Page 157 - Revista da Armada
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Contudo, num barquinho transparente.   Ó cidades fabris,  industriais,   As laranjas com cascas e caroços
          Noseu dorso feroz vou blasol/ar,   De nevoeiros, poeiradas de hulha.   Comes com bestial sofregllidão! ...
          Tufada a vela e I/'ágl/(I q//ase asseme,   Que pensais do pais que vos allllha
                                            Com frma que sui dos seus quintais?
          E ollvil/do mIlito ao perto o seu bramar,
          Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,   Todos os aliaS, quefrescor se exala!   o SENTIMENTO  DUM  OCIDElVTAL
          EJcarro. com desdém, nO grande mar/   A blmdãncias felizes que eu recordoi         A  Guerra  Junqueiro
                                            Carradas por aqui que iam para bordo!
                                            Vapores por aqui fa zelldo escala!                I
                                                                                        AVE  MARIAS
                MANHAS  BRUMOSAS
                            Foz do Tejo,  1877   Uma alta parreira moscalel
                                            Por doce IIãosl!rvia para embarque:   Nas nossas rlWS, ao anoitecer.
                                            Palácios que rodeiam Hyde-Park,
          Aqm'la, cujo amor mecUllSu alguma pella,   Não conheceis esse divino mel!   Há tal sOlllmidade, há tal melancolia,
          Põeochapéu ao lado, abre o cabelod                                  Que assombras, o bulício, o Tejo, a
                                   fbanda,                                                             fmaresia
                                            Poisa Coroa, o Ballco. o Almiralllado,
          E cOlllforte voz call/alla com qlle ordena,   Não as têm lias florestas em que há corças,   Despertam-me um desejo absurdo de
          Lembra-me, dr manh6. quando nas                                                               Isofrer.
                                fpraiasanda,   Nl.'m em vós qlle dobrais as vossas forças.
          Porentreocampoeo mar, bucólica,   Pr(l(larias dlim vertle ilimitado!   O céu parece baixo e de neblina,
                                  Imorena,                                    O gásexlravazado enjoa-me, perwrba;
          Uma pas/ora audaz da religiosa Irlanda.   Anglos-Saxónios, /elldes qlle il/vejar!   E os edifícios, com as chaminés, ea wrba,
                                            Ricos suicidas. comp(lrai COnvOSCO!   Toldam-se dWlla cor monótona e
                                            Aqui tudo espomãnl.'o. alegre. laSCO,
          Que líllguasfala? A olll·ir·lhe as inflexões   Facllimo, evideme, saiU/ar!                  Ilomlrilla.
                                  finglesas.
          - Na III?Voa azul, a caça, as pescas, os   Oponde ôs regiões que dão os villhos   Balem os carros d'alllguer. ao jlmdo,
                               [rebanhos!-  Vossos molltes d'escórias illda quelltes!   Le~'ando d via férrea os quese vâo.
          Sigo-lhe os allOs pés por essas aspae zas;   t; as febris oficinas eJtridellles              IFelizes!
          E o meu desejo nada em época de banhos.                             Ocorrem-me em revisla exposiç6es,
          E, ai/e de arribação, ele enche de sllrpresas   As /lassas tecelagens e moinhos!              I/mijes:
          SellS olhos de pertliz. redondos e                                  Madrid,  Paris,  Berlim, S. Petersburgo, o
                                 Icastanhos.   E écol/dados mineirosl Exlensões                        fmllndo!
                                            Carboníferas! Fundas galeriasl
                                            Fábricas a ~'apor! ellte/arias!
          As irlalldesas lim soberbos desmaulosi   E mecõnicas, tristes fiações!   Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
          Ela descobre assim, com lelllidões Ilfanas.                         As edificações someme emadeiradas:
          Alta. escorrida, abstracta, os grossos   Bem sei que preparai.1 Correctamellle   Como morcegos, ao cair das badaladas,
                                Itomozelo.v;   Oaçoeaseda, as lãminaseo estofo;   Saltam de viga em viga os ml.'stres
          E como aquelas são marítimas, serranas,   Tudo ° que há de mais dúctil, de mais           fcarpimeiros.
          Sugere-me o naufrágio, as músicas, os                        /fofo,
                                     fgelos   Tudo ° que há de mais rijo e resiSlellte!   Voltam os calafales, ao magotes.
          E as redes, a mall/eiga, os queijos, as                             Dejaquetõo ao ombro, enfarruscados,
                                fellDllpanas.                                                            Isecos;
                                            Mas isso tudo é falso, é maquinal,   Embrellho-me, a ci.1mar, por boqueirtNs,
                                            Sem a vida, como um c{rcu/o ou um
          Parece 11m «rllral boy .. ! Sem brincos nas              Iquadrado,                         fporbecos.
                                   forelhas,                                  Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
          Traz 1/1/1 veSlido elaro a comprimir-II/e os   Com essa perfeição do ftlbricado,
                                            Sem o ritmo do vivoedoreal!
                                   Iflancos.                                     E evoco, emão, as crónicas navais:
          BOiões a liracolo e aplicações vermelhas;   E cá asaI/Ia sol, sobre isso wdo.   Mouros, baixéis, heróis, tudo
          E à roda, IIum país de prados e barrancos,   Faz conceberas verdes ribanceiras;           Ire.fS/lscitado!
          xas minhas mágoas vão, mansíssimas   Lança as rosáceas belas e fruleiras   Luta Camões noSul, salvando um livroa
                                  fovelhas.   Nas searas de trigo palhagudo!                             Inado!
          Correm os sellS desdéns, como vitelos                               Singram soberbas nausqueell não verei
                                  Ibrancos.   Uma aldeia daqui é mais feliz,                            Ijamais!
                                            LOlllires sombria, em que cimila a
          E aquela. cujo amor me cU/lSa alguma                       Icorlel ...   E o fim da /arde inspira-me; e
                                    Ipena,   Mesmo que 114, que vives a compor-Ie,                   lincomoda!
          Pãe o chapéu ao lado, abre ° cabelo   Grande seio arquejante de Paris! ...   De um cOllmçado inglês vogam os
                                  là banda.                                                           fescalerl's;
          E com forte voz call/ada com que ordena,   Ah! Que de glória, que decolorido.   E em terra IIIlm linir de louças e talheres
          Lembra-me. de mallhã. quando nas   Qual/do, por meu mandado e meu   Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da
                               Ipraiasanda,                         fconselho,                           fm oda_
          Por enlre acampo eo mar, calólica,   Cá se empapelam "as maçãs d'espelho ..
                                  Imorena,   Que Herberl Spencer lalvez tenha comidol   Nllm trem de praça arellgam dois
          Uma paslora mldaz da religiosa Irlanda.                                                     Identistas;
                                            Para alguns são prosaicos, sâo banais   Um trôpego arleqllÍm braceja IIUIII(IS
                                            Estes versos de jibra suculellta;                            fwulas:
                       N6s                  Como se a polpa que nos dessedema   Qs querubills do lar flutuam !IOS varandas:
                       """                  Nem ao menos valesse Ul/S madrigais!   As portas, em cabelo, enfadam-se os
          Sim/ Europa do Norte. o que supões                                                            flojistas!
          Dos ~'ergéis qlle abastecem teus ballqlletes.   Pois oque a boca trava com surpresas
          Qual/do âs docas, com fmtas, os paqlletes   Sel/ão as frutas IÓl/icas e puras I   Va zam-se os arsenais e as oficillas;
          Chegam ames das tuas estações?!   Ah! Num jal/tarde carnes e gorduras   Reluz, viscoso, o rio; apressam-se as
                                            A graça vegetal das sobremesas.' ..                        lobreiras;
          Oh! As ricas "primeurs.. da nossa lerra                             E IIum cardwlle negro, hercúleas.
          E as tuas fmtas ácidas, lardias,   Jack. marujo inglês, lU tells razão                    Igallloreiras,
          No azedo amoniacal das queijarias   Qualldo, ancorando em portos como os   Correntlocomjirmeza. assomamos
          Dos flellmáticos ..[armers .. d' Inglaterra!               [nossos,                          II'arillas_

                                                                                                            11
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