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REVISTA DA ARMADA | 509

          NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA                                                                        54



          PRONTO A VESTIR...



          PRONTO A SORRIR...







             m  dos sinais  mais importan-
         Utes dos militares é o uniforme.
          O uniforme é exatamente isso: uma
          forma  de  tornar  uniforme,  o  que
          naturalmente o não é – todos nós.
          Todos os seres humanos na sua in-
          finita diversidade. Se houvesse uma
          escala adaptada à avaliação estéti-
          ca dos uniformes, a Marinha ficaria,
          acredito, bem conceituada. Tomo-o
          mesmo por certo, tendo em conta
          todas as vezes em que, fardado, fui
          a um hospital civil; onde antes era
          apenas o “médico x”, passei a ser o
          “Doutor fardado”… é todo um ou-
          tro tratamento…
           Também  percebi  que  os  mari-
          nheiros têm orgulho no seu unifor-
          me e gostam que este lhes assente
          a  preceito.  Ora  os  uniformes,  na
          atualidade,  estão  dependentes  do
          pronto-a-vestir.  Esse  facto  torna  a
          personagem principal  desta histó-
          ria  muito  importante,  pois  permi-
          te  adequar  a  cada  um  a  imagem
          da Marinha. Conheço-a há muitos
          anos, como a conhecem quase to-
          dos os marinheiros. É a face humana do fardamento naval.  pelas vendas do patrão, estas suas atitudes são de uma gene-
           No seu estabelecimento poucos saem tristes, com o produto   rosidade que merece destaque. Pela minha experiência, propor-
          fornecido. As formas de agradar ao cliente são múltiplas, mas   cionam sempre uma visita agradável e a sensação de que para
          sempre com uma simpatia extraordinária. Deste modo, não se   algumas  pessoas  cumprir  bem  não  chega…  é  preciso  cumprir
          entrega pura e simplesmente uma camisa, ao contrário, enfatiza-  com simpatia…
          -se a qualidade do tecido e a forma “como lhe vai ficar bem…”  Um pequeno senão fica nesta história, no que ao autor diz res-
           No capítulo das calças, mesmo quando o putativo cliente es-  peito, a lojista em causa guia um carro vermelho vivo, cor que,
          colhe determinado número, a senhora em causa pode contestar   tenho pena, não se coordena bem com o verde da paisagem, que
          de forma séria, daquela seriedade que tem quem sabe o que faz,   também está presente nas orientações clubísticas de muitos dos
          o ajuste do modelo ao cliente em questão, afirmando (já com   seus clientes. Na verdade, será um pecado que lhe estamos dis-
          outro modelo na mão): “olhe, essas não lhe estão boas na anca,   postos a perdoar, tendo em conta o arco-íris que transporta na
          tenho aqui estas que parecem feitas para si…”       alma e que alegra a nossa vida…
           Nos domínios mais finos dos “Jaquetão” e “Dólmen”, não vi,   A Marinha ainda tem destas coisas, a capacidade para surpre-
          mas ouvi dizer que verdadeiros milagres de cirurgia plástica po-  ender, para influenciar as pessoas, para as fazer sentir melhor.
          dem acontecer naquela loja avançada. Ora acontece a redução   Raramente agradecemos as atenções que muitos nos dispensam,
          visível de um abdómen mais protuberante, ou o aligeirar de –   ou, pior ainda, tomamos a simpatia dos outros como garantida.
          muito importante para os militares do sexo feminino – determi-  Não o é… acontece graças a capacidades como esta de tornar
          nadas formas a contento das próprias e do decoro militar.   uma loja de fardamento num “pronto-a-vestir-pronto-a-sorrir” e
           Estamos, infelizmente, numa época em que são raros os atos   isto é uma arte que não está ao alcance de muitos…
          verdadeiramente altruísticos. Neste caso, atendendo a que a lo-
          jista não é dona do estabelecimento, nem recebe percentagem                                        Doc



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