Page 390 - Revista da Armada
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Um grumete português




              na corte de Pedro, o Grande,





             da Rússia






                    orno se sabe o czar Pedro I, o Grande, da Rússia
                    procurou modernizar o seu país para o trans·
              C formar numa grande potência europeia.  Para
             ver os progressos das nações ocidentais, foi ele pró-
             prio, em 1697, visitar alguns paises da Europa, entre
             os  quais  a  Prússia.  a  Holanda  e  a  Inglaterra.  em
             Amesterdão o burgomestre da cidade mandou reali-
             zar um simulacro de batalha naval, para divertimento
             do czar. Este entusiasmou-se tanto com o desenrolar
             do !!cambatslI que não resistiu a passar do iate onde
             se encontrava para um dos navios empenhados na
             luta que passou a comandar.
                Teria sido nesse navio que Pedro, o Grande, repa-
             rou  num  jovem  grumete,  ainda  imberbe,  que  com
             grande desembaraço subia aos mastros e executava
             todas as manobras de bordo com a  maior perfeição.
             Terminado o  ((combatell  mandou chamar o  rapaz e
             perguntou-lhe o seu nome. Este respondeu chamar-
             -se António Manuel de Vieira e  ser filho dum portu-
             guês emigrado na Holanda (possivelmente de origem
             judaica).  Como o  seu pai morrera alistara-se como
             grumete  por não ter meios  de subsistência.  O  czar
             simpatizou com o rapaz e convidou-o a entrar ao seu
             serviço. Vieira que teria então à volta de quinze anos,
             aceitou a oferta do czar e partiu com ele para a Rússia.
             Segundo outra versão, teria sido em Inglaterra e  no
             ano de 1688 que António Manuel de Vieira entrou ao
             serviço  de  Pedro,  o  Grande,  sendo então  grumete
             num navio inglês.                                   AntónioManuelde Vieira.
                Pouco se sabe dos primeiros anos da estadia do
             grumete  português na Rússia.  Possivelmente teria   1712. Vieira entrava assim na nova aristrocacia russa
             começado como pajem na corte de Pedro, o Grande.    de que era principal representante o príncipe Mens-
             Mas antes de 1708 era já capitão de cavalaria e cor-  chikov, grande amigo do czar e ele própria de origem
             reio do czar. O seu trabalho deve ter agradado. visto   humilde. pois tinha sido vendedor ambulante. De re-
             ter sido promovida a major naquele ano e, pouco de-  ferir que o titulo de príncipe era dado na Rússia a no-
             pois. a tenente-coroneL Em 1711 o czar deu-lhe o pos-  bres, mesmo sem serem filhos de soberano.
             to  de  ajudante-general,  criado  especialmente  para   Nos anos seguintes, Vieira executou diversas mis-
             ele e  outro oficial. o que mostra a  grande estima em   sões ao serviço do czar que depositava nele a  maior
             que o tinha. Vieira teria então 30 anos de idade.   confiança. Em 1713 foi encarregado de dirigir a cons-
                O  seu serviço de correio pôs Vieira em contacto   trução do porto de Reval (hoje Talin), onde se demo-
             com o  poderoso príncipe Menschikov.  Enamorou-se   rou  até 1715.  Mas o  principal cargo que desempe-
             então da irmã mais velha de Menschikov. Ana Dano-   nhou foi o de intendente da policia em S. Petersburgo
             lovna, que ficou grávida e pediu-a em casamento ao   (actualmente Leninegrado), de que tomou posse em
             irmão. Este ficou indignado com o procedimento de   1718.
             Vieira e  mandou-o vergastar.  Cruelmente maltrata-    S.Petersburgo fora fundado por Pedro. o Grande,
             do, o nosso compatriota queixou-se ao czar que obri-  no delta do rio Neva e seria de futuro a capital da Rús-
             gou Menscbikov a casar ã irmã  no praZO-de três dias   sia. Na construção da cidade foram empregados mi-
             com Vieira. O casamento foi celebrado a 3 de Julho de   lhares de trabalhadores, vindos de todos os pontos da

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