Page 169 - Revista da Armada
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Batalhas e combates da Marinha portuguesa (In)






         SEVILHA  (Verão  de  1369- 0ulooo  de  1370)
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               o começada primeira guerra com Castela, D. Fer-
               nando mandou armar trinta  e  duas galés e  trinta
         Nnaus o que lhe conferia grande superioridade na-
         val sobre os Castelhanos que tinham as suas forças dividi·
         das pelos portos da Andaluzia c da Biscaia. Dilo daquelas
         galés  e,  possivelmente,  algumas  naus,  acompanharam
         D. Fernando na invasào da Galiza; o grosso da armada foi
         enviado para o sul com a missão de assolar a costa da An-
         daluzia e bloquear Sevilha.
            Depois de ter saqueado Cádis e algumas povoações de
         menor importância, esta armada dirigiu-se para a foz do
         Guadalquivironde, depois de renhido combale, capturou
         uma  galé castelhana.  As galés  porlugucsas foram  então   Depois de conferenciar com o rei. Bocanegra equipou
         fundear dentro do rio, ao passo que as naus se conserva-  o melhor que pôde sete galés e com elas. numa das noites
         ram próximo de Sanlúcar de Barrameda. Com este dispo-  seguintes, saiu do Guadalquivir e dirigiu-se para a Galiza.
         sitivo ficaram cOrladas as comunicações por mar com Se-  O almirante Pessanha não se apercebeu deste movimento
         vilha, do que resultaram grandes prejuízos para a cidade.   e, quando constatou que as galés e o exército castelhano
            Prolongou-se o  bloqueio  por mais dum ano, sendo  a   tinham regresslldo a Sevilha. retomou o seu anterior dis-
         nossa  frota reabastecida a partir do  Algarve e de  Lisboa   positivo de bloqueio com as galés dentro do rio e as naus
         onde, por vezes, iam alguns dos seus navios para se refa-  próximo da foz.
         zer. Durante todo o tempo que dUTOU o bloqueio de Sevi-  O  almirante  Bocanegra  chegou sem  novidade à  Bis-
         lha . as guarnições dos navios portugueses sofreram gran-  caia , que era então a região marftima por excelência do
         des trabalhos e privações e, devido ao escorbuto provoca-  reino de Castela. e aí armou grande número de naus que
         do pela falta de alimentos frescos, e a outras doenças pro-  juntou às suas gall!s. ficando assim a dispor duma podero-
         vocadas pela falta de higiene, tiveram muita gente doente   sa armada com a qual se apressou a regressar ao Guadal-
         e um número considerável de mortos.                 quivir.
            Em dala que os cronistas omitem mas que supomos si-  A aparente facilidade com que as galés castelhanas fo-
         tuar-se  no Outono de  1370. o  rei de Castela dirigiu-se a   ram de Sevilha à  Biscaia e tornaram ao ponto de partida
         Sevilha e  mandou armar vinte galés que aí se encontra-  acompanhadas das naus que ali se armaram é que nos lt;va
         ·vam, para dar combate à armada portuguesa. Mas o seu   a crer que estes movimentos tenham tido lugar durante o
         aprontamento  fez-se  com  muita  dificuldade  porque  a   Outono. já que no Verão teriam sido muito arriscados por
         maioria  dos apetrechos necessários,  nomeadamente  re-  causa da nortada e  no  Inverno aindll  mais por causa dos
         mos, tinham sido levados para a vila de Carmona que es-  temporais de sudoeste.
         tava nas mãos dos partidários de D. Pedro. Por essa razão   Fazendo caminho para o sul , a armada castelhana en-
         as galés castelhanas foram equip<ldas com pouco mais de   controu nas imediações do cabo Espichei uma nau portu-
         meUlde dos remos da dotação normal. Em compensação,   guesa que apresou, após um breve combate. Levava essa
         embarcou nelas muita gente de <lrmas, fresca e aguerrida.   nau uma grande quantia em dinheiro destinada ao paga-
         Assumiu  o  comando da  armada  castelhana  o  almirante   mento dos soldos da noss<l armada.
         genovês Ambrósio Bocanegra.                            Quando  a  frota  castelhana .  regressada  da  Biscaia.
            Logo que teve a sua armada pronta. o rei de Castela   chegou à vista de Sanlúcar de Barrameda, é de supor que
         fê-Ia avançllT contra as galés portuguesas, .10 mesmo tem-  as naus portuguesas que ali se encontnlvam se tenham fci-
         po que a acompanhava. marchando com o seu exército ao   to ao mar. ao mesmo tempo que mandavam uma embar-
         longo do rio. de modo a poder reforçá-Ia com mais gente,   cação avisar o almirante  Pessanha que estava dentro do
         durante o combate, se tal fosse necessário. Apercebendo-  rio com as galés. Entretanto a armada castelhana fundea-
         -se das intenções do inimigo, o almirante português Lança-  va na foz do Guadalquivir ,engarrafando as nossas galés.
         rote Pessanha, que nessa altura teria consigo apenas de-  Com grande presença de espírito, o  almirante Pessa-
         z<lsseis galés e cujas guarnições estavam incompletas e en-  nha esperou pela noite e  mandou  pôr fogo a dois navios
         fraquecidas pela doença e pelo cansaço, resolveu. acerta-  carregados de azeite. que apresara  pouco antes. que de-
         damcnte, ir juntar-se às nause sair para o mar onde ficou   pois largou ao sabor da corrente na direcção da armad ••
         à espera dos Castelhanos.  Mas, nestas condições, o com-  castelhana. Os navios destil. que se sentiram mais amea-
         bate não convinha ao almimnle  Bocanegra que. além de   çados,  picaram apressadamente as amarras e afastaram-
         ter a cllpacidade de manobra das suas galés diminuída por   -se. criando uma brecha por onde não só passaram os bru-
         falta  de  remadores. não desejava combater com as naus   lotes como também todas as galés portuguesas que iam nll
         e as galés portuguesas que, depois de reunidas eram cm   sua esteira e que assim pudemm juntar-se às naus.
         número muito superior às suas vinte galés.             Reconhecendo então o nosso almirante que já miodis-

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