Page 415 - Revista da Armada
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do ano no Palácio de Belém. Aproveitando a presença
dos membros do Governo, o Presidente anunciou que tinha
resolvido agraciar o seu ajudante de campo, capitão-de-
-mar-e-guerra Nuno Frederico de Brion, com a comenda
da Ordem Militar de Santiago da Espada.
«E chamando-me de' parte, disse-me baixinho: "Agora
já pode usar a sua linda comenda ... "»
Voltou · à Marinha quando o general Carmona faleceu.
Foi nomeado comandante da Força Naval da Metrópole,
a percursora do actual Comando Naval do Continente.
Começou o comando na primeira como capitão-de-mar-
-e-guerra e acabou no segundo como almirante (nesse
tempo não havia o posto de comodoro).
Neste cargo realizou inúmeros exercícios, nacionais e inter-
nacionais, tendo contactado com muitas ·marinhas estran-
geiras, sobretudo as da N. A. T. O.
Lembrei ao almirante uma viagem a Inglaterra, em que
eu fui como imediato do contra torpedeiro «Tejo» e ele
como comandante-em-chefe da força naval de escolta ao
navio presidencial, o aviso «Bartolomeu Dias».
Recordámos a cerimónia de homenagem aos mortos da
Grande Guerra, na Abadia de Westminster. Estavam
presentes a rainha Isabel e o nosso Presidente, general
Craveiro Lopes, além de várias individualidades e muitos
oficiais da «Navy» e da nossa Armada.
A certa altura houve sorrisos na assistência quando entrou
o nosso Presidente acompanhado de um almirante inglês,
oficial às ordens, que tinha dois metros e tal de altura!
O contraste era tão flagrante que o jornal «The Times»
do dia seguinte classificava o caso como uma falha do
protocolo britânico... Realmente deviam ter escolhido
um almirante mais baixinho!
Despedimo-nos. Deixei o almirante entregue aos seus
afazeres de presidente do Instituto Ultramarino, cargo
Fotografia histórica -;- Visita da rainha Isabel de Inglaterra a que desempenha a título gracioso ... e onde se trata prin-
Portugal, em 1957. Opera no teatro de S. Carlos: no camarote
presidencial vêem-se a rainha Isabel e o príncipe de Edimburgo, cipalmente das pensões das viúvas dos funcionfu-ios do
o presidente Craveiro Lopes e a esposa, o presidente do Ultramar, militares e civis.
Conselho, o chefe do Protocolo e o contra-almirante Brion,
oficial às ordens do príncipe Ainda tive tempo de ver uma velhota a tentar beijar-lhe
as mãos, ao mesmo tempo que afirmava alto· e bom som
que ele é um santo e um pai para todas elas.
E já comigo do lado de fora da porta, o almirante ainda
me contou mais esta a propósito do que a senhora dizia.
«Há tempos uma comissão de viúvas quis eferecer-me
De 1947 a 1951, serviu, portanto, como ajudante de uma prenda mas eu, diplomàticamente, convenci-as a não
campo do senhor Presidente Carmona, de quem era muito o fazerem porque não gostava, embora ficasse muito
amigo e a quem recorda sempre com saudade e emoção: sensibilizado com a ideia.
«Olhe, comodoro, ele era tão simpático como isto: «Passados dias, uma delas .veio dizer~me que, uma vez
«Um dia, em fa mi li a, falava-se de medalhas bonitas e que eu não aceitava uma lembrança, tinham combinado
medalhas feias, medalha~ que valem alguma coisa e meda- que quando eu morresse iriam todas ao meu 1}meral ... »
lhas que não valem nada e eu disse que tinha uma
comenda lindíssima, feita de pedras preciosas, da Ordem Longe vá o agoiro, senhor almirante. A «Revista da
de Santiago. Herdara-a de meu bisavô, mas não a podia Armada" deseja-lhe muitos anos de vida.
usar por não ser agraciado ... O general Carmona pediu-me
que lha trouxesse para a ver. Ficou encantado e não se M. do Vale
conteve sem exclamar: "É unia verdadeira maravilha!" Com.
«Passaram-se anos. Foi num dia de cumprimentos de fim
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