Page 329 - Revista da Armada
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I  Nota de Abertura









                                Coisa bonita ...





                  isa bonita,  realmente.  foi  a  festa  de   da  freguesia  e  presidido  pelo  pároco  local,
                  N.· s.· da Esperança, realizada no dia     dr. Manuel Vieira, ao qual, por serem já duas
            C 5  de Agosto passado,  numa pequena            horas da tarde, l:odos fizeram as honras devi-
            aldeia da Beira Alta. das muitas que não cons·   das. Ou não fosse ali uma nossa região privile-
            tam dos mapas mas estão no coração dos que       giada dos vinhos do Dão! ...
            lá nasceram e foram criados. Terra milenária.       Depois, foi o concerto, sob a competente e
            o seu nome é  Mouraz e ·situa-se no concelho     simpática regência do tenente Araújo Perei-
            de Tondela. distrito de Viseu.                   ra.  A  assistência estava maravilhada e  não
               Poderá dizer-se que bonita foi ela sempre.    lhe regateava aplausos.  No final, e  antes do
            É verdade! Mas, desta vez, foi-o ainda mais.     hino nacional, banda e  povo cantaram juntos
            porque teve a inusitada presença da Marinha      e  com entusiasmo a  conhecida «Marcha dos
            de Guerra, na música da sua afamada banda        Marinheiros». Muitos antigos e  actuais mari-
            e na palavra de um dos seus capelães.            nheiros, em férias, ali estiveram e no olhar de
                                  ""                         al~s deles vi lágrimas de emoção!  Sauda-
               Cerca das dez da manhã saiu a procissão       des do mar e dos navios ...
            da igreja matriz,  rumo ao monte onde bran-         E ninguém sabia o que mais admirar, se a
            queja a capela da padroeira. Era uma bicha       gra nde qualidade da musica, se  o  aprumo, a
            enorme, com as crianças da Cruzada Eucarís-      simpatia, a dignidade e a disciplina que trans-
            tica.  os  homens  e  mulheres  da irmandade.    piravam daquele bando de gaivotas brancas
            com pendões e  andores, anjinhos e  amorta-      que vieram do mar à  serra trazer uma lufada
            lhados a  cumprir promessas feitas em horas      de ar fresco e lavado.
            de aflição, e ra o  andor de Nossa Senhora  co-     A  Armada Nacional não precisa de recla-
            berto de flores e  notas que os devotos lá iam   me, porque tem atrás de si muitos séculos de
            pendurando dura nte o trajecto, e ra o capelão   tradição,  gozando  a  estima  e  consideração
            Delmar Barreiros, e ra a filarmónica de Tonde-   dos portugueses que se revêem nela. Mas, a
            la e, finalme nte, era o povo em duas filas que   sua presença, ao vivo, tem um sabor muito es-
            se estendiam a perder de vista ...               pecial.  Cheira a  maresia. Dizia-me uma mu-
               Atravessou a  povoação,  debaixo de uma       lher do campo, que confessou ter visto o mar
            chuva  de flores que lançavam das janelas os     pela primeira vez aos 20 anos de idade, numa
            que não  podiam incorporar-se nela, e, debai-    e xcursão à  praia de Mira: Nunca pensei  ver
            xo  de um sol que já escaldava, seguiu monte     uma coisa destas ...  Na  televisão já é  bonita,
            acima, com foguetes a estralejar.                mas assim, mesmo ao pé da gente, é  um en-
               Lá no alto, ao ar livre e  no largo fronteiro   canto!  Benditas  as  mães  que alimentaram
            à  capela, foi celebrada a  missa, com órgão  e   com o seu leite, estes marinheiros todos ...
            coro. E logo aí a  Marinha marcou, no vibrante
                                                                                   ""
            sermão do capelão Delmar, sermão que ane-           E foi assim a festa de N.- S.- da Esperança
            batou a assistência e que jamais será esqueci-   naquela aldeia perdida nos pinheirais da Bei-
            do pelos que tiveram o privilégio de o  ouvir.   ra. Desculpem os pormenores e o entusiasmo
            Dizia-me alguém, no final, que, como aquele      que  pus na descrição.  Ê que eu  sou beirão,
            n unca  tinha oulrido nenhum a não ser o que     sou marinheiro e assisto a ela; .. desde menino
            ali foi feito pelo mesmo capelão há dois anos    e moço.
            e do qual ainda toda a gente fala !
               Terminadas que foram as cerimónias reli-
            giosas,  todos os olhares se voltaram para a
            curva da estrada de onde devia surgir a Ban-        N. do A  - Peço vénia para. am I10me das autoridades kr
            da da Armada. E foi um alvoroço quando che-      cais, religiosas e civis, de todos os que 8$Sistinun II festa e no
            gou.  Eram três enormes viaturas: duas com       meu próprio, apresentar os m aiS sinceros agrad9Cimentos 110
                                                             almirante Sousa Leitão, chefe do Estado-Maior da Armada, por
            os componentes da banda e  uma com o ins-
                                                             tal' a u torizado e dado todas as üll:ilidades para esta deslocaç.fo
            trumentaleacessórios.               _  .-        da btlnda e afirmar a minhe convioçlo de que, com estes mari-
               Seguiu-se o  almoço, oferecido pela gente     nheiros II com este povo, Portuglli jamais morreR.


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