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VIGIA DA HISTÓRIA

SOCORROS A NÁUFRAGOS

  Como é sabido, a criação, em 1858, na       passavam a prestar socorro às pessoas e
cidade do Porto, da Real Casa Asilo dos       bens por elas afectados.
Náufragos resultou da constatação da
existência de muitos naufrágios na área         Extinto que foi o serviço de passagem
do Porto, naufrágios esses que, em mui-       entre as margens do Tejo, passaram as
tos dos casos, acarretavam a perda de         barcas e os respectivos barqueiros a in-
muitas vidas humanas. Alguns anos de-         tegrar o Grémio de Socorros a Náufragos
pois, em 21 de Abril de 1892, a criação       unicamente com a missão de socorro e
do Real Instituto de Socorros a Náufragos     salvamento a náufragos, especialmente
tinha como objectivo congregar todos os       aquando da ocorrência das cheias anuais.
serviços de Socorros a Náufragos existen-
tes nos portos nacionais, e bem assim de        Não foi possível conhecer qual a data
todos os que viessem a ser criados.           em que o Grémio deixou de funcionar,
                                              nem tão pouco conhecer qualquer relato
  Estou em crer que ao eventual leitor        das suas actividades e salvamentos efec-
não lhe passará pela cabeça a existência      tuados, que deveriam ter existido, pois de
de serviços de Socorros a Náufragos em        outro modo não teria grande justificação
locais que não sejam os portos nacionais      a criação de um organismo para o efeito.
mas, no entanto, eles existiram e, contra-
riando o estipulado na Lei, fora da alçada       O leitor interessado poderá confirmar
do Instituto de Socorros a Náufragos.         parte do que se referiu consultando as
                                              páginas da revista Ilustração Portuguesa
  Na verdade, ainda em pleno século XX,       do ano de 1912, aí encontrando uma fo-
funcionava em Santarém o Grémio de So-        tografia de Santarém, na qual se assinala
corros a Náufragos cuja missão consistia,     o Grémio dos Socorros a Náufragos; aí en-
especialmente durante as cheias anuais        contrará igualmente fotografias de vária
do Tejo, no socorro a pessoas e bens afec-    navegação, inclusive navios a vapor, na
tados.                                        Ribeira de Santarém.

  É importante, desde já, salientar a qua-                                  Com. E. Gomes
se impossibilidade havida na obtenção de
elementos sobre esse organismo; no Ins-       Nota : O edifício do Grémio dos Socorros a
tituto de Socorros a Náufragos o assunto      Náufragos ainda existe (em 2010), sendo
era totalmente desconhecido e na Câma-        até há bem pouco tempo o local onde de-
ra Municipal de Santarém muito pouco foi      corriam os ensaios do Rancho Folclórico da
possível saber do organismo em causa.         Ribeira de Santarém.

  Analisada a situação de Santarém, com       N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
um tráfego fluvial bastante significativo,
até porque grande parte das ligações com
a capital eram então garantidas através do
Tejo, sujeito a grandes inundações perió-
dicas, a existência de um serviço de So-
corros a Náufragos parece não ser de todo
descabida, muito antes pelo contrário.

  Foi a dimensão do tráfego fluvial que le-
vou a autarquia, em data que não foi pos-
sível conhecer, a criar um serviço de trans-
porte entre as margens do Tejo, serviço
esse garantido por barcas, sendo as taxas
cobradas por tal serviço efectuadas na
Casa da Passagem. Eram exactamente es-
sas barcas que, na ocorrência das cheias,

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