Page 30 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA                           101








                                                              O SUCEDÂNEO


                                                              DO BACALHAU










                                                                 assunto que hoje se propõe, contrariamente ao que é usual,
                                                              O  não tem nada a ver com a Marinha, a não ser que se con-
                                                              sidere, como um anterior Presidente da República afirmava ao
                                                              requerer o destacamento de um cozinheiro da Marinha para o
                                                              seu serviço, ser na Marinha o lugar onde se come o melhor Baca-
                                                              lhau à Braz.
                                                               A escolha do tema não resultou dos dotes culinários do pes-
                                                              soal da Marinha para a confecção da especialidade referida, mas
                                                              sim com a origem de um termo que no Dicionário da Língua Por-
                                                              tuguesa da Academia das Ciências surge como sendo obscuro,
                                                              na circunstância o pichelim, com o significado de sucedâneo do
                                                              bacalhau, mas de inferior qualidade.
                                                               Embora possa  parecer  estranho  para alguns,  no  decurso  do
                                                              séc. XVIII, a totalidade do bacalhau entrado na cidade do Porto,
                                                              de acordo com os elementos recolhidos por Virgínia Rau, os ele-
                                                              mentos constantes na publicação periódica “Correio Mercantil e
                                                              Económico de Portugal “ e nos mapas do movimento da barra do
                                                              Douro existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, era transpor-
                                                              tado por navios ingleses, sendo de admitir, como provável, que
                                                              no que se refere aos restantes portos nacionais, excepto algum
                                                              caso pontual, o panorama não devesse ser muito diferente.
                                                               É nas páginas da publicação periódica atrás referida que se me
                                                              afigura encontrar-se a origem do termo em causa.
                                                               Para além do bacalhau, especialmente quando o seu abaste-
                                                              cimento escasseava, era frequente a importação de peixe seco,
                                                              vindo na sua quase totalidade do porto britânico de Lynn, que nas
                                                              páginas do Correio Mercantil surge inicialmente referido como
                                                              peixe de Linn, para pouco tempo depois surgir referenciado como
                                                              piche de lynn e não muito mais tarde, finalmente, como pichelim.
                                                               O exemplo que se apresentou não é – longe disso – a única
                                                              corruptela que naquela publicação se encontrou, sendo que esta
                                                              parece ter sido a única que vingou.


                                                                                                                                                Cmdt. E. Gomes
                                                              N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico















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