Page 31 - Revista da Armada
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ATÉ SEMPRE COMANDANTE E CAMARADA
SALGUEIRO FRUTUOSO
“- Escreve da tua experiência para mais tarde te recordarmos!...
- Aqueles que me conhecem e que comigo privaram, não vão precisar que lhes lembre, saberão escrever sobre mim.”
Uma semana antes de partir.
Ao Amigo, Camarada, Comandante, Imediato, Frutuoso, onde quer A Vida continua e sabemos que onde quer que estejas, é isso que dese-
que esteja dedicamos (Esquadrilha de Submarinos, a sua Guarnição, jas que façamos… que continuemos as obras que começaste e não tiveste
o seu Curso e todos os que com ele privaram) estas breves palavras: oportunidade de dar seguimento. Como nos ensinaste, a Vida só tem uma
Faleceu a 21 de Novembro, o Comandante do recém-chegado “TRI- direcção… para a frente. As direcções podem ser infinitas como a decisão,
DENTE”, 5 dias antes de completar 41 anos. O Comandante Frutuoso não mas o objectivo é avançar. O nosso Comandante geralmente dizia quando
gostaria de ser aqui recordado, distinguido entre outros Camaradas que trazia o N.R.P. “Tridente” à cota periscópica – “O pior num esclarecimento
têm o mesmo tipo de destino, triste e cruel, mas que acabam por não pre- é fazer “esparguete” sem nunca sair do mesmo sítio”. Deixa-nos extrapolar
encher uma página da Revista da Armada. No entanto se soubesse que o essa ideia para a vida - O pior na vida é fazer dela um “esparguete”, sem
fizemos em memória de todos os Camaradas, que partem prematuramen- nunca sair do mesmo sítio.
te, sem terem tido a oportunidade de compensar a família pelo tempo que
dedicaram ao Serviço, certamente que iria concordar. A todos os que prematuramente a morte levou, bons Comandantes,
bons Camaradas, bons Amigos, possuidores de virtudes como a sincerida-
Foi um dia fatídico aquele em que a guarnição do “TRIDENTE” regres- de, honestidade, profissionalismo, exigência para com eles e com os outros,
sou do Mar para se despedir do seu líder… Ainda sem saber o porquê de os nossos sentimentos e o pedido para que as suas memórias e experiencias
uma missão interrompida, quando tudo parecia correr bem, algo nos dizia não sejam esquecidas em prol de uma Marinha melhor, como aquela em
que era um dia diferente de todos os outros… Em plena foz do Tejo estáva- que o nosso Comandante acreditava e ajudou a melhorar.
mos rodeados de roazes-corvineiros, acontecimento pouco comum mesmo Do seu Comandante da Esquadrilha de Submarinos:
para quem praticou a barra do porto de Lisboa tantas vezes. Na altura não
percebemos, agora… é tudo tão claro e transparente. Camarada de luta, a ti que serviste este País e esta Marinha nos Subma-
Comandante, agora percebemos que eras tu a dizer “Bem-vindos”. Com rinos de forma exemplar, silenciosamente e sem alardes, e que não tiveste
saudade sabemos que estarás sempre a olhar pela tua Marinha, pelo teu tempo para usufruir em pleno dos resultados do teu esforço, te digo:
Tridente e pela tua Guarnição.
Que foste escolhido entre os melhores, para comandares o primeiro sub-
Se há um mês as palavras ditas em memória do nosso Comandante, ca- marino da classe “Tridente”;
marada e amigo corriam em lágrimas sofridas pelo coração, estas agora são
bem mais difíceis… correm nas memórias e saudade. A certeza da morte é Que sempre te conheci totalmente disponível, sempre leal, sempre
aquela em que menos queremos acreditar, talvez pelo facto desta ignorân- PRONTO;
cia não nos trazer sofrimento, ou a lembrança de que algum dia, em alguma
altura iremos acabar por perder alguém que nos é estimado. Que ter-te conhecido e ter-te como subordinado, desde o teu primeiro
embarque nos submarinos, até ao comando do “Tridente”, foi uma HON-
Só está morto quem não viveu. Quem não deixou marcas profundas RA e um privilégio que me deste sempre a certeza da missão cumprida,
nas pessoas com quem privou. Quem não sofreu ao deixar os seus mais nem que chovessem espadas do céu;
queridos, sabendo que só regressava a casa semanas mais tarde. Quem via
o que não queria e nada fazia para o corrigir. Quem sabia o que queria, mas Que foste e serás sempre um exemplo a seguir e que deixas em nós um
acima de tudo, sabia o que não queria. enorme buraco, uma tristeza difícil de descrever, um vazio;
Com orgulho falavas do teu trabalho, dizendo que à Marinha tan- Que resta-nos a tua memória e a certeza que um dia estaremos juntos,
to devias. “Somos o fruto do que vivemos, com quem vivemos”. Temos novamente, a discutir Submarinos e a apreciar aqueles pequenos momen-
saudades… saudades das conversas, dos conselhos, das experiências que tos de camaradagem, abaixo da linha de água.
transmitias aos teus subordinados, simplesmente porque achavas que era Descansa em paz na tua longa patrulha.
assim que devia ser. As suas 12517 horas de imersão, deram credibilidade No mastro da nossa Esquadrilha estará sempre, ondulante, um BZ para ti.
e dimensão às suas sábias palavras, sempre com a preocupação de passar Envio-te, onde quer que estejas, o nosso sinal preferido - Dolphin Code 39
conhecimento aos mais modernos. - Black is beautifull.
Bem hajas!
Com a colaboração de todos os seus camaradas
31REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011
