Page 24 - Revista da Armada
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Partida do Prfncipe Regente para o Brasil em 27 de Novembro de 1807.  (Desanho de H.  L 'Evlklue - gravura de F.  Bartolozzi,  7815.  Mus6(J
             daCidadedeLisboa).
             Com o sacrifício das populações do centro de Portugal


             salvou-se ... uma esquadra de alto mar


                Foi realmente um facto fortuito, mas a verdade é    Onde está então o  caso fortuito que salvou a es-
             que alterou o curso da nossa história. Vejamos como.   quadra, e  a  corte de ser aprisionada como sucedera
                Na  primeira  invasão francesa,  comandada  pelo   à de Espanha, levada para Fontainebleau?
             general Andoche Junot, ajudante-de-campo de Na-        Está no atraso da entrada das tropas francesas em
             poleão Bonaparte durante a  primeira campanha de    Lisboa,  resultante dos saques, violações e  mortes a
             Itália e que viria a ser duque de Abrantes, o objectivo   que se entregaram os vinte e cinco mil homens de Ju-
             principal  era  alcançar  Lisboa  o  mais  rapidamente   not - famintos, rotos e estropiados - nos concelhos
             possivel e  aprisionar o rei de Portugal e a corte, que   de Proença-a-Nova, Sertã, Vila daRei, Mação, Sardoal
             se preparavam para abandonar o reino e estabelece-  e parte do norte de Abrantes. O lamentável holocaus-
             rem-se no Brasil.                                   to das populações destas terras da Beira Baixa e do
                Assim, em 20 de Novembro de 1807, Junot trans-   Ribatejo salvou a situação ... Triste, mas verdadeiro.
             pôs a fronteira e em 21 entrou em Castelo Branco. No   Tão verdadeiro que o próprio Napoleão, num do-
             dia 24 saiu de Cantigas para S. Domingues, onde per-  cumento que mandou publicar, reconhecendo os sa-
             noitou, chegando a  Abrantes no dia 25. No dia ime-  crifícios por que passaram as terras da Beira compre-
             diato chegou a Punhete - desde 1853 com o nome de   endidas entre as estradas de Salvaterra,  Idanha-a-
             Constãncia-e no dia 27 a Tancos.                    -a-Nova, Castelo Branco, Sobreira Formosa e Vila do Rei
                Nesta última localidade recebeu a  delegação de   isentou-as  de  contribuir  para  o  pagamento  de
             Oliveira Barreto, emissário de António Araújo de Aze-  100000000 de francos que exigiu ao país.
             vedo, ministro do reino de D. João VI, que ia tentar de-
             movê-lo de ocupar a capital portuguesa, o que Junot                        •
             não pOderia aceitar nunca, em face das ordens que ti-  O resto da história das invasões é conhecido de to-
             nha do própria Napoleão.                            dos.  Limitamo-nos, por isso, a  lembrar o destino do
                Por isso, prosseguindo a sua marcha forçada, nes-  despótico general Junot. Derrotado nas batalhas de
             se mesmo dia chegou à Golegã, seguindo daqui para   Roliça e Vimeiro e assinada a Convenção de Sintra, re-
             Santarém e Cartaxo, onde chegou a 28. No dia 29 pas-  gressou a França onde, minado de desgostos e de di-
             sou por Sacavém, às dez da noite, entrando em Lisboa   ficuldades  financeiras , acabou por se suicidar, num
             a 30 de manhã.                                      ataque de loucura, no ano de 1813.
                                                                    Antes de terminar, permito-me chamar a atenção
                                    •                            do leitor para o  artigo publicado no n.O 1511Abril84
                                                                 desta Revista, em que se define o chamado C!Centro
                Entretanto, no dia 27, estando portanto Junot ain-
                                                                 de Portugaln e bem assim aconselhá-lo a ver o Monu-
             da em Tancos, começou o  embarque da corte, e  das
                                                                 mento aos Mortos das Guerras Peninsulares, onde ar-
             15 mil pessoas que a acompanharam. A esquadra de
                                                                 tisticamente, na sua face poente, está bem simboliza-
             60 navios ficou, retida, devido ao temporal, e só no dia
                                                                 do o holocausto das gentes da região mencionada.
             29, ao fim da tarde, tendo o vento rondado do Sudoes-
                                                                                            JoaquimAntónioPrior,
             te para o Norte, suspendeu, saindo a barra já de noite.
                                                                                                       cap.-frag. MN
             No mar era aguardada por quatro navios de guerra in-
             gleses que lhe dariam escolta.                         N. do A. -  1.  Nesta regi~o.  na pane sul da ribeira de Codes.
                Quando Junot ocupou o Forte de S. Julião da Bar-  existe  um fone térreo. collstnl/do depois da retirada do geIJeral
             ra, viu-a ... por um óculo! Ainda mandou alvejar o na-  Massens, po~ ordem do eng." Fletcher, para defesa das liIlhas do
                                                                 vale do Z~zere.
             vio da cauda da esquadra portuguesa, mas os tiros
                                                                    2.  Frisa-se que o duque de Wellington se recusou a assin.ar a
             caíram no mar.                                      Convenç~o de Sin.tra -que permitia a retirada dos franceses com
                                    •                            armas e bagagens -por a considerar vexatória face A gloriosa sc-
                                                                 çAo das tropas portuguesas na Roliça e Vimeiro.
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