Page 17 - Revista da Armada
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pareça,  quando  a  perde.  O  há-
      bito  das  coisas  que  nos  fazem
      felizes  destroi  o  sentido  de  jus-
      tiça  para  lhes  darmos  real  valor.
      Mas  quando  a  adversidade  nos
      priva  dos  bens  que  possuíamos,
      sem  termos  dado  conta,  então,
      sentimos,  profundamente,  a  sua
      perda.  E  a  saúde  é,  talvez,  a
      primeira  e  a  maior  fel icidade  ou
      razão  de felicidade  que o  homem
      transporta  ao  longo  da  vida.  Ra-
      zão  que  não  depende  de  se  ter
      nascido  em  ambiente  cheio  de
      promessas  de  assistência  ou  nos
      recônditos  cantos  deste  mundo   S,  Tomé - Enfermaria do Hospital Central
      onde  aquela  não  chegou  vestida
      de  bata  branca,  armada  de  anti-  do  médico  e  do  hospital  rural,  sanitária  no  Ultramar.  Assistên-
      bióticos,  proporcionada  por gran-  com  as  equipas  de  prospecção  cia  que  leva  a  corpos  robustos
      des  blocos  operatórios,  de  reani-  da  doença  do  sono  ou  da  malá-  de  homens  desempenados  e  ra-
      mação,  rins,  pulmões  e  corações   ria,  com  a  vacinação,  que  não   parigas  esbeltas,  onde  a  saúde
      artificiais.  Esta  pode  ir,  sem  dú-  compreendem,  mas  aceitam.   não  acompanha  sempre  as  apa-
      vida,  mais  longe,  com  o  seu   E  a  assistência  sanitária,  como   rências,  a  cura  de  padecimentos
      imenso  arsenal  de  recursos.  Mas  a  assistência  escolar,  ganha  no   que  às  vezes  são  hábitos  e  que
      a  outra  é  tão  boa,  aquela  que  amor  e  no  reconhecimento  dos  ela  transforma  em  milagre  de
      aparece  na  modéstia  do  enfer-  povos  a  adesão  natural  e  sincera   alívio.  Grandes  obras,  como  os
      meiro  a  substituir  o  quimbanda,  que nenhuma força guerreira con-  grandes  hospitais  centrais;  pe-
      com,  frasco  de  comprimido  que  segue  nem  destroi.  Quem  tem    quen'as  obras, como  os  pequenos
      alivia  a  dor  a  substituir  a  mezi-  vivido  problemas de acção  psico-  postos  sanitários;  obras,  ainda,
      nha  de  excremento  aquecido  em  -social,  quem  tem  percorrido  os   de  que  de  fora  ninguém  aval ia
      óleo  de  palmeira.                matos  tentando  o  diálogo  com   a  dimensão,  como  a  aturada  e
      Sem  dúvida  que  a  evolução  tam-  povos de falas tão diferentes, quem   perseverante  pesquisa  laborato-
      bém  anima.  A  saúde  não  é  só  se  preocupou  verdadeiramente     rial  de  novos  métodos  ou  de  no-
      do  corpo,  dos  órgãos,  é  tam-  em  fazer  amigos  que  nenhuma  vos  medicamentos,  como  o  tra-
      bém  do  espírito.  Não  se  fica  pressão  de  ideologias  adversas  ,balho  de  recolha  e  comparação
      indiferente ao  posto sanitário  que  consegu iu obscurecer, sabe quan-  de  resultados,  planeamento  de
      se  constroi  de  pedra  e  cal.  Com   to  pode  valer  uma  quinda de  sal   campanhas  profilácticas,  de  tra-
      mesa  de  tratamentos.  Com  ca-   que  leva  iodo  para  as  carências   tamento  ou  de  rastreio  desen-
      ma para descansar o corpo dorido  evidentes  em  bócios  salientes,  volvido  nos  gabinetes;  são  tudo
      de  febres  e  magro  de  fraqueza.   apenas  adivinhados ou  suspeitos,  obras  para  a  saúde  dos  povos,
      O  agente  san itário  de  assistência  quanto  vale  o  comprimido  que  que  significam  mais  capacidade
      rural,  mal  se  distinguindo  dos  tira  a  dor.                     de  trabalho ,  mais  abundância,
      demais  vizinhos,  salvo  pelo  muito  Mas  sabe  ainda,  porque  lho  diz   mais  alegria  e  mais sólido  funda-
      que  já  sabe  e  ensina  de  higieni-  a  gratidão  duns  olhos  húmidos   mento  para uma paz  autêntica.
      zação  dos  ambientes  familiares,  como  os  das  gazelas,  quanto  a   Foi com estas obras que nos anos
      dos  arranjos  de  salubridade  das  jovem  grávida,  em  aflições  de   60  se  consegu iu,  pràticamente,
      povoações,  das  captações  e  tra-  parto  que  não  se  resolve,  reco-  irradicar  da  Guiné  a  ameaça  da
      tamentos  de  água,  é  o  alvorecer  nhece  do  fundo  da  sua  mater-  lepra  contagiante;  que  em  An-
      apenas  de  toda a  assistênc ia que  nidade  animal,  mas  humana,  a   gola  e  Moçamb ique  se  passou
      se  leva  ao  íntimo  dos  povos  rús-  salvação  que  foi  para  ela  a  ida   a  controlar  todos  os  doentes  do
      ticos.  Pois  quando  estes  enten-  do  pequeno  avião  onde  a  depu-  sono,  e  muitos  se  curaram;  que
      dem  ou  começam  a  entender  seram  com  infinitos  cuidados  e     se  disseminou  por  todo  o  lado
      o  que  pode  haver  de  benéfico  na  a  transportaram  ao  hospital  da   a  pesquisa  da  tuberculose,  e  o
      higiene  pessoal  e  alimentar,  na  cidade,  enquanto  pediam,  pelo   seu  tratamento;  que  se  levou  à
      limpeza  do  vestuário,  na  pince-  caminho,  que  estivesse  a  ambu-  sanzala a ideia da prevenção con-
      ladeia  de  mercurocromo,  na  gota  lância pronta no campo de aviação   tra  a  doença,  tão  ou  mais  impor-
      oftálmica,   alegram-se  com   a  no  momento  da  chegada.           tante  que  a  próprià  cura.
      chegada do enfermeiro e do posto  É isto, afinal,  entre grandes obras
      sanitário,  tempos  após  seguidos  e  pequenas  obras,  a  assistência

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