Page 296 - Revista da Armada
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de frente, curiosos dos seus sorrisos. de alfange rebrilhante e um velho o abraço da tua amizade e do teu
Lucrécia Bórgia ri. provocantemente, lembrando certas estatuetas de tim- perdão!...»
para um frade capuchinho. Além, Hi- -tins. A emoção embarga-me a voz.
E nesta situação embaraçosa,
tler passa de braço dado com o velho Quero gritar e não posso. Corro para
mais uma vez o " bloco» passou às
Aockfeller. ele. Piso a longa cauda do vestido de
mãos do outro camarada para conti-
Que vejo eu, agora? Uma camisa uma dama antiga a afogar em pó-de-
verde ... um chapéu colonial... um -arroz o largo colo desnudado e trope- nuar uma carta prometida na última
pull-over castanho, pousado, negli- ço na durindana enorme de um ge- noite de uma longa comissão em Ma-
cau ...
gente, sobre os ombros! ... Mas é ele, neral prussiano de bigodes. Silva Braga,
o meu perdido amigo, entre um turco «- Meu destitoso amigo! Dá-me va/m.
Voz da Abita
CARTAS AO DIRECTOR Para os que o não são, esclareço É que assim, como há mar e
que quando andamos a navegar te- mar ... tambêm há greves e greves ...
Dos nossos leitores e amigos
mos, As vezes, de racionar a água
recebemos a seguinte correspon- doce (a salgada não falta, mas não o
dência:
dá para beber nem para lavar) para
Do " Pezinhoc", cabo M, lis- que e/a Chegue para os dias que te- De uma carta dirigida ao coman-
boa, a carta que transcrevemos: mos que permanecer no mar. Então, dante da Escola de Alunos Marinhei-
cada homem tem, normalmente, 5 li- ros pelo pai de um recruta da 1.- in-
AS GREVES E EU tros por dia para se governar. Usan- corporação de 1986, se transcreve o
Na última carta que enviei para do um balde de madeira, dos que se seguinte:
publicação na "nossa Revista" usam na Marinha, uma esponja, um (. . .) Permita-me, Senhor Coman-
(Abril/Maio) manifestei a minha grati- bocado de sabão e alguma imagina- dante, que realce. ainda, o ritmo, a
dão aos grevistas do Metropolitano ção, consegue-se andar limpo e sem beleza e o rigor dessa extraordinária
e da CP por me terem dado a oportu- cheirar mal. É assim que na Armada e emocionante solenidade, no decur-
nidade de andar a pê, o que foi se safa a rascada quando a água ê so da qual eu não sabia que mais ad-
um beneficio para a minha saude, pouca! mirar. se a determinação, a compe-
tanto do corpo como do espírito. Tudo isto ê muito bonito, mas o tência e o profissionalismo dos peda-
Gostei, habituei-me, e agora faço-o pior ê O que se passa com a esmaga- gogos, se o entusiasmo, a destreza
com bastante regularidade, com a dora maioria das pessoas que, não e o empenho dos alunos. A verdade
vantagem de poupar uns tostões. sendo marujos, sofrem muito com é que, no final, ficou mais claro no
Desta vez (Junho) venho tam- estas greves. As crianças, os velhos, meu esplrito o relevantíssimo papel
bém endereçar os melhores agrade- os doentes ... são as grandes vítimas, das Forças Armadas na preservação
cimentos aos grevistas do gás da ci- não falando nos prejuízos que ad- e desenvolvimento das grandes vir-
dade que me forçaram a lavar-me e vem para certos serviços, como hos- tudes cívicas do povo que somos -
a tomar banho com água fria. Custa pitais, restaurantes, etc. e o muito que todos lhes devemos,
muito, mas ennlece os músculos e Anda agora muito em voga a mesmo só no que diz respeito à for-
poupa também alguns tostões ao ideia de regresso a natureza. O mun- mação humana e, atê, profissional
magrissimo orçamento caseiro, do está altamente poluído, hã lixo por da nossa juventude. Bem haja, pois.
cada vez a acompanhar com mais di- toda a parte. as águas estão conta- o punhado de cidadâos que, em
ficuldade a a custa de supress6es minadas, os pesticidas estragam cada geração, toma para sua profis-
sucessivas o aumento, que não tudo ... são e ofício social a carreira das ar-
pára, dos bens essenciais. Com jeito talvez o caso se resol- mas, em especial nos quadros da Ar-
Em ambos os casos falo apenas vesse. Façam mais greves, pare mada - essa instituição nacional em
por mim, com o poder de adaptação tudo, e teremos voltado ao passado: cuja história se espelha a própria his-
que a Marinha deu a todos os mari- andaremos a pê ou a cavalo, ilumi- tória de Portugal.
nheiros. Faltam os transportes? nar-nos-emos com candeias de azei- Aproveito o ensejo para apresen-
Anda-se a pê ... Falta o gás? Lava- te, iremos buscar água as fontes, fa- tar a Vossa Excelência, assim como
mo-nos com água fria e cozinha-se a remos serões ao luar ... Que maravi- aos oficiais, sargentos e praças em
electricidade ... Falta a electricidade? lha! serviço permanente nessa Escola,
Cozinha-se a gás e iluminamo-nos Termino perguntando se não ha- os meus melhores cumprimentos.
com velas ... Falta a água? Temos verá outra forma de resolver os pro-
em casa um depósito dela e lavamo- blemas laborais nos serviços indis-
-nosAmaruja ... pensáveis A população? • •••••••••••••••••••
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