Page 170 - Revista da Armada
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punha de forças suficientes para bater os Castelhanos, re-
            solveu abandonar o bloqueio e regressar a Lisboa, onde
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            terá chegado, possivelmente. em fins de 1370.                                  BATALHA
               Durante o Inverno os navios permaneceram desarma-
            dos.  Em Março de 1371, foi assinado o tratadode Alcou-                       DE SALTES
            tim que pôs termo à guerra.
               O bloqueio de Sevilha, se bem que tenha constituído                            1381
            uma clara demonstração do poder naval português, des-
            gastou consideravelmente a nossa armada, sem ter acar-
            retado em  contraparlida quaisquer benefícios de ordem
            estratégica.


            SALTES  (17  de  Julho  de  1381)

               Na  terceira guerra com Castelu, enquanto aguardava
            a chegada  das  tropas  inglesas  para  iniciar as  operações
            terrestres. D. Fernando decidiu enviar a sua armada para
            o sul a fim  de proteger a costa algarvia contra eventuais
            ataques por parte da armada castelhana.
               Compunha-se  a  armada  portuguesa,  que  largou  do
            Tejo a  I I de Julho, de vinte e uma galés, uma galeota e
            quatro naus, com uma guarnição total de seis mil homens.
                                                                                 ~_ ....
                                                                                            -.
                                                                          PI'IOV,4YEl SI1t.IOÇÁO rAC7ICA NOwIao~ "..r~
            Era seu almirante João Afonso Telo. conde de Barcelos
            e irmão da rainha, que havia sido nomeado para o cargo
            em substituição de Lançarote Pessanha, caído em desgra-
            ça desde  1372 pela tristíssima figura que fizera na defesa
            de  Lisboa. O novo almirante era valente e decidido mas
                                                                             ..;::. ~  .
            pouco conhecedor da arte da guerra no mar.
               Chegado à costa algarvia. soube Afonso Telo que a ar-                  ~~
            mada  castelhana  ali  tinha  estado alguns dias antes  mas
            que retirara para a costa da Andaluzia. Convencido, pro-
            vavelmente, de que os castelhanos procuravam esquivar-
            -se ao combate, lançou-se imediatamente em sua perse-
            guição.
               Ao  alvorecer  de  17  de  Julho,  navegando  a  armada   Dai resultou que lIO dar-se o choque entre as duas ar-
            portugucsa ao largo da costa andaluza, próximo de Huel-  madas, houve uma tantas galés portuguesas, por certo as
            Vil, foram avistadas no mar algumas bóias de armações de   que estavam nos extremos da linha de batalha, que tive-
            pescil. E logo oito das nosslls galés, sem se dignarem pedir   ram de combater simultaneamente contra duas ou mesmo
            licença  ao almirante para abandon:lr a formatura, arria-  três galés castelhanas.  E sendo igualo valor dos comba-
            ram as velas e foram levantá-Ias na mira de arranjar peixe   tentes de ambos os lados, não é de admirar que após uma
            fresco ou marisco para o almoço! Afonso Telo viu e nada   luta porl"iada tenham acabado por ser vencidas.
            fez. continuando em frente com doze galés e a galeota. já   É claro que a partir do momento em que as primeiras
            que as quatro naus e uma glllé mais ronceira. por o vento   galés  portuguesas foram  tomadas,  a derrota  da  armada
            ser muito fresco. tinham ficado para trás.         era inevitável, porque as galés que as tinham rendido. de-
               Do conjunto de todas estas circunstâncias fortuitas re-  pois de deixarem as suas presas fundeadas, iam  reforçar
            sultou que, por valia do meio-dia, quando foi  avistada a   as suas companheiras  no ataque às que ainda continua-
            armada de Castela fundeada  na  ria de  Huelva , próximo   vam a resistir.  E assim foram tomadas Iodas as doze galés
            duma ilhota chamada Salles, o nosso almirante tinhil ape-  que iam na companhia do almirante Afonso Telo.
            nas consigo doze galés e uma galeota.                 Quando se aperceberam do combale. as oito galés que
               Pela sua parte, o almirante castelhano Sanches de To-  tinham  ido  à  cata  de  peixe  acorreram  imediatamente.
            var, logo que teve vista da armada portuguesa, saiu  para   Mas fizeram-no duma forma desordenada e, apesar de se
            o mar, formou as suas dezassete galés em linha de batalha   terem batido com galhardia. foram sucessivamentesubju-
            e veio demandá-Ia.                                 gadas.
               É provável que Afonso Tela só muito tarde se tenha   Restava apenas a galé que, por mais ronceira,  havia
            apercebido da verdadeira força do inimigo. E. nessa altu-  ficado muito para trás. Quando verificou que todas as ou-
            ra. já não seria fácil.  sem correr grande risco, inverter o   tras já tinham sido capturadas pelos castelhanos, inverteu
            rumo da sua armada para se aproximar das oito galés que   o rumo, juntou-se às nausccom elas regressou a Lisboa.
            tinham ficado para trás. Viu-se, portanto, forçado a acei-  Depois da  batalha, Sanches de Tovar dirigiu-se  para
            tar o combate numa correlação de forças de doze para de-  Sevilha subindo o Guadalquivir com as galés portugues.ls
            zassete. em vez de vinte e cinco para dezassete ou. pelo   capturadas  a  arrastar  os  pendões  pela  água.  perante  o
            menos. de vinte para dezassete. como teria acontecido em   gáudio das populações ribeirinhas e da própria cid'lde.
            circunstâncias normais.                               A derrota sofrida pcla armada portuguesa em Saltes,
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