Page 293 - Revista da Armada
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Nota de Abertura






                              Desfiles militares




                   ou  militar  há  muitos  anos,  tantos que  quase   tria, se necessário for,  e a ajudar o povo nas suas justas
                   lhes perdi a conta! Por isso, reformado que sou,   causas; o povo, esse, apesar de algumas vozes agoiren-
                   jamais tomarei pane em desfiles militares ... in-  tas  e  dissonantes, continua a  rever-se nos seus mari-
             s felizmente.  Mas  muitos  fazem  parte  das  mi-  nheiros e soldados.   ..
            nhas passadas andanças de marinheiro; primeiro como
            aspirante da Escola  Naval.  depois como oficial,  subal-
            terno ou superior. Alguns deles ficaram para sempre na   E cheguei, finalmente, ao âmago da questão que me
            minha memória, pela imponência ou significado de que   propus trazeI a lume. Antigamente, os desfiles militares
            se revestiram.                                    faziam-se no coração da cidade, na sua sala de visitas,
               Nesses tempos,  havia entre n6s,  marinheiros, uma   entre o Parque Eduardo VIl e o Terreiro do Paço, com a
            certa relutância de aprender infantaria, argumentando,   tribuna montada na Avenida da Liberdade. O povo acor-
            como' desculpa,  que éramos homens do mar e  não de   ria em massa, os pais levavam os filhos, os avós levavam
            terra. Então, quando estava à vista uma dessas cerimó-  os netos, os maridos levavam as mulheres e todos vibra-
            nias,  lamos  para o  CoJpO  de  Marinheiros,  no  Alfeite,   vam  de  patriotismo,  todos  se  emocionavam,  todos
            aperfeiçoar o pouco que sabíamos sob a orientação dos   aplaudiam ... Quantos garotos resolveram ali enveredar
            «carolas» da infantaria, que os havia, embora em núme-  pela carreira das armas, ao ver o  aprumo, a  disciplina,
            ro restrito. E, quando íamos para a rua, deve dizer-se em   a  ordem,  que  irradiavam  aqueles  homens  fardados!
            abono da verdade,  faziamos  sempre sucesso.  O  povo   Os tempos mudaram e muitas coisas mudaram tam-
            adorava a  sua Marinha  e  ovacionava-a quando  a  via   bém.  Todos compreendemos isso. Porém,  há algumas
            marchar pelas ruas da capital. E nós sentiamo-nos orgu-  que é  imperioso manter, porque pertencem à  tradição,




























            lhosos da nossa profissão e, até certo ponto, compensa-  estão na alma do  povo,  são da cidade,  foram  sempre
            dos das agruras da dura vida do mar.  Lá vem a  nossa   assim, estão certas ..
            Marinha ... ! Viva a Marinha ... ! eram frases que nos atira-  E, obedecendo a todas estas condições, estão certa-
            vam as multidões que se juntavam para nos ver desfilar.   mente os desfiles militares  na Avenida da  Liberdade.
            Era  o  contacto  directo,  um  aceno de  simpatia  entre   Fora dela, são coisas de bairro, poucos vão ver, é fora de
            uma e outras.                                     mão, não têm significado nem jeito ..
                                  "                                                    U~ J«-CL

               Terá o  povo perdido a  estima e  consideração que                                     c/alm.
            sempre  teve  pelos  militares?  Terão  estes  perdido  o
            amor pela Pátria e pelo povo, que sempre foi seu apaná-
                                                                 N.  R. -Na/oto, de 1977, embora encobenopelos «/uzos~,
            gio? Para mim .. nada disso! As Forças Armadas estão,   pode ver-se o numeroso público (algum apinhado nos bancos)
            como sempre estiveram, prontos a  dar a  vida pela Pá-  que assiste ao desfile.


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