Page 35 - Revista da Armada
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1ª 1913-1936

 Em 17 de junho de 1910, numa ocasião em que a arma subma-                                                quentes no rio Tejo e no treino da restante Esquadra para a luta a
rina ainda não tinha alcançado sucesso assinalável, o Ministro da                                         esta nova ameaça submarina, numa época em que se adensavam
Marinha, Comandante João de Azevedo Coutinho, encomendou                                                  os ventos de um conflito mundial.
aos estaleiros Italianos Fiat San Giorgio, em La Spezia, o primeiro
submersível português, o Espadarte. Lançado à água em 5 de ou-                                             Os exercícios decorriam sob a égide da Divisão Naval de Defesa
tubro de 1912, foi aumentado ao Efetivo dos Navios da Armada                                              e Manobra, sendo o submersível normalmente empregue na de-
a 15 de abril de 1913.                                                                                    fesa do porto de Lisboa, dentro do rio Tejo ou nas áreas de Sesim-
                                                                                                          bra e Cascais. Nestes exercícios, frequentemente eram lançados
 O casco foi construído em Livorno, em aço de alta tensão com                                             torpedos de exercício que provavam inequivocamente a eficácia
duplo casco na zona central, enquanto a instalação propulsora foi                                         desta arma e a capacidade furtiva do submersível, pois só era
montada em La Spezia.                                                                                     detetado por mostrar a proa fora de água como convencionado,
                                                                                                          após o lançamento daquelas armas.
  As suas características principais eram as seguintes:
Deslocamento em imersão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310 toneladas                    Portugal entrou na Grande Guerra em 9 de março de 1916 e o
Deslocamento à superfície. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250 “                        Espadarte iniciou prontamente as rotinas de patrulha da entrada
Comprimento máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45,15 metros                   do porto de Lisboa com uma duração normal de três dias, usual-
Boca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4,20 “  mente numa área a norte do enfiamento da barra sul.
Calado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2,98 “
Cota máxima de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 “                             O êxito obtido pelo navio e a sua notável utilidade operacional
Velocidade máxima à superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 nós                              levou a Marinha portuguesa a encomendar mais três unidades
Velocidade máxima em imersão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 “                                   ao estaleiro Italiano.

 A instalação propulsora era                                                                               Em 20 de outubro de 1917 são aumentados ao efetivo mais três
constituída por 2 motores die-                                                                                                                   submersíveis; Foca, Golfinho
sel a dois tempos com 350 ca-                                                                                                                    e Hidra, com praticamente as
valos cada para a navegação à                                                                                                                    mesmas características do Es-
superfície e 2 motores elétricos                                                                                                                 padarte, mas mais 10 toneladas
de 150 cavalos para navegação                                                                                                                    de deslocamento. Largaram
em imersão. A sua guarnição                                                                                                                      em formatura a 15 de dezem-
era constituída por 3 oficiais,                                                                                                                  bro de La Spezia sob escolta
18 sargentos e praças.                                                                                                                           do rebocador Patrão Lopes e do
                                                                                                                                                 torpedeiro Italiano Condore,
 Estava equipado com dois periscópios Russo-Laurenti e arma-
va com 4 torpedos Whitehead de 450mm, lançados através de 2                                               que mais tarde haveria de ser rendido por torpedeiros franceses,
tubos lança torpedos, localizados na proa.                                                                pois iriam navegar em áreas de operação de submarinos alemães.
                                                                                                          Felizmente os motores de combustão não revelaram os proble-
 Largou de La Spezia em maio de 1913 sem escolta rumo a Lis-                                              mas do seu irmão mais velho, contudo as condições meteorológi-
boa, desafio de respeito para um submersível costeiro e com mo-                                           cas, particularmente adversas e as derrotas em áreas onde tinham
tores diesel de fiabilidade duvidosa por só muito recentemente                                            sido recentemente afundados navios aliados, provocaram que o
terem começado a ser instalados em unidades navais. O trânsito                                            trânsito tivesse uma duração de quase dois meses. Navegaram de
foi iniciado poucas semanas após a entrega do navio, para que se                                          preferência à noite, em regime de guerra: prontos para imersão,
pudesse testar prolongadamente os motores de combustão, den-                                              com torpedos regulados para 7 metros de profundidade, escala-
tro do prazo de garantia de seis meses oferecidos pelo estaleiro.                                         ram Ville Franche, Toulon, Marselha, Cette, Port Vendres, Oran
Esta decisão verificou-se ser muito prudente, pois aquele trânsito                                        e Gibraltar.
revelou-se extraordinariamente atribulado, devido essencialmen-
te às inúmeras avarias que surgiram nos motores. Questão perfei-                                           Estes quatro submersíveis constituíram a 1ª Esquadrilha tendo
tamente natural quando se sabe que os motores diesel entraram,                                            assegurado, desde junho de 1918, a defesa do porto de Lisboa até à
na prática, em funcionamento em 1900.                                                                     assinatura do Armistício em 11 de novembro de 1918. Nos meses
                                                                                                          finais do conflito só os três mais recentes submersíveis participa-
 Os inusitados três meses de viagem numa plataforma com re-                                               vam alternadamente nas patrulhas, pois o Espadarte tinha entrado
duzidas condições colocaram à prova a tenacidade e perseveran-                                            em doca seca em agosto. Estas missões duravam 4 dias, permane-
ça dos primeiros submarinistas portugueses, tendo após escalar                                            cendo em imersão durante o dia e à superfície durante a noite.
os portos de Marselha, Barcelona, Valência, Alicante e Gibraltar
entrado em Lisboa a 5 de agosto de 1913.                                                                   No período pós Guerra, a 1ª Esquadrilha dedicou-se ao treino pró-
                                                                                                          prio e ao da Esquadra, contudo no início de 1927 o envelhecimento
 Foi-lhe destinado o canto SW da Doca de Belém, junto ao salvado                                          do Espadarte começou a causar preocupações, principalmente em
da canhoneira torpedeira Tejo e como únicas instalações de apoio,                                         relação ao estado do casco, situação que viria a culminar com o seu
um pequeno barracão. As frequentes cargas à bateria eram realiza-                                         desarmamento em 31 de maio de 1928. Pena que não tivesse ficado
das no Arsenal, por ser o único local com um grupo eletrogéneo,                                           musealizado para memória futura aquele que foi o primeiro sub-
o que obrigava o Espadarte a amarrar a uma boia e manobrar para                                           mersível português e um dos pioneiros nas Marinhas da época.
aproximar a popa de terra para ser possível passar os cabos elétri-
cos. Esta situação levava frequentemente o navio a tocar no fundo                                          Os restantes submersíveis foram desarmados já após a entrada
durante a maré-baixa o que só foi ultrapassado após cinco anos,                                           ao serviço da 2ª Esquadrilha, tendo o Golfinho sido abatido em 5 de
quando da instalação da Base de Submersíveis na doca de Belém.                                            dezembro de 1934, o Foca em 30 de janeiro de 1936 e o Hidra em 30
                                                                                                          de julho de 1936.
 As primeiras missões atribuídas ao navio consistiram na prepa-
ração das futuras guarnições dos submersíveis com imersões fre-                                                            Colaboração da ESQUADRILHA DE SUBMARINOS
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