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COMANDANTE SOEIRO DE BRITO
Intelectual. Cientista. Homem de Cultura.
Em 9 de Dezembro de 1921 nascia, em Em Setembro de 1947 é nomeado para com o cargo de instrutor dos cursos de DAS,
Elvas, Joaquim Baptista Viegas Soeiro fazer parte da Missão de Fiscalização dos frequenta o curso de Especialização em
de Brito. Desde cedo demonstrou pos- Contratorpedeiros que em Glasgow, nos Rádio-Comunicações, o qual lhe abre no-
suir elevados níveis de inteligência e capa- estaleiros da Yarrow, ia acompanhar a mo- vos horizontes na área da Electrónica. Igual-
cidade de estudo, facto que o levou a ser dernização dos navios do Programa Naval mente, também em acumulação, reassume
um dos três melhores alunos do país
que completaram o ensino liceal no ano o comando da Zaire, que para treinoArquivo Histórico da Marinha
lectivo 1938/39. Em Setembro de 1940, dos alunos se desloca ao Algarve, tendo
após ter obtido altas classificações no subido o rio Guadiana até ao Pomarão.
Curso de Preparatórios Militares na Es-
cola Politécnica, em Lisboa, ingressa na Em fins do ano de 1950, termina tam-
Escola Naval, tendo sido admitido no bém a primeira fase da sua carreira na-
“Curso do Restaurador”. Faz a sua via- val. Durante sete anos tinha sido Chefe
gem de adaptação na velha Sagres, visi- do Serviço de Navegação de um contra-
tando portos de Cabo Verde e do Brasil, torpedeiro em zona de guerra e de um
em plena II Guerra Mundial quando o aviso em missão em Angola, comandan-
Atlântico era palco de sangrentas bata- te de uma canhoneira, enriquecido a sua
lhas navais em que a supremacia dos formação técnica com duas especializa-
submarinos alemães era então evidente. ções e acompanhado em Inglaterra a
Concluída a viagem, inicia em Feverei- modernização dos contratorpedeiros.
ro de 1941 o curso da Escola Naval, du-
rante o qual tem elevadas qualificações. Segue-se a fase de Hidrografia, que tem
Promovido a guarda-marinha, em Se- início em Janeiro de 1951, com o seu
tembro de 1943, efectua o respectivo es- embarque no NH Almirante Lacerda da
tágio como oficial imediato do patrulha Missão Hidrográfica de Moçambique.
P1. Este navio, cedido por empréstimo
pela Inglaterra, efectuava a rocega do Os métodos de posicionamento até
porto açoriano da Horta, importante es- então utilizados na Missão estavam limi-
tação de cabo submarino, e a fiscaliza- tados a curtas distâncias, o que impos-
ção entre as ilhas do Faial e do Pico onde sibilitava o levantamento do Banco de
por vezes surgiam submarinos alemães. Sofala que se estende até cerca de 100
Em Outubro de 1944, tinha sido promo- Joaquim Soeiro de Brito. milhas da costa, pelo que havia neces-
Cadete da Escola Naval - 1940. sidade de adquirir modernos equipa-
vido no mês anterior a 2º tenente, assume mentos electrónicos. Assim, mercê da
o cargo de Chefe do Serviço de Navegação Magalhães Corrêa. Terminada, em Maio de sua vasta preparação técnica, o Tenente
do contratorpedeiro Lima, sob o comando do 1948, a missão em Inglaterra, onde teve a Soeiro de Brito vai para os Estados Uni-
Capitão-tenente Sarmento Rodrigues, navio oportunidade de aumentar os seus conhe- dos a fim de acompanhar a construção
que já tinha nos Açores salvo centenas de cimentos técnicos sobre os novos sonares e do Raydist, na época o mais avançado equi-
náufragos de navios torpedeados e que nas radares, regressa a Lisboa para logo embar- pamento para posicionamento. Com a utili-
mesmas águas, debaixo de zação do Raydist foi em 1952 completada
violenta tempestade, atingira a cartografia do Banco de Sofala. Em Março
uns incríveis 67º de inclinação. de 1953 é promovido a 1º tenente. A Mis-Arquivo Histórico da Marinha
Este início de carreira muito in-
fluenciou o jovem 2º tenente. são elabora nos anos seguintes
A Guerra termina em Setem- não só cartas de toda a costa
bro de 1945 e logo em Outu- moçambicana até à foz do Ro-
bro, na Escola de Mecânicos, vuma, incluindo a Ilha de Mo-
em Vila Franca de Xira, é cria- çambique e o Arquipélago das
da uma nova especialização Quirimbas, como também dos
para oficiais, o curso de De- principais portos. Entretanto,
tecção Anti-Submarina (DAS), em meados dos anos 50, a
sendo o Tenente Soeiro de Bri- África do Sul tinha iniciado
to um dos quatro oficiais no- o desenvolvimento do Tellu-
meados para este curso, cuja rometer, equipamento para a
base era o estudo e operação Canhoneira “Zaire”. medição rigorosa da distância
em trabalhos geodésicos. Para
do Asdic, equipamento que estudar a avaliação do novo
seria instalado em alguns navios da Armada. car como Chefe do Serviço de Navegação sistema, o Governo Geral de
Obtida a especialização, é, a partir de Março no aviso Afonso de Albuquerque que larga Moçambique solicita-lhe a co-
de 1946, imediato da canhoneira Zaire, na- em Julho com destino a Angola, a fim de laboração, que atingiu tal nível
vio adstrito à Escola de Mecânicos para trei- participar nas cerimónias do 3º Centenário
no prático dos alunos, em acumulação com da Restauração. Em Setembro, concluída a que a firma construtora, sedeada na Cidade do
a função de instrutor dos cursos de DAS para missão em África, apresenta-se novamente Cabo, o convida para cooperar na apresenta-
sargentos. na Escola de Mecânicos e, em acumulação ção dos fundamentos do sistema, que mais
tarde seria adoptado pela Missão Geográfica
de Moçambique e pelos Serviços Geográficos
e Cadastrais do Continente. Profundo conhe-
cedor das técnicas de medição electrónica de
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