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REVISTA DA ARMADA | 502

BRAVURA, GENEROSIDADE
E SOLIDARIEDADE

Éna orla marítima que os naufrágios mais impressionam, pelo        rítima da Figueira da Foz, a fim de a utilizar na acção de salva-
    dramatismo das situações daqueles que necessitam de sal-       mento.
vamento e pela bravura, generosidade e solidariedade dos que
prestam socorro.                                                     O seu trabalho foi complexo e arriscado, forçando à realização
                                                                   de várias tentativas de aproximação à balsa salva vidas, tendo sen-
   Embora tenha abordado este tema há anos na Revista da Ar-       tido dificuldades no seu avistamento, face à forte e alterosa ondu-
mada, resolvi recuperar alguns breves extractos do texto então     lação no local do acidente e à reduzida visibilidade, por ser já de
publicado, para salientar a notável acção de salvamento realiza-   noite. Repetidas vezes foi forçado a regressar ao abrigo de entre os
da pelo Agente 1ª Classe da Polícia Marítima (PM) Silva Santos,    molhes da barra, face à violência do mar. Porém, de forma cora-
no dia 6 de Outubro de 2015, à entrada do porto da Figueira da     josa e abnegada, a actuar no limite do risco pessoal, o Agente PM
Foz, onde naufragou a embarcação de pesca “Olívia Ribau”.          Silva Santos conseguiu alcançar a balsa salva vidas e recolher dois
                                                                   tripulantes, ainda com vida, tendo-os resgatado para terra, sãos
   Os grandes heróis do salvamento de náufragos sempre foram       e salvos.
Homens extremamente determinados, altruístas e caridosos.
Quando se tratou de auxiliar o seu semelhante, sob                   Nesta complexa e arriscada acção de salvamento, demonstrou
condições adversas de mar e correndo sérios riscos de              uma serena valentia. Serena, porque prudente nas acções rea-
vida, realizam façanhas de ímpar valentia, que os imor-            lizadas e no espírito imperturbável diante do perigo. Valentia,
talizam, não só pelo esforço, pelo sentimento de amor              porque não receou pela sua vida quando afrontou o mar muito
e pela fidelidade que demonstraram, mas, também,                   alterado.
pela firme obediência que revelam à obrigação de pro-
teger quem, num momento de suprema aflição, deles                    A responsabilidade moral evidenciada pelo Agente PM Silva
necessitou. Muitas vezes, quando outros recuaram, eles             Santos foi extraordinária!
decidiram fazer-se ao mar em pequenas embarcações,
liderando com firmeza e saber o seu pessoal, no salva-               Tudo subordinou ao movimento impetuoso e entusiástico da
mento daqueles que já perderam a esperança de ser                  sua alma para salvar vidas humanas, num gesto supremo de bra-
socorridos.                                                        vura, generosidade e solidariedade em prol dos náufragos.

   Estes actos excepcionais só são realizados por pesso-                                                              António Silva Ribeiro
as com uma invulgar vontade, firmeza de propósito e                                                                                     VALM
resolução. Também exigem extraordinários sentimen-
tos altruístas, fundados na bondade e na sensibilidade                                                                         DGAM/CGPM
para a iminência do fim trágico de vidas e para o desejo
inquebrantável de o evitar. Tais gestos só são possíveis           N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
a quem, como o Agente PM Silva Santos, por amor à condição
humana, sente o ímpeto moral de salvar os outros, sem esperar      O Agente PM Silva Santos foi condecorado no dia 9NOV2015
outra recompensa para além da satisfação do dever cumprido.        com a Medalha de Coragem, Abnegação e Humanidade,
                                                                   grau ouro, do Instituto de Socorros a Náufragos.
   Encontrando-se na Costa de Lavos, de licença na sua residên-
cia, ao tomar conhecimento, pelo Comando Local da Polícia Ma-
rítima da Figueira da Foz, do acidente da embarcação “Olívia Ri-
bau”, disponibilizou-se, de imediato, para participar na acção de
socorro aos náufragos. Ciente de que não era essa a sua estrita
obrigação funcional, mas consciente, também, de que o resgate
de uma vida se tem que sobrepor, em qualquer momento, cir-
cunstância ou cenário, ao estrito enquadramento estatutário que
configura uma profissão, o Agente Silva Santos soube, no imedia-
to, dar prioridade ao interesse público e à acção que era reque-
rida, e que correspondia a uma situação em absoluto estado de
necessidade.

   Perante a gravidade da situação, com uma balsa salva vidas na
água, na boca da barra, e com o arrastão já afundado junto à
extremidade do molhe exterior sul, considerou reunidas as con-
dições mínimas para resgatar náufragos, e solicitou o transporte
para o local de estacionamento da mota de água da Polícia Ma-

                                                                                                                      DEZEMBRO 2015 23
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