Page 31 - Revista da Armada

SAÚDE PARA TODOS
ZONA
Os vírus são pequenos agentes infeciosos que se replicam apenas no interior das células vi-
vas de outros organismos e que têm capacidade de provocar doenças.
Existem várias famílias de vírus, agrupados pelas suas características. Uma das famílias
mais curiosas é a do Herpes Vírus Humano pois uma vez que infetem um indivíduo vão per-
manecer adormecidos no seu organismo durante toda a vida. Se ao longo da sua vida o indi-
víduo apresentar baixa defesa imunológica, estes vírus vão reativar, provocando nova doen-
ça. Um dos elementos desta família é o vírus Varicella-Zoster (VZ), que está na origem da
varicela, doença comum na infância, e do herpes zóster, vulgarmente conhecido por zona,
frequente na idade adulta.
O vírus VZ ao infetar pela primeira vez sensitivo afetado – dermátomo - e assim
um indivíduo provoca uma doença conhe- que o vírus atinge a superfície surgem
cida por varicela. É muito comum na infân- as vesículas (bolhas) pruriginosas e o ru-
cia, altamente contagiosa e os sintomas bor cutâneo, ambos característicos desta
normalmente revertem espontaneamen- doença. As vesículas contêm um líquido re-
te em menos de quinze dias. Acontece que pleto de vírus, pelo que nesta fase, as pes-
este vírus fica sempre latente (adorme- soas que nunca estiveram em contato com
cido) no organismo humano, para toda a o vírus, ou seja, pessoas que nunca tiveram
vida, por isso a recidiva é possível – o que varicela, podem ser contagiadas.
ocorre em cerca de 20% dos casos – muitas
vezes após várias décadas. A doença que As vesículas começam a ulcerar após 3-5
surge após reativação do vírus chama-se dias, dão lugar a crostas e depois desca-
herpes zóster (zona). Esta recidiva não se mam. No processo de cicatrização, a pre-
deve a um novo contacto com o vírus VZ sença de cicatrizes com alteração da pig-
mas sim a um estado de imunodepressão mentação não é incomum. Em pessoas
do organismo. Essa diminuição das defe- saudáveis esta doença regride totalmente
sas imunológicas é comum nos idosos, em em 2-3 semanas.
situações de stress, privação de sono, dia-
betes mellitus, infeção pelo HIV, neopla- A localização mais frequente desta doen-
sias malignas, quimioterapia, radioterapia, ça é o tórax, embora possa surgir em qual-
abuso de álcool ou drogas. Na maioria dos quer localização do corpo. Tem sempre dis-
casos desconhece-se a causa da reativa- tribuição semelhante a uma faixa e é unila-
ção. O aparecimento do herpes zóster nem teral, isto é, não ultrapassa a linha média do
sempre significa que exista alguma doença corpo. Os casos mais graves, que são raros,
grave subjacente. surgem quando os nervos afetados se si-
tuam na face ou crânio, podendo levar a ce-
O vírus, que habitualmente fica latente gueira, surdez, paralisia facial ou encefalite.
nos gânglios dos nervos espinhais ou crania-
nos, ao ser reativado vai-se multiplicar ao O tratamento da zona consiste geral-
longo do nervo sensitivo afetado, inflaman- mente apenas em medidas de suporte:
do-o. Isso provoca uma dor muito intensa, antipiréticos, analgésicos, antipruriginosos
descrita normalmente como choque, quei- e boa higiene da pele afetada, de forma a
madura, comichão ou formigueiro. Nesta prevenir infeções bacterianas secundárias.
fase inicial, que dura até quatro dias, tam- Atualmente existem também disponíveis
bém podem surgir sintomas semelhantes a medicamentos antivirais (e.g.: aciclovir, va-
uma gripe, tais como: dores musculares, ce- laciclovir e fanciclovir) que reduzem a du-
faleias, febre ou mau-estar geral. ração e severidade da doença, a dor asso-
ciada e a possibilidade de complicações.
A dor vai-se desenvolvendo na área (zona) Devem, contudo, ser iniciados nas primei-
da pele e mucosa inervada pelo nervo ras 72h após o desenvolvimento da primei-
ra vesícula. Consoante a situação clínica,
podem também ser prescritos corticoides
para diminuir a inflamação do nervo.
Um ataque de herpes zóster costuma
imunizar o afetado por toda a vida face a
futuros ataques – existem menos de 4% de
recidivas. A maioria recupera sem sofrer
efeitos duradouros.
Aproximadamente 10% dos indivíduos
afetados pelo herpes zóster – principal-
mente se acima dos 60 anos de idade e se
a área afetada for a face – progridem para
uma fase crónica que se carateriza pela
persistência da dor por mais de três me-
ses e pode permanecer por toda a vida,
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embora o habitual seja regredir no espaço
de um ano. A dor é sentida como choque
ou queimadura, contínua ou lancinante,
frequentemente agravada pelo simples to-
que da roupa com a pele afetada (hiperes-
tesia). Em alguns casos a dor é tão intensa
que incapacita a pessoa. Esta dor chama-se
nevralgia pós-herpética e acredita-se que
se deva a uma inflamação crónica do ner-
vo afetado. Pode ser minimizada com anal-
gésicos, narcóticos, antidepressivos tricí-
clicos (e.g.: amitriptilina ou nortriptilina),
anticonvulsivantes (e.g.: gabapentina ou
pregabalina), estimulação nervosa elétrica
percutânea, bloqueios nervosos, anestési-
cos tópicos (e.g.: lidocaína) ou tratamento
de longa duração com antivirais. A capsaí-
cina, um tratamento tópico em creme ou
adesivo, mostrou também um sucesso sig-
nificativo, pois cerca de 80% dos doentes
referiram melhorias da dor, apesar de um
terço sofrer dos seus efeitos secundários:
sensação de dor, queimadura ou rubor no
local da aplicação.
Ana Cristina Pratas
1TEN MN
Muito recentemente foi aprovada uma va-
cina para esta doença, ainda não comerciali-
zada em Portugal. Esta vacina surgiu após es-
tudos comprovarem que indivíduos que so-
friam exposição frequente ao vírus VZ terem
uma incidência mais baixa de herpes zóster
do que os que não tinham tido esse contac-
to. Isto sugeriu que o estímulo imunológico
podia reduzir a incidência da doença. Como
a recente vacina para a varicela tem demons-
trado ser muito eficaz, cada vez existem me-
nos crianças doentes, o que leva a que a po-
pulação mundial não mantenha o estimulo
imunológico para este vírus. Acrescentando
o facto que a idade leva à diminuição dos an-
ticorpos presentes no sistema imunitário e
que a esperança média de vida tem aumen-
tado progressivamente, o Centro de Controlo
e Prevenção da Doença dos E.U.A. recomen-
dou em 2006 que a vacina para a prevenção
do herpes zóster seja aplicada em todos os
indivíduos com idade superior a 60 anos que
tiveram varicela no passado. A vacina faz au-
mentar os anticorpos contra o vírus e assim
diminuir a probabilidade de reativação do ví-
rus adormecido.
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