Page 9 - Revista da Armada
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NRP AFONSO CERQUEIRA
A DERRADEIRA MISSÃO
NRP Afonso Cerqueira entrou ao serviço da Marinha portu- Cumprindo com o plano de segurança elaborado pelo Comando
O guesa em 28 de junho de 1975 e no dia 4 de setembro de da Zona Marítima da Madeira, pelas 14:30 estava tudo pronto
2018 iniciou a sua última viagem. Em apenas um minuto e trinta e, apesar da concentração, não estávamos indiferentes às multi-
e quatro segundos chegou ao seu último destino… a sul do Cabo dões em terra e às embarcações a rodear o navio para assistir ao
Girão na Ilha da Madeira, a 30 metros de profundidade e a escas- culminar da operação.
sos 400 metros de costa. Dada a ordem e executado o “fogo”, pelas 15:00 horas, coin-
À semelhança do NRP General Pereira d´Eça em 2016, o objetivo cidindo com a última badalada do sino da Igreja de Câmara de
foi a criação de um recife artificial proporcionando um habitat a Lobos, o navio ficou “invisível” à superfície, levando apenas
inúmeras espécies marinhas que serão a sua última guarnição. alguns segundos até assentar na sua eterna posição.
Neste projeto, a Marinha desempenhou um papel fundamen-
tal, inicialmente com a cedência do navio, assessoria técnica na Colaboração do COMANDO NAVAL
área do material e apoio logístico, e por fim com a participação
duma equipa de mergulhadores que executou uma tarefa pouco
comum, afundar o navio.
Durante aproximadamente dez dias, na ilha da Madeira, uma
equipa de mergulhadores colocou em prática o plano por si ela-
borado, iniciando a fase final da complexa operação de afunda-
mento. Nesta fase, os mergulhadores foram responsáveis pela
execução de aberturas no casco do navio com recurso a cargas
explosivas e, posteriormente, realizar os primeiros mergulhos
para garantir que o navio apresentava as condições de segurança
para poder ser visitado pela comunidade subaquática.
Dois dias antes do afundamento, no dia 2 de setembro, o navio
fez a deslocação para o local exato do afundamento, ficando fun-
deado. Durante esses dias foi possível ver o navio enquadrado
com o cenário deslumbrante da encosta do Cabo Girão.
Durante esse período a equipa de mergulhadores iniciou a fase
mais importante da operação, a colocação das cargas nos locais
específicos, tal como planeado. Foram colocadas 16 cargas explo-
sivas ao longo do casco do navio com o objetivo de proporcio-
nar um afundamento estável e controlado, iniciando preferen-
cialmente pela proa, uma vez que esta zona é mais resistente e
sabendo que o choque no fundo é de extrema violência.
O dia “D” chegou. A alvorada de dia 4 de setembro foi cedo,
faltavam ultimar algumas tarefas a bordo. Numa perspetiva de
segurança apenas neste dia foi concluída e estabelecida toda a
linha de fogo, ficando o navio pronto para a sua última “viagem”.
Contudo, por uma questão de simbolismo até porque muitos de
nós tínhamos navegado neste navio, foi tomada a última refeição
a bordo. O almoço foi no refeitório das praças num ambiente com
alguma pressão por estarmos perto da “hora – H” mas também
com nostalgia e descontração à mistura, onde foram partilhadas
algumas vivências passadas a bordo daquele mesmo navio.
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