Page 25 - Revista da Armada
P. 25
REVISTA DA ARMADA | 509
ESTÓRIAS 23
UNIVERSIDADE DA VIDA
ma das prerrogativas dos velhos é o facto de já terem vivido Se repararem, à medida que o tempo passa por nós as crispa-
Umuito e, como tal, terem aprendido muito, por muito bur- ções vão-se atenuando. Porque há mais elementos de informa-
ros que o tenham sido. ção para apreciar as situações e, por conseguinte, as coisas não
Quando a vida é aquela que quisemos viver, quando nela cor- se nos apresentam só como inconcebíveis, intoleráveis, inadiá-
remos alguns cantos do mundo, quando tivemos a oportunida- veis e tantos outros qualificativos começados por “in”.
de de a viver com grande intensidade, então estamos formados A Universidade da Vida ensinou-nos a reconhecer o mérito e
pela Universidade da Vida, em Cidadania do Mundo. o desmérito de tudo o que nos rodeia, como forma de defesa
O canudo está na alma e pode ser lido em cada ruga da cara. e sobrevivência.
A sabedoria é a que vamos aplicando diariamente, fermentada Havia velhos lobos do mar que à aproximação de terra já lhe
pelo calor humano que nos rodeia e servida com a temperança sentiam o cheiro muito antes que a vista a alcançasse.
da idade. Os velhos são, pois, uma reserva de conhecimentos que a
As estórias que contamos, mesmo se imaginadas, mais não maior parte das civilizações milenares, como as orientais, res-
são do que reflexo do que já fomos e já vivemos. peita e ouve sempre que não encontra nos manuais as respos-
Podemos ter mais ou menos jeito para pintar o quadro, mas tas de que se precisa.
a paisagem é facilmente reconhecida como já vista ou sonhada. Funcionam aí, como uma espécie de memória colectiva, que
Os personagens, ainda que ficcionados, podemos vê-los to- há que preservar.
dos os dias passar ao nosso lado na rua, olhá-los na TV ou reco- Os ocidentais atiram-nos para os asilos, para a ignomínia do
nhecê-los nos escaparates dos jornais. anonimato mais atroz e só deles se lembram quando querem os
Por muito que queiramos inventar, mais não conseguimos do seus votos ou constar no seu testamento.
que inventariar. Julgo que o meu diploma da UV não me confere mais que um
Em Macau, pouco tempo depois do 25 de Abril, conheci um passaporte para esse esquecimento colectivo.
médico do Exército, que deixou escapar esta pérola de sabe-
doria – “Ainda ontem era fascista e querem que hoje já seja
comunista? Deixem-me ao menos ler os livros!” Ferreira Júnior
Pois é! Os livros que já lemos e, sobretudo, os que não con- CMG
seguimos ler! Por falta de tempo, por falta de vontade, por não
os sabermos ler!
Já pensaram que a maioria dos livros que se publicam, são-no
em línguas de quem nem sequer conhecemos os símbolos grá-
ficos ou os ideogramas que as materializam na escrita, que não
tiveram tradução, ou mesmo que a tenham tido, não chegou ao Nota: Extraído do livro TERRA-MAR-E-GUERRA, Cogitações de um Marinheiro Alentejano.
nosso conhecimento a sua existência. N.R. O artigo não respeita o novo acordo ortográfico.
LIVROS
A Revista da Armada recebeu um exemplar do livro Duas Naus,
um Cruzador… e duas Fragatas, das edições da Revista de Mari-
nha, obra coordenada pelo CMG Temes de Oliveira.
Foi igualmente oferecida a obra Um Barrosão com História, de
Rui Rosado Vieira – editora Cidade Berço.
A Revista da Armada agradece ao VALM Alexandre da Fonseca e
ao Dr. Rosado Vieira a oferta dos exemplares, que contribuem para
o enriquecimento da nossa biblioteca.
JULHO 2016 25