Page 31 - Revista da Armada
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NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (25)

Duvido que alguém persiga um velho          Um homem livre
        condenado. Tenho planos, que só um
        homem livre pode ter…                       – Sim, outro qualquer poderia ter protestado…     vai emergir uma nova cultura, uma nova forma
   Vozes do ator Morgan Freeman, In “Os Con-        Saí a sorrir. Sorri porque desde há muito que     de estar no “ser profissional de saúde militar”.
denados de Shawshank”                              aprecio os escritos deste militar e a ideia que    Penso, também, que uma nova forma de ser
                                                   fazia dele foi – por este episódio, em que a       doente militar também parece estar a emer-
                                                   calma e a serenidade venceram – inteiramente       gir… Exemplos como o supracitado marcaram
                                                   justificada. Sorri, também, porque para aqueles    alguns pontos do nosso lado…
 Encontrei no HFAR (Hospital das Forças Ar-        médicos, a imagem de uma Marinha em que o           Em todas as circunstâncias sempre me assumi
madas), o nosso hospital, uma pessoa que foi       pessoal está habituado a sacrifícios e tem a dig-
importante na Marinha. Conheci-o mal, na ver-      nidade para tolerar muitas dificuldades e, por     – nesta instituição, que agora é a minha casa
dade nunca privei com ele, nem como militar,       vezes mesmo, a incompreensão, ficou manifes-       – como Marinheiro. Não me canso de elogiar
nem como médico. Estava na sala de espera          tamente reforçada…                                 os sacrifícios a que a condição militar obriga o
do Serviço de Urgência, no meio de                                                                    comum Marinheiro a suportar e o “modo de es-
muitos outros pacientes. Mais tarde
percebi que já lá tinha estado e ha-                                                                            tar familiar”, que caracteriza os em-
via sido enviado para uma consulta                                                                              barques. Recordo as minhas próprias
e, posteriormente, reenviado para o                                                                             viagens com saudade de um tempo
mesmo Serviço de Urgência…                                                                                      em que fiz amigos para a vida…

 Estava calmo, no meio de uma                                                                                    A seu tempo, estou seguro, outros
Sala de Espera cheia. Não exigiu a                                                                              marinheiros farão o mesmo, com as
ninguém os seus direitos de Oficial                                                                             suas experiências e o seu modo de
General (…ainda que seguramente                                                                                 estar… O distanciamento entre o
os merecesse). Falámos. Ele, admito,                                                                            velho hospital e o novo ficará tam-
conhecia-me talvez de vista… Entrei                                                                             bém mais curto, na medida em que
na urgência (local que visito quo-                                                                              mais marinheiros o reconhecerem
tidianamente, na prossecução dos                                                                                como o “seu hospital”…
meus deveres de médico), verifiquei
que a situação clínica não parecia                                                                               Quando as certezas me escapam
relacionar-se com qualquer entidade, aguda,                                                                     lembro a frase acima, que tirei de
do foro da minha área de especialidade.            Atitudes assim, tenho-o como seguro, só são                  um filme já antigo… Também eu
 Havia outros médicos, na ocasião de outros        possíveis a homens verdadeiramente grandes.                  tenho planos – de realização pro-
                                                   Pois só um homem grande tem a audácia de           fissional no HFAR – que só um homem livre
ramos, ninguém o conhecia. Expliquei, sucin-       ser humilde. Naquele dia e noutros, não pude       pode ter e a coragem para neles acreditar.
tamente, quem havia sido o “senhor” que eles       deixar de sentir uma profunda admiração pela       Naquele dia senti-me acompanhado naquela
tinham em lista de espera. Informei-os do já       forma de estar do Sr. Almirante. Achei que tinha   forma de estar…
longo calvário do envia/reenvia a que já tinha     feito mais pela Marinha no HFAR, naquele dia,
sido sujeito…                                      do que vinte dos meus fracos escritos, ou pelo      Finalmente, naquele dia ainda o Senhor Al-
                                                   menos dez memorandos… ou outros tantos             mirante despediu-se cordialmente desta forma:
 Lá se chamou o incógnito paciente. Foi obser-     discursos.                                          – Desculpe Doutor, pelo tempo que lhe
vado e orientado. Mais tarde um dos médicos
que o observou pode comentar:                       De certa maneira, tal como nos fazemos re-        roubei…
                                                   presentar fora do país, ou simplesmente quan-       Depois de uma frase como aquela, nada
 – Que Almirante educado e simpático… ou-
                                                                                                      mais fica por dizer…exceto continuar a sorrir
                                                                                                      e acreditar…

tro qualquer Oficial General teria protestado… do não estamos em casa, o comportamento de
Respondi de uma assentada:                         cada um conta na nova instituição. No HFAR                                           Doc

                                                   ACADEMIA DE MARINHA

PRÉMIO "ALMIRANTE SARMENTO RODRIGUES"
Está aberto o concurso na Academia de Marinha, até
   ao dia 30 de setembro de 2013, para atribuição do                O Regulamento do Prémio está à disposição dos concorrentes na Aca-
                                                                   demia de Marinha e em www.marinha.pt, na ligação para a Academia
Prémio “Almirante Sarmento Rodrigues”.                             de Marinha.
Este Prémio destina-se a impulsionar e dinamizar a pes-            Para mais informação pode ser contactada diretamente a Academia de
quisa, a investigação científica e o estudo da história das Marinha pelas vias abaixo indicadas:
atividades marítimas dos Portugueses.
O referido prémio é constituído por um diploma e por uma quantia
pecuniária no valor de 5.000€€ (cinco mil euros).                  ACADEMIA DE MARINHA
Podem concorrer a este Prémio os cidadãos nacionais e estrangeiros que Edifício da Marinha
apresentem trabalhos originais nos domínios referidos. Consideram-se ori- Rua do Arsenal
ginais os trabalhos inéditos ou cuja publicação tenha sido concluída no 1149 – 001 LISBOA
ano a que se refere o concurso ou, ainda, no ano anterior.         Telef: +351 21 098 47 13, + 351 21 098 47 07, + 351 21 098 47 15
Os trabalhos apresentados a concurso devem dar entrada na Academia Fax: +351 21 193 84 58
de Marinha até às 16H30 do dia 30 de setembro de 2013 (2ª Feira).  E-mail: academia.marinha@marinha.pt

                                                                                                      REVISTA DA ARMADA • JULHO 2013 31
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