Page 166 - Revista da Armada
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               A casa J . Lino & C."', com loja de  interessantes como as daqueles pe-  àquilo que, durante tantos anos, ale·
            materiais de construção na Rua Cais  quenos estabelecimentos cedo fize-  grau esses encantadores lugares de
            do Tojo e oficina na  Rua  Vasco  da  ram  com  que  eles  entrassem  nas  estar.
            Gama, depressa se especializou na·  nossas tradições. Existe actualmen-  Os CTT, excelente via de sensibi-
            quele tipo de contrução.          te pouco mais duma dezena e meia  lização das populações, emitiram  a
               Os principais largos e jardins da  de  quiosques  em  Lisboa,  e  ainda  19 de Março passado, quatro selos,
            capital  viram  aparecer o seu  quios-  bem que eles escaparam às sucessi·  todas da taxa de 20$00, que repro-
            que onde era feito o comércio de re-  vas modificações da cidade. Só ago-  duzimos,  ilustrando  os  mais  signifi-
            frescos, tabaco, jornais e revistas. O  ra  o espírito  de  preservação come-  cativos quiosques da capital.
            mais antigo de Lisboa foi o do Rossio  çou  a adquirir a  necessária  dimen-
            que, a pedido do grande boémio lis-  são e, reconstruindo quando as con-
            boeta  D. Tomás de  Mello,  foi  cons-  dições  o  exigem,  ou  conservando                M. Curado,
            truído  em  1868. Características tão  apenas,  está·se  a  restituir  a  vida               1."-ren.SG


            Retrospectiva








                   A  História da Marinha não é feita           a  sua luz, possamos, por retenção óptica, lançar  um
                   só de batalhas navais, viagens,              reflexo da sua beleza, da sua tormenta e do seu pres-
                   encalhes, naufrágios ... é feita também      tigio, sobre aquilo que olhamos. E  só depois de isso
                   de pequenas coisas, como estas.              estar assente como ciência certa,  eu ficarei de bem
                                                                comigo mesmo por ter acedido ao honroso, mas tre-
                o acaso fez com que me viesse parar às mãos um   mendo de responsabilidade, encargo de prefaciar um
             exemplar  do  "Manual  de  Marinharia  e  Navegação   livro ( .. .).
             Costeira)) , editado no Porto em 1941. Folheei-o, sem   Num país como o  nosso,  que nasceu debruçado
             finalidade nem interesse, e  preparava-me para o de-  sobre o mar, para o mar o  atirou a  sua adolescência
             volver, quando a  minha atenção foi despertada pelo  irrequieta. ímpulsiva e estenuante, e no mar firmou a
             prefácio, ou mais propriamente dito, pela pessoa que  sua personalidade mconfundível de soberania e alti-
             o assina, o falecido primeiro·tenente engenheiro ma·   va  independência,  lógico  era  ver  a  ancestralidade
             quinista naval Anibal Carneiro Giraldes.           marcar o  estigma  do  mar nas gerações sucessivas
                São desse prefáciO estes extractos, de boa prosa:  I .. ,).
                (. . .) A  abrir h'vros de novos, há sempre um nome,   Mas a decadéncia nacional que começou há sécu-
             que com solicitas cuidados de quem dirige primeiros  los e se alastrou a té nós, parece que embotou nos cé-
             passos, leva oautoratravésda multidão (. . .).     rebros e nos corações o senso do mar, parece que ce-
                Mas como da própria vida faz parte a  surpresa e   gou  os  olhos para  as caravelas  aureoladas, parece
             até o mverosímil, venho eu abrir um livro, eu que não  que fechou os ouvidos ao cântico eterno da Epopeia
             tenho nome, eu que não tive a virtude de ser «cavalei-  I ... ).
             rOIl,  eu que passo à pressa e envergonhado da minha   Para  um povo como o  nosso que se divorciou do
             inutilidade  por entre  as  multidões  anónimas,  sem   mar, que se afastou del e como um tresloucado aban-
             prestigio, sem obra, sem passado, marcando o ramer -  dona o solar dos seus maiores, há que fazer uma nova
             rão quase vegetativo, disfarçado pelas funções fisio-  propaganda,  uma nova catequese náutica.  que esti-
             lógicas que me obriga a ter que ir vivendo.        mule a vontade de marear, que reacenda a chama sa-
                Não sei se virá a decobrir-se um dia que nós, ho-  grada, mas quase extinta, desse sonho que nos levou
             mens do mar, à força dele espelhar nos nossos olhos  à Índia e nos deu o Império ( ... ).

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