Page 30 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA 			                         60

HOSPITAL DOS MARINHEIROS
PORTUGUESES NA RÚSSIA (II)

  O regulamento do hospital continha          por ano, passou a ter de funcionar o ano
algumas normas que, pelo seu interesse,       inteiro o que, aliado à má administração
julgo merecerem referência, assim:            dos negócios da Companhia dos Vinhos,
•	 A não observância, por parte dos doen-     levaram a que, em 1802, a situação finan-
tes, das ordens do expedidor, do médico       ceira fosse crítica só ultrapassada graças a
ou do enfermeiro era punida com a multa       generosos contributos do Marquês de Niza
de 1 rublo por cada falta.                    e do comerciante Teodoro Pinheiro.
•	 O roubo de qualquer equipamento era
punido com multa de 25 rublos, acrescida        Pouco depois, em 1805, talvez por difi-
do valor do equipamento.                      culdades económicas, foi necessário alte-
•	 Em caso algum poderiam o médico, o         rar a contribuição de cada navio para 15,20
enfermeiro, o expedidor e o capelão, que      ou 25 rublos de acordo com a respecti-
viviam no hospital, desviar para seu uso      va tonelagem, o que permitiu, em 1807,
próprio qualquer peça de equipamento ou       equacionar a compra de uma casa para
vestuário do hospital.                        instalar um novo hospital, tal propósito
•	 Os doentes em convalescença eram           não terá ido avante devido ao encerramen-
obrigados a assistir à missa dominical.       to do comércio entre 1807 e 1812.

  Como já anteriormente se indicou, o alu-      Até 1800, inclusivé, haviam estado hos-
guer das instalações era suportado pela Co-   pitalizados 563 marinheiros num total de
roa enquanto as despesas de instalação e      5669 dias de internamento, o que corres-
de funcionamento eram suportadas pelo         ponde a cerca de 30 doentes/ano e a cer-
contributo de 10 rublos por cada navio e      ca de 10 dias de internamento por doente.
por subscrição pública efectuada entre os     Foi no decurso dos primeiros anos 1782 e
comerciantes.                                 1784, que se registaram os maiores núme-
                                              ros de doentes internados, respectivamen-
  Tendo sido reconhecido, logo em 1783,       te 54 e 53.
não ser a subscrição a forma mais ade-
quada para o financiamento, foi criada,         Somente foi encontrado um caso, o ma-
então, uma taxa de 0,125% sobre o valor       rinheiro João António de, 18 anos de ida-
das facturas de cada comerciante. Outra       de e natural de S. Veríssimo em Barcelos,
das alterações ocorreu em 1789 quando,        cujo internamento se prolongou para além
constatando-se que quase todos os anos        da partida do seu navio, a charrua Nª Sª do
havia internamentos resultantes de rixas e    Carmo, de regresso à cidade do Porto onde
desordens a bordo, se estabeleceu que o       ficou registado, no respectivo livro de ma-
custo da hospitalização, nestes casos, fos-   trícula, que o marinheiro ficara doente em
se suportado pelos agressores, 5 rublos no    Cronstad sob responsabilidade do cônsul
caso de duração de internamento até uma       de Portugal naquela cidade.
semana e de 10 se fosse superior; logo nes-
se ano três marinheiros tiveram de pagar 5      Um dos aspectos que mais surpreende é
rublos cada um.                               a baixa taxa de mortalidade verificada, na
                                              verdade até ao final do ano de 1800, só se
  Nesse mesmo ano de 1789 a situação          haviam verificado dois óbitos, um em 1782
financeira do hospital era boa pois, para     e o outro em 1783.
uma despesa de 414 rublos e 66 copeques,
tivera uma receita de 451 rublos e 98 cope-     É de crer que, restabelecido o comércio
ques sendo, então, o saldo acumulado de       entre os países, o hospital continuasse a
286 rublos e 96 copeques.                     funcionar mas a má administração dos ne-
                                              gócios, mormente da Companhia dos Vi-
  A saúde financeira e o aumento do núme-     nhos, e a inadequação dos navios levaram
ro de doentes levou a que, em 1794, o nú-     a que o comércio fosse diminuindo e com
mero de camas fosse aumentado para 12.        ele o funcionamento do hospital que, tanto
                                              quanto foi possível apurar, ainda funciona-
  Com a morte do enfermeiro António           va por volta do ano de 1820.
Soares, foi o lugar preenchido pela sua viú-
va enquanto o capelão fora substituído por                                    Com. E. Gomes
um sacerdote polaco.                          N.R	. O autor nã	o adota o no	vo acordo o	rtográfico 	

  Quando o expedidor Francisco José Oli-      Notas
veira foi nomeado cônsul na Suécia proce-     1 Na eleição participaram Gomes Freire de Andrade e
deu-se à eleição, (1) em 1792, de um novo     Manuel Inácio Pamplona Corte Real.
expedidor, um dos candidatos era Dionísio     Fontes
Pedro Lopes, barbeiro em S. Petersburgo,      Gazeta de Lisboa 28 de Fevereiro e 7 de Março de 1783
que havia ido para a Rússia como criado de    Relações entre Portugal e a Rússia séc. XVIII a XX –
Celestino Velho, tendo recebido 7 dos 11      Catálogo de Exposição – MNE – ANTT 1999
votos, a votação não foi, no entanto, con-    Relações entre Portugal e a Rússia no séc. XVIII por
firmada pela Coroa que nomeou para o lu-      Rómulo de Carvalho, Lisboa 1979
gar João Henriques Jacques Schoeder, um       Cod. 692 Arquivo Geral de Marinha
dos dois estrangeiros candidatos ao lugar e   Relações diplomáticas Luso Russas – MNE – Lisboa 2004
que, na votação, recebera 3 votos.

  Em consequência da guerra o hospital,
que até aí funcionava quatro a cinco meses

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