José Ramos Horta discursando frente ao N.R.P.“Sagres” do navio e da sua guarnição. Na
curto, e despediu-se dos novos no porto de Díli. residência do embaixador pude-
e velhos amigos que se vieram mos conhecer portugueses que
despedir e onde se incluía o vivem e trabalham em Jacarta.
Comandante da Marinha, que Dois acontecimentos abrilhan-
nos atribuiu esta missão e que, taram este evento: a participa-
pela segunda vez nos visitou e ção de um rancho folclórico de
nos reforçou o “Talant de Bien indonésios que apreciam a nos-
Faire”. Fomos mais uma vez ga- sa cultura, sobretudo alunos que
nhar barlavento até ao Cristo Rei estudam português na universi-
para percorrer à vela toda a cos- dade, o grupo “Cantar Carave-
ta até Liquiçá pois tínhamos pro- las” que cantaram e encantaram
metido a uns professores portu- com alguns temas do cancio-
gueses que lá passaríamos para neiro popular português, numa
mostrar as Cruzes de Cristo. Em pronuncia impecável; o outro
Liquiçá, com o navio a navegar momento alto prendeu-se com
lentamente ao largo, enviámos Grupo de Danças Tradicionais “Timor Furak”. a oferta de um prato em cerâmi-
um pequeno grupo a terra para cumpri- cruzou o centro do arquipélago indo- ca com o navio pintado pela Embaixa-
mentar a população e visitar o hospital nésio, percorrendo uma ínfima parte triz Arlinda Chavez Frota para assina-
que a guarnição da fragata “Hermene- deste extenso país, composto por um lar a visita do navio e a celebração dos
gildo Capelo” recuperou. Colocou-se total de 13 677 ilhas, das quais 6000 500 anos da chegada dos portugueses
assim um ponto final, na primeira visi- não habitadas, entre as quais as histó- ao arquipélago indonésio. Uma con-
ta do navio a Timor-Leste. A presença ricas Molucas e Flores, dispersas por ceituada marca local de faianças pro-
da “Sagres” e a forma como foi aca- uma área considerável do oceano Ín- duziu cópias deste prato que será am-
rinhada mostrou o que realmente vai dico. A navegação nestes mares prote- plamente distribuído e divulgado nas
no coração dos timorenses aos que ti- gidos, nomeadamente Mar das Molu- comemorações que vierem a decorrer
nham dúvidas sobre a opção da por- cas, Mar de Banda, Mar das Flores e ao longo do ano 2011, ficando assim
tugalidade. É que muitos dos milhares Mar de Java, permitiu uma navegação o NRP “Sagres” intimamente ligado à
de estrangeiros que pululam as orga- calma, apenas agitada pela passagem celebração.
14 NOVEMBRO 2010 • Revista da aRmada