Page 116 - Revista da Armada
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Antologia do Mar



                                    e dos Marinheiros





             Edgar Poe                                                                 Pl!lo  cap.·frag.  Cristóvão  I'ttorl!ira





                  dgar  Allan  Poc  nasceu  cm  Bóslon,  a  18 de  Janeiro de
                   1809. filho de dois modestos aClores teatrais que mal che-
              E gou a conhecer.  pois  ambos ";ia t:trdaram  a sucumbir.
             minados  pela tisica.  Órfão aos três anos. o pequeno Edgar !oi
             adoptado por um cas,1! escocês. que lhe quis proporcionar uma
             educação cuidada, a qual passou pcla frequência de um colégio
             londrino. recordações que irüo anorar na~ páginas de .. William
              Wilson ...  Fracassada a sua  tentativa da carreira das armas. que
             ocorreu já depois de ler deixado a casa dos pais adoptivos. car-
             reira que não chegou a começar, pois viu-se expulso da Acade-
             mia Militar de WcSI  Poinl. Edgar Poc voltou-se para a literatu-
              ra:  ela seria  a constante duma existência atormen tada, onde o
             trabalho nasce  por entre a depressão e a embriaguez. e que a
              morte vem ccdo interromper. a 7 de Outubro de 1849. em Balti·
             more. contava apenas 4Oan05.
                Na carreira literária de  Edgar Poc. tfio intensa e breve, res-
             saltam três aspectos: o jornalismo. que abraçou em vários jornais
             e revistas em  Richmond. Filadélfia e Nova  Iorque. onde entre
             outros escritos exerceu a crítica em termos considerados como
              tendo contribu(do para o desenvolvimento das concepções esté-
             ticas do século XIX: a poesia. iniciada aos dezoito anos com O
             seu primeiro volume de versos ( .. Tamerlame and other Pecms.
              bya Bostonionon,,). e que em Portugal teve como primeiro tra-
             dutor um génio chamado Fcrnando Pessoa; e finalmente a pro-
             sa. esses contos em que Edgar Poe. mestre na «short story», dá
             largas à sua imaginação. com  ti qual. dentro dos limites duma
             escrita seca e rigorosa, constrói narrativas em que o romantismo
             alterna com o misterioso e o macabro, num realismo de tonali-
             dades onde o mórbido se junta ao fantástico. Ouando a Europa
             descobriu o romantismo dos contos de Pec. cm 1846. através das
              precios..1s traduções que dele fez Baudelaire. seu grande admira-
             dor.  já nos  Estados Unidos se  tornara famoso o detectivo Du-  (Folo tio Sl'rv;ço Ill' Donmrnrwçi1o do ., Diário dl' Noticias,,)
              pino predecessor de Shcrlok Holrncs. e figura de «O Duplo As-
             S<.1ssínio da Rua da Morgue ... publicado em 1840, no mesmo ano   Para a nossa antologia do escritor fomos buscar, inevitavel·
             cm que o escritor americano terminou o seu primeirovolumede   mente. algumas passagens de .. The Narrative of Arthur Gordon
             contos (  .. Tales of the Grotesque and Arabcsque .. ).   Pyn ... Publicado em 1838. foi a primeira das principais obras de
                Numerosos estudos feitos sobre Edagr Poe abordam. como   Poc. que para ela se inspirou na exploração desse mundodesc()-
              niio podi3 deixar de acontecer. a ligação da obra com o carácter   nhecido que. na primeira metade do século XIX. eram ainda as
             controverso da personalidade do escritor. e as desigualdades da   regiões polares do sul. O livro é a história. supostamente conta-
             sua  vida  atormentada. Mas o certo é que tanto a obra como a   da pelo próprio. de um jovem que. atraído pelo mar. e longe de
             figura  do autor sobreviveram  até aos  nossos dias, com a força   supor as misérias e desvcnturas que 11  um tal gesto se iriam suee-
             de um  talento universalmente reconhecido. não só pela via das   der. embarca  como clandestino  a bordo do brigue do capitiio
             ediçõcsque continuam a suceder-se portada a parte. como tam-  BarmlTd. pai de August: o amigo íntimo que o ajudará a escon-
              bém através do cinema e da televisão. que com frequência têm   der-se num porão. e com ele irá partilhar os pcrigosdos homens
             explorado o fifão do poder narrativo de Edgar Poc e dos prodí.   e dos oceanos. as peripécias e sofrimentos que em  tragédia se
             gios da sua imaginação.                             iTiioconsumar.


              De  «A  NARRA TIV A  DE  ARTHUR  GORDON  PYM»

                Citamo-mI'  Anltllr  Gordolt  Pym.  O   tros.  consl'guiu  arfllltjar uma {orlEma  ra-  quase Iodas as pessoas qlle visitaram Nova
             meu pai ua 11m  digno comerciatlle {oflle-  zoál'el.  Semia IIIl1is amor por mim. creio,   8ed{ord.  Fiquei IUI  slla escola ali à idade
             {'('(Ior  da  marinha.  em  Nanltlckel.  onde  do que por qualqllu ollfra pessoa no 1/11/11-  (II'  deutsseis  anO.f.  e  Iroquei-a  (!!Itão  pela
              IIII.rei.  O 1111'11 avô ma/I'rno ua de/egmlo 110   do. l' 1'11 linlta mOlh'os P/lrtI espemr ser her-  aea(/emia 110 Sr.  M.  E.  ROl/ald, lia mOMa-
              Ministerio Público,  com uma bela cliemt-  deiro  da  11/(/;or  parle  desla {ortunu.  En-  Ilha.  Ai relacionei-me intimamente eom o
             la.  TinlUl sone em /OdltS as coisas, e fez di-  viou-me.  tIOS seis aI/OS,  para a escola  do  filho  (lo  Sr.  8arnard.  copilão  de  /lovio,
             l'erStt.f especulações muito {elizes com os   vl'lho  Sr.  RickeflS,  I'aloroso  cavalheiro  q/le  "iaja~'a  ,rormalmenle  por  coma  da
             f/llulos 1/0  Edgarton  New  8ank (lquU/ulo   lllU' linllll apel/as tlllt braço e modos assaz  casa  t/oyd &  Vrede/lbur8  - o Sr.  Bar-
             c/II sll/l{ul/dução. Por estes meios e por ou-  excêntricos  -  i  bem  conhecido  de  que  ,tllf(1  é  igualmellle  bem  conhecido  em
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