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SUMÁRIO
ESTÓRIAS 41
02 700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento OS VALORES E MÉRITOS UMA TRAGÉDIA EVITADA (GUINÉ 1968)
DOS FUZILEIROS 04
07 NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa
09 Lusitano 17 AS LFP ARCTURUS E PROCION NRP Procion
s Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP) Arcturus e Procion,
18 Cerimónia Militar Aacabadas de construir no Arsenal do Alfeite, chegaram à
22 Direito do Mar e Direito Marítimo (13) Guiné-Bissau em princípios de julho de 1968, para reforçar o dis-
positivo naval. Eram comandadas, respetivamente, pelo Guarda-
24 Academia de Marinha -marinha Lopo Cajarabille e pelo Guarda-marinha Varela Castelo;
este facto constituía uma exceção à regra, porque todas as outras
25 Notícias LFPs em comissão na Guiné foram comandadas por oficiais da
Reserva Naval.
28 Novas Histórias da Botica (66) 11 BALANÇO DAS e tinham algumas diferenças em relação à série anterior, o que
Estas Lanchas faziam parte de uma nova série da classe Bellatrix
29 Estórias (37) ATIVIDADES 2017 – MARINHA se vai revelar muito importante para o episódio a relatar. Perma-
neciam na Guiné, desde 1961, as LFP Bellatrix, Canopus e Deneb,
30 Vigia da História (97) todas da primeira série, construídas na Alemanha. NRP Arcturus
As principais diferenças ente as duas séries eram as seguintes:
31 Desporto com a antena do radar no topo. As da primeira série tinham a
– A Arcturus e a Procion tinham um mastro central muito maior,
32 Saúde para Todos (51) antena radar por cima da ponte, a bombordo, portanto bastante
mais baixo.
33 Quarto de Folga muito diferentes e bastante maiores.
– Os reparos da peça Oerlinkon, feitos em chapa balística, eram
34 Notícias Pessoais / Convívios das de deslocamento máximo e 1,24 m de calado, as da segunda
– Enquanto as LFP da primeira série tinham cerca de 28 tonela-
CC Símbolos Heráldicos série tinham 40 toneladas de deslocamento máximo e 1,80 m
ATIVIDADES 2017 – AMN 20
de calado, por serem construídas com chapa de maior espessura
BALANÇO DAS
e possuírem maior capacidade dos tanques de combustível e
aguada. As velocidades máximas eram idênticas, pois as da pri-
meira série também receberam alguma chapa balística e com 7
anos de intensa atividade operacional já não atingiam as veloci- enfrentar. Uma das preocupações da Marinha centrava-se nas
dades iniciais. Lanchas Rápidas da classe Komar, construídas na União Sovié-
Precisamente no dia 17 de setembro de 1968 a Arcturus e a tica, havendo informação de que teriam chegado recentemente
Procion largam de Bissau para cumprirem a primeira missão ope- à Guiné-Conakry, mas pouco se sabia.
racional de média duração no rio Cacheu: navegar até quase à foz A existirem, quer no arsenal da Guiné-Conakry, quer no do
do rio Geba e depois para norte até à embocadura do rio Cacheu. PAIGC, era fácil deduzir que poderiam eventualmente ser utili-
Porém, nesta missão, as LFP tinham passado próximo da boia zadas contra as nossas forças, embora corressem um risco muito
de espera do Caió para saber se teria garrado , pois era muito elevado, face à nossa completa supremacia aérea na altura.
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importante para a navegação aterrar na Guiné. Assim, ruma-
ram para a foz do Cacheu, vindo de uma direção mais a Oeste A LFG HIDRA
do que o habitual. As LFP navegavam em companhia, o que era
uma situação rara, pois normalmente os trânsitos eram feitos de A Lancha de Fiscalização Grande (LFG) Hidra tinha sido cons-
forma individualizada. truída no Arsenal do Alfeite em 1964 e, nesse mesmo ano, che-
Capa gou a Bissau para fazer parte do dispositivo naval em permanên-
Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme
da Brigada Real da Marinha. A GUERRA NA GUINÉ cia. Em maio de 1968 assumiu o comando o 2º Tenente Mota
Foto SMOR L Almeida de Carvalho e Silva, rendendo o 1º Tenente Marques Pinto. Naquele 17 de
Estava-se em plena guerra do Ultramar e, de longe, no pior setembro, a Hidra estava a sair a barra do Cacheu, após ter cum-
teatro de operações em que participavam as unidades navais. prido os habituais 12 dias de cruzeiro no âmbito da operação “Via
Revista da
ARMADA Combatia-se o braço armado do PAIGC (Partido Africano para Láctea”, a qual tinha como propósito negar ao inimigo o trânsito
a Independência da Guiné e de Cabo Verde), apoiado política e
pela fronteira norte do território, atravessando o rio (cambança,
militarmente pelo vizinho do Sul, a República da Guiné-Conakry. na gíria local). O Comandante já tinha alguma experiência e sen-
Publicação Oficial da Marinha Diretor Desenho Gráfico E-mail da Revista da Armada
Periodicidade mensal CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria revista.armada@marinha.pt Os ataques aos navios eram frequentes, principalmente nos rios tia-se confiante em qualquer manobra.
Nº 525 / Ano XLVII Chefe de Redação ra.sec@marinha.pt estreitos que tinham que ser patrulhados noite e dia. Algumas O navio navegava a quatro quartos e com as peças encapadas, já
Janeiro 2017 Administração, Redação e Publicidade LDM (Lanchas de Desembarque Médias) foram mesmo afunda- que era previsível que fosse enxovalhado devido ao vento fresco
CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Revista da Armada – Edifício das Instalações Paginação eletrónica e produção
Redatora Centrais da Marinha – Rua do Arsenal Página Ímpar, Lda. das (e depois recuperadas). A psicose da guerra era evidente e as sempre presente naquelas paragens de mar aberto. Tirando o
1149-001 Lisboa – Portugal
Revista anotada na ERC 1TEN TSN -COM Ana Alexandra G. de Brito Telef: 21 159 32 54 Estrada de Benfica, 317 - 1 Fte armas eram utilizadas com muita frequência. pessoal de quarto, a guarnição estava recolhida e a descansar.
1500-074 Lisboa
Depósito Legal nº 55737/92 Secretário de Redação Sobre o inimigo havia informações, muitas vezes não confirma- O Comandante vinha na ponte, com a atenção concentrada
ISSN 0870-9343 SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho Tiragem média mensal: 4000 exemplares das e, naturalmente, circulavam boatos sobre as capacidades a no radar, até a mesma ser desviada à voz do vigia: “Dois navios
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JANEIRO 2018 3 JULHO 2018