Page 154 - Revista da Armada
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Voz









           CARTAS AO DIRECTOR

              Dos  nossos  leitores  e  amigos   José Teixeirada Silva Telhado   dores andaram muito tempo à paula-
           recebemos  a  seguinte  correspon-   Escreve-me para Ambriz."       da,  mas nenhum vencia o outro.  En-
           dtmcia:                                                             tão,  pondo o  cajado ao alto,  o  "Zé
                                                «1II.ma Senhora                do  Telhado»  disse  ao  adversário:
              Do sarg.-aj. A RF Joaquim Soa-
                                                Anna Lentina de Campos          «Olha, amigo Pardal, dá cá um abra·
           res  Reis,  Lisboa,  um  dos  nossos
                                                Freguesia  de  S.  Pedro  Rei  de  ço e segue o teu caminho em paz».
           mais  assíduos  leitores,  uma  carta,
                                             Caíde -Iogar da Sobreira pelo cor-  E,  puxando de uma bolsa, ofereceu-
           em complemento do que já foi publi-
                      s
           cado nos n.o 168 e 172 desta Revis-  reiode Vila-manhã               -lhe duas libras em ouro e ainda um
           ta, sobre o lendário «Zé do Telhado».   Província do Minho          naco de presunto, que ainda restava
           Junta um recorte do jornal «O Tem-   Lisboa."                       do assalto ao solar.  «Agora - acres-
                                                                               centou -, vai dizer aos teus compa-
           po»,  de  Penafiel,  já  extinto,  que
                                                No papel em que  esta  carta  foi
           transcrevemos:                                                      dres que te bateste comigo e que não
                                             escrita,  notam-se vestígios de lágri-  conseguiste vencer-me  ...
              Uma carta do José do Telhado
                                             mas,  certo  lágrimas  de  saudades
              Sob  esta  epígrafe.  «.0  Tempo»
                                             amaríssimas.
           no seu primeiro numero de 1930 pu-
                                                Diz Soares Reis que o .. Zé do Te-
           blicou o texto seguinte:                                               N. R. -  Estes elementos foram colhidos
                                             1hado»  era  natural  das  imediações
                                                                               de um dos filhos do .,Zé Pardal,., padeiro tam-
              José do  Telhado,  a quem a má   das freguesias de Caíde ou Vila Meã,   bém,  que  viveu  em  Vi/a-Boa  de  Quires,  de
           sina 8"8Stou para inóspitos sertões   a que ele chamava Vila Manhã. Sen-  nome Florindo.
           africanos,  não  era,  como  alguns  o   do ele também natural daquelas ter-
           querem  supor,  um  descrente,  nem   ras  muito  tem  ouvido  contar  a  seu      o
           um coração cerrado a sentimentalis-  respeito e relata um caso que se pas-
           mos. Disso é prova a carta a que hoje   sou  com  um  seu  ascendente  de   De  António  Joaquim  Furtado
           damos  publicidade,  dirigida  à  mu-  nome "Zé Pardal». padeiro de profis-  Correia,  Ponta  Delgada,  Açores,
           lher, escrita sem pontuação e em ex·   são,  que morava num local denomi-  uma carta em que recorda com sau-
           celente caligrafia, que devido à ama·   nado  Rua  Sobre-Tâmega,  sobran·  dade o tempo em que prestou servi-
           bilidade de um amigo, conseguimos   ceiro à ponte romana ali existente. O  ço na Marinha, lembrando vários na-
           copiardo original para, textualmente,   caso passou-se por alturas de 1858,   vios  e  oficiais de que jamais se  es-
           serinsertaem «O Tempo ...         após  um  assalto pela  quadrilha  do   queceu. Pelas pessoas que cita e pe·
                                             «Zé do Telhado ..  num solar que ain-  los postos que então tinham concluí-
              «Ambriz21 de Dezembrode 62     da  hoje  existe  um pouco antes  da   mos  ser  homem  já  de  certa  idade
              Anna                           barragem  do  Carrapatelo,  além  da   (velhos são os trapos ... ). Diz ele que
              Tenho escrevido muitas cartas e   vila de Marco de Cana vezes, onde o   tem  a farda sempre em ordem e se
           ainda  de nenhuma  recebi  resposta   bandoleiro foi julgado.       fosse  preciso  apresentar-se  para
           tua agora faço esta por mão própria   Ele  e os seps companheiros da   qualquer faina,  viria  imediatamente.
           só para vêr se el/a é entregue man·   quadrilha, que como constava na re-  S6  que  dificilmente  entraria  dentro
           da·me dizer o que é passado contigo   gião e no país, não roubavam, mas ti-  dela.  por ter «engrossado»  muito e,
           para eu daqui mesmo vêr se te reme·   ravam  para o seu  sustento  e  para   além  di~so,  a  traça  ter  já  entrado
           deio alguns males eu entrei no per·   distribuir pelos pobres, estavam de-  nela .. _
           dão do casamento do Rei fiquei em 15   pois do  assalto a descansar senta-
           annos  contando  o  dia  que sahi de   dos em pedregulhos, no sopé das al-         o
           Lisboa se Deos me conservar ainda   minhas, à entrada da ponte já citada.
           tenho  esperança  de  vêr essa  terra   A certa altura, vendo aproximar-se o   De José E. Ferreira dos Santos,
           mas talvez mais prompto que tu pen-  vulto de um homem com um cajado  capitão da Marinha Mercante, lis-
           sas se Deos me ajudar Anna eu o   na  mão,  um  dos  seus  gritou-lhe:  boa,  uma  carta,  na qual,  entusias-
           que estimo é que tenhas saude em   «Olhe, chefe, aquele é o 'Zé Pardal:   mado com o desfile de grandes velei-
           companhia dos meninos e meninas a   que por bem não faz mal a ninguém,   ros,  que  presenciou.  realizado  há
           quem muito me recomendo não.pos-  mas que é um ás no jogo do pau».   tempos no Tejo,  e com a beleza da
           so sermais extenso que o Vaporestá   Logo o «Zé do  Telhado»  desafiou o  nossa "Sagres», com a cruz de Cris-
           a sahire com istoadeos atéa vista.   Pardal para  um joguinho de pau à   to desenhada nas velas. lança a se-
              Deste teo marido que a  Vida  te   beira do rio, ficando os outros a ver,   guinte sugestão: Porque há-de ser o
           deseja por muitos annos.          do alto,  o resultado.  Os dois conten-  navio-escola  o  único  a  ostentar

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