Page 89 - Revista da Armada
P. 89
Na segunda metade do século
dezanove as nações mais fortes
apoiavam as grandes travessias
de descoberta e reconhecimento, r
distinguindo-se o missi'onário
ing lês protestante Livingstone,
o americano Stanley, o italiano
Brazza. Cientificamente, o objecti-
vo era definir o curso dos gran-
des rios, descobrir as nascentes
do Nilo, as bacias do Congo e do
Zambeze. Mas politicamente que-
riam desenhar-se fronteiras
de domínios , donde , depois,
pudessem retirar-se as riquezas
fabulosas que haviam de suceder-
-se a essa outra já posta em declí-
nio pela revolução industrial a
alvorecer: o escravo.
Portugal nunca soube fazer gran-
de reclame das suas realizações.
Dos descobrimentos, o pouco que
ficou escrito, quer em documento
redigido, quer no desenho de
cartografia, foi, na maior parte,
obra de estrangeiros. Que os
oficiais da Armada Hermene-
gildo Capelo e Roberto Ivens,
e o oficial do Exército Alexandre
Serpa Pinto tivessem também
feito obra de valor na grande ta-
refa de desvendar o interior do sobretudo, outros portugueses morte da esposa, e de uma filha,
misterioso continente, não foi tão teimavam continuar. q'ue eram seus entes queridos.
explorado quanto o merecia a Silva Nunes foi um destes. Jaime Parte, e quer partir para sempre,
tenacidade, o rigor científico Theodorico da Silva Nunes, 2.° para a África que também amava,
e a projecção da obra dos deno- tenente da Armada, desde jovem Para a África autêntica, dos con-
dados investigadores. Mas algo mordido por esse bichinho afri- fins, dos grandes espaços, das
ficou. Ficou-nos o direito moral cano que a tantos derrama no grandes distâncias, das grandes '
de permanecer, não por todos sangue a paixão de servir naque- obras por fazer.
os sertões onde a bandeira azul las . terras, sofre o desgosto de Bate-se em 1907 na ocu pação
e branca das quinas fora içada encontrar, no regresso duma do Cuamato. E logo nos anos se-
por portugueses, mas até onde, viagem de instrução, a notícia da g:lintes, com essa extraordinária
15