Page 22 - Revista da Armada
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A ”PEDRA FILOSOFAL”
DA
DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE ELECTRICIDADE E COMUNICAÇÕES
Tendo havido vários leitores a indagar a Revista da Armada sobre a origem de uma pedra existente na Direcção de Infra-estruturas
com os dizeres “Pedra Filosofal da Direcção de Electricidade e Comunicações”, e não havendo ninguém que pudesse dar uma
resposta cabal, acabei por pedir ao V/Almirante Vicente Almeida d´Eça que nos esclarecesse.
LRM
Em 1952, extinta que fora a
Aviação Naval, estava na Di- Necessariamente que muito apre-
recção do Serviço de Electri- ciei não só a ideia, como a sua ma-
terialização; uma peça sem dúvida
cidade e Comunicações a chefiar a invulgar que passou a permanecer
Secção de Comunicações; era en- na minha secretária onde desperta-
tão 1.º tenente. va a curiosidade.
Trabalhava numa mesa grande, Quando entreguei o cargo de Di-
com tampo de vidro, tendo na pa- rector do Serviço de Electricidade
rede fronteira um “mapa mundi” de e Comunicações ao comandante
grandes dimensões e alta qualidade Dias Martins, a passagem para as
que, salvo erro, fora mandado ad- suas mãos da “Pedra Filosofal” fez
quirir pelo então Comandante Ra- necessariamente parte da cerimó-
mos Pereira. nia, como a fotografia junta teste-
À minha frente, sobre a mesa, munha.
alinhavam-se encostados uns aos Muitos mais anos volvidos,
outros, num equilíbrio instável, li- numa sessão da Academia de Ma-
vros técnicos, instruções de comu- rinha, com a presença do Almi-
nicações, publicações várias e ele- rante CEMA Mendes Cabeçadas,
mentos de trabalho, entre os quais em que se evocaram os “100 anos
as previsões ionosféricas que foram de Comunicações na Armada” e
de minha iniciativa. na qual fizeram intervenções três
A um encosto mais brusco espa- vice-almirantes ligados à especia-
lhavam-se pela mesa, obrigando- lidade – Almeida d’Eça, Alves Sa-
-me a repô-los no seu lugar, o que, meiro e Moreira Rato – e também
dada a frequência, me aborrecia. Comandantes Almeida d’Eça e Dias Martins - 1973. o então capitão-de-fragata Gamei-
Não dispondo de pára-livros efica- do Serviço de Electricidade e Comunica- ro Marques, lembrei-me de pedir
zes, mandei uma ordenança buscar dois ções, vieram trazer-me uma peça que me à Direcção de Infra-Estruturas, onde a
paralelepípedos de granito a uma rua surpreendeu, formada por uma lâmina “Pedra Filosofal” se encontra, que me
das redondezas que estava em obras; de granito, extraída de uma daquelas pe- deixassem levá-la à Academia de Ma-
garanti com eles uma maior estabilidade dras, encastrada numa base de mármore rinha, ao que o Director prontamente
aos elementos de trabalho. preto, na qual estava uma placa com os acedeu.
Eram sem dúvida peças insólitas na- seguintes dizeres: A “Pedra” ficou na mesa da presidên-
quela mesa e por isso várias vezes me cia. Após as palavras de introdução
perguntavam por que razão estavam ali. proferidas pelo contra-almirante Rogé-
PEDRA FILOSOFAL
Enfastiado de repetir a mesma história, DA rio de Oliveira, Presidente da Acade-
resolvi dizer que eram fonte de inspira- DIRECÇÃO DE ELECTRICIDADE E COMUNICAÇÕES mia, e terminada a minha intervenção
ção para o trabalho que realizáva- que se lhe seguiu, fui buscar a
mos. “Pedra” e entreguei-a ao Vice- Foto SAJ L Carvalho
Aliás, esta ideia deve ter surgido -almirante Alves Sameiro, que
por me permanecer na mente uma falava logo depois, revivendo o
frase de um oficial inglês que muito cerimonial havido quando deixei
prezava, pelos seus conhecimentos a Direcção do Serviço de Electri-
de comunicações e pelas soluções cidade e Comunicações.
que apresentava nas reuniões em Aqui fica, em breves palavras,
que se preparavam os primórdios esperando que a memória me
das comunicações navais NATO. não tenha atraiçoado, a história
Tendo-o procurado no seu gabine- da “Pedra Filosofal” da Direcção
te de trabalho no Almirantado Britâ- do Serviço de Electricidade e Co-
nico, ocorreu-me perguntar-lhe de municações, Organismo que nos
onde provinha a inspiração para as seus 54 anos de existência pres-
suas propostas. Fitou-me por alguns tou valiosos serviços à Marinha.
momentos, olhou demoradamente
à sua volta, e respondeu-me: - “Está
imbuída nestas paredes”.
Vários anos volvidos, quando fui Vicente Almeida d’Eça
desempenhar o cargo de Director VALM
22 JANEIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA