Page 26 - Revista da Armada
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da Marinha. Podemos dividir essas reformas dante Pereira da Silva, Ministro da Marinha, técnico nas áreas dos torpedos e electricida-
em duas grandes fases: uma que vai de 1918 a grosso modo, de 1923 a 1926. A reestrutura- de, radiotelegrafia e máquinas e se deixasse
1923 e a outra que se estende de 1923 a 1926, ção que impôs à Corporação ainda hoje im- de empenhá-las na guarda de edifícios ou
esta fruto da acção governativa do Ministro pressiona pela dimensão e profundidade. Na envolvê-las nas questões militares.
Pereira da Silva. verdade, essas reformas alteram por com-
A 23 de Agosto de 1911, o Ministério das pleto a organização da Marinha, colocando- Areserva naval foi outra das áreas que me-
Colónias separa-se do Ministério da Ma- -a a par das mais modernas forças navais do receu o empenho do Ministro da Marinha.
rinha. Procura-se com esta reforma uma seu tempo. Mais uma vez, subjacente ao pensamento
maior autonomia das colónias. Até 1912 ex- O ensino mereceu uma atenção especial de Pereira da Silva está as matrizes do pen-
tinguem-se as Divisões Marítimas Coloniais de Pereira da Silva, inserindo-o no quadro samento do Almirante Mahan, acerca de um
e cria-se a Marinha Colonial, que tinha como mais lato da sua política naval5. O dinâmi- dos factores condicionantes do poder: a po-
missão o serviço normal de fiscalização e vi- co ministro reorganiza a Escola Naval, que pulação - as suas “reservas”, realizações e vo-
gilância das costas, rios e canais, sob a alçada passou a dispor de internato; cria a Escola cação para as actividades marítimas.
daquele primeiro Ministério. Esta legislação Náutica, separando assim a formação mili-
teve um efeito organizativo muito impor- tar da civil. Para além disso, são introduzidas O Corpo de Oficiais é reorganizado pelo
tante, ao alterar o relacionamento entre a na Escola Naval novas formas de selecção e Regimento dos Oficiais da Armada em sete
Marinha e os Territórios Ultramarinos, que reformuladas as viagens de instrução, ca- classes: Marinha, Engenheiros Construto-
passavam a financiar, administrar e supe- bendo a um ex-veleiro alemão - capturado e res, Engenheiros Maquinistas, Saúde Na-
rintender, com o seu orçamento, val, Administração e Auxiliares do Serviço
tudo o que dizia respeito às Co- da Armada.
lónias. A Marinha deveria con-
tinuar a destacar os seus navios No cômputo mais abrangen-
mais poderosos em cruzeiros te da organização da Marinha
regulares pelo Império, porém as alterações são bastante rele-
com as dificuldades financeiras vantes. Na nova orgânica esta-
e a exiguidade de meios, não foi belecida por Pereira da Silva, o
possível cumprir totalmente esta Ministro detém nas suas mãos o
acção de soberania. delinear das políticas, enquanto
Com a formação da primei- o Conselho General da Armada
ra esquadrilha de submersíveis é um órgão de consulta e estudo.
em 1917, foi necessário encon- Registe-se que na sequência da
trar rapidamente um Ponto de reorganização da Armada de 16
Apoio Logístico, que proporcio- Partida do voo Lisboa-Rio de Janeiro. de Julho de 1918, tinha apareci-
nasse os componentes necessá- do o Estado-Maior Naval6, com
rios à operacionalização dos a incumbência de elaborar estudos
navios, nomeadamente a carga e fornecer os elementos para a acção
das baterias, carga das garrafas eficaz do Major-General, tanto na
de ar comprimido e alojamen- preparação como na condução das
to para as guarnições. Em 1918 operações da guerra naval. Surgem
fica concluída uma Estação com então duas direcções-gerais: o
base na Doca de Belém. O pro- Comando-Geral da Armada e a
jecto fora concebido por uma Direcção-Geral da Marinha. Há
Comissão composta por três uma redefinição de organismos
oficiais de Marinha4. e direcções; aparecem como ór-
No entanto, a vinda dos sub- gãos de apoio da política do mi-
mersíveis para Portugal coloca nistro: o Conselho General da Fa-
outro problema relativamente à zenda e a Inspecção da Marinha.
sua manutenção e missões: a for- O Comando-Geral da Armada
mação das suas guarnições, que é dirigido superiormente pelo
acabarão por efectuar inicialmen- Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Comandante-Geral da Armada,
que tem como órgãos de apoio:
te os seus estudos em Vale de Zebro, na Es- 1 de Fevereiro de 1916 no porto da Horta – e o Estado-Maior Naval – que de-
cola Prática de Torpedos e Electricidade. Da que recebe o nome de navio-escola “Sagres”, senvolve tarefas ao nível do pla-
mesma forma, foi necessário equacionar o em referência à emblemática Escola de Sagres neamento e operações - e a Superintendência
dispositivo daAviação Naval e as Bases para henriquina, servir de escola prática para os da Armada, o “englobante” órgão central de
o seu acolhimento. O Centro de Aviação Na- futuros oficiais. Como se infere, o então Co- direcção e administração da Marinha para a
val de Lisboa foi criado em 1917 e instalado mandante Pereira da Silva modernizava a “vertente!” humana, financeira e logística. Fi-
na Doca do Bom Sucesso. É a primeira base Marinha, mas não esquecia a sua rica tradi- nalmente, a Direcção-Geral de Marinha tem
operacional da Aviação Naval. Em paralelo ção cultural e histórica. cinco direcções: Marinha Mercante, Pescas,
surge o Centro de Aviação Naval de Aveiro, É Igualmente no âmbito da Reforma de Hidrografia e Navegação, Faróis e Constru-
no ano seguinte (em 1918), na Península de 1924, que aparece pela primeira vez a Briga- ção Civil.
São Jacinto, como base de hidroaviões anti- da de Mecânicos, uma das quatro brigadas, Com toda esta reformulação, que atinge o
-submarinos, operados pela Marinha Fran- juntamente com a dos Artilheiros, Marinhei- núcleo central da Marinha, são lançadas as
cesa, mas auxiliada por pessoal português. ros e Guarda Naval. Era desta forma extinto bases da moderna Marinha de Guerra Por-
Ainda nesse ano a Base com o fim da Gran- o Corpo de Marinheiros, força militar que se tuguesa que irá operar ao longo de todo o
de Guerra foi transferida inteiramente para tornara bastante incómoda para muitos dos século XX. Não ficaria o quadro da política
a Marinha Portuguesa. Governos da República. O objectivo do Mi- naval de Pereira da Silva completo se não
Uma grande parte das reformas introdu- nistro era que a essas brigadas competisse, fossem aqui destacados dois outros pontos,
zidas na Marinha durante a Primeira Repú- além das funções de instrução geral e mili- que entroncam nas suas ideias firmes para a
blica tem, em concreto, um autor: o Coman- tar, um papel activo na formação do ensino esquadra portuguesa. A 25 de Setembro de
1925 é inaugurada na Quinta das Torres, em
Vila Franca de Xira, a Base da Flotilha Ligei-
26 NOVEMBRO 2010 • Revista da aRmada