Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
13. A CANHONEIRA “BEIRA”
Foi construída no Arsenal da Marinha de Lisboa e aumentada ao Efectivo corrido para a “Beira” seis meses de árduo serviço de campanha.
dos Navios da Armada em 30 de Dezembro de 1910. Deu o nome à Aesquadra inglesa, em Novembro de 1916, largou para Sul passan-
classe, de que faziam parte além da “Beira”, as canhoneiras “Ibo”, “Ben-
go”, “Mandovi”, “Quanza”, “Zaire”, “Damão” e a “Diu”, navios conhe- do a fazer base em Freetown, na Serra Leoa, reconhecendo o Almi-
cidos na gíria naval por cruzadores de algibeira. rantado Britânico como altamente meritórios os serviços prestados pela
As principais características eram as seguintes: Marinha Portuguesa.
Deslocamento máximo ..........................................................500 toneladas
Comprimento (fora a fora) ....................................................... 45 metros Apesar da saída da esquadra o porto de S. Vicente continuava a ser
Boca ...............................................................................................8,30 “ um alvo para o inimigo, situação comprovada a 4 de Dezembro de
Calado ...........................................................................................2,34 “ 1916 quando a “Beira” juntamente com a “Ibo” abriu fogo sobre um
Velocidade máxima ..................................................................13 nós submarino alemão que havia surgido à entrada da baía, obrigando-o a
Velocidade de cruzeiro ...............................................................9 “ proceder a rápida imersão.
Autonomia (a 9 nós) .............................................................3200 milhas
Possuía duas máquinas alternativas de tríplice expansão com 700 HP Em Junho de 1917 seguiu para os Açores onde esteve integrada na
de potência, sendo o carvão o combustível utilizado. Armada com Divisão Naval até Outubro, mês em que regressou a Lisboa.
quatro peças de artilharia
Hotchkiss, duas de 65 mm No início de 1918 a ameaça submarina em águas caboverdianas
e outras duas de 47 mm, mantinha-se pelo que se tornava necessário transportar de Lisboa mate-
dispunha de uma guarni- rial destinado à construção de barragens submarinas e peças de artilharia
ção inicial de 71 homens
(4 oficiais, 8 sargentos e 59 para a defesa de S. Vicente.
praças). Com o objectivo de render
a “Ibo” e transportar aque-
Os cerca de 30 anos le material e pessoal nele
em que esteve ao serviço especializado, deixou o
repartiram-se por missões Tejo em Janeiro desse ano
de fiscalização da pesca no tendo o seu comandante
Continente, patrulhas nos procedido à reorganiza-
Açores e ocasionalmente ção e reforço da defesa do
na Madeira e permanências porto onde passaram a ser
em Cabo Verde e Angola. formados comboios, cujas
Nos últimos quatro anos saídas eram dirigidas pela
foi utilizada em trabalhos canhoneira que se mante-
hidrográficos. ve em comissão até Janei-
ro de 1919.
Apartir de Abril de 1911
e até Agosto de 13 esteve De regresso ao Conti-
no Algarve e na Zona Norte fiscalizando a pesca, período esse interrom- nente, a partir de Março,
pido no Verão de 1912 com uma comissão à Madeira e aos Açores. voltou a estar empenhada
na fiscalização da pesca
A Grande Guerra iniciou-se em Julho de 1914 e logo em Agosto foi até ao fim do ano, altura
atacado e saqueado o posto português de Mazuía, na margem do rio de entrada em fabricos que demoraram três anos. Em Outubro de 1923
Rovuma, fronteira norte de Moçambique. A “Beira” largou de Lisboa após uma curta missão no Algarve, largou para a Estação Naval de An-
em Setembro fazendo parte da escolta a um comboio que transportava gola onde se manteve em cruzeiro até Maio de 1924.
as primeiras forças expedicionárias com destino a África. Permaneceu Em Outubro iniciou o “Periplo de África”, fazendo parte da Divi-
inicialmente dois meses em S. Tomé seguindo depois para Angola. Re- são Naval Colonial que além da “Beira” era constituída pelo cruzador
gressou a Lisboa em Abril de 1915 reatando as missões de fiscalização “República”, canhoneira “Ibo” e transporte “Gil Eanes”. Esta força
da pesca no Algarve. naval, com um curso de guarda-marinhas embarcado, terminou a sua
viagem em Junho de 1925.
Entretanto, a guerra estendeu-se às águas do Atlântico tendo S. Vi- Até Maio de 1928 fiscalizou as águas do Continente e posteriormente
cente de Cabo Verde sido considerado vital para os Aliados, já que além foi atribuída, por ano e meio, à Estação Naval dos Açores. Seriam as suas
de porto carvoeiro era o local de amarração dos cabos submarinos que últimas comissões deste tipo.
ligavam três continentes e onde se encontravam refugiados, desde o iní- Durante 17 anos apenas tinha imobilizado três anos para reparações
cio das hostilidades, oito navios alemães. pelo que em Abril de 1928 entrou em fabricos, concluídos em Agosto
de 33.
Tornava-se então urgente a presença naval em S. Vicente que, desde Iniciou então a derradeira fase da sua vida operacional tendo largado
Fevereiro de 1915, com a saída da “Ibo” para Lisboa, não dispunha de em Setembro para a Estação Naval de Angola onde durante dois anos
qualquer navio de guerra português. efectuou serviços de patrulha e transporte logístico, regressando em No-
Assim, a “Beira”, em Novembro, largou com destino a Cabo Verde onde vembro de 1935.
havia de permanecer até Junho de 1917. Em 24 de Fevereiro de 1916 fo- Foi determinada em Agosto de 36 a sua atribuição ao serviço hidro-
ram requisitados os navios alemães surtos em S. Vicente, tendo a canho- gráfico pelo que passou a ser designada por navio hidrográfico “Beira”.
neira coadjuvado essa operação e passado a ser responsável pela guarda Deixou Lisboa, pela última vez, em Setembro de 1936, ficando integra-
dos navios, cujas tripulações ficaram internadas na Ilha de S. Nicolau sob da na Missão Hidrográfica de Angola para durante cerca de quatro anos
custódia de uma força de Marinha. proceder ao levantamento hidrográfico daquele território.
Após três décadas de prestimosos serviços de que se destaca, em ple-
Em Março chegou a esquadra inglesa do Atlântico composta de seis na Grande Guerra, a defesa do porto de S. Vicente, foi a canhoneira “Bei-
cruzadores, um couraçado e vários navios auxiliares. A “Beira” assumiu ra” abatida em 31 de Junho de 1941 ao Efectivo dos Navios da Armada.
então a incumbência da defesa dos navios ingleses quando fundeados
no porto, cumprindo para isso uma patrulha diária das 6 horas da tarde J.L. Leiria Pinto
às 6 da manhã. Em Setembro, a “Ibo” regressou de Lisboa. Tinham de- CALM