Page 166 - Revista da Armada
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HISTÓRIAS DE MARINHEIROS/95
Golpe e contragolpe
le era um jovem tenente, no
inrcio da carreira. Um tanto in·
Egénuo e crédulo, os camara-
das de bordo tornavam-no vftima das
suas ircnias e brincadeiras, de que J
ele se defendia frouxamente. Na câ-
mara dos oficiais era muitas vezes o
imediato, já primeiro-tenente antigo,
que o cobria com a sua capa protec- •
tora, evitando excessos que pudes-
sem prejudicar a boa harmonia e ca-
maradagem que desejava prevale-
cesse entre todos os oficiais.
Numa comissão a Londonderry,
na Irlanda do Norte, o «destroyer»-
pois era esta a classe de navio onde
os factos se desenrolaram - ficara
amarrado à bóia que, dispondo de fi-
c cha telefónica, garantia comuniça-
o ções com terra.
Ora uma vez que o tenente esta-
o va de divisão alguém se lembrou de
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fazer-lhe uma partida original, em
que ele, na sua simplicidade, se dei-
xou embrulhar na maior boa fé.
Na mesa do oficial de serviço ha-
via dois telefones. Um, interno, ligan-
do diversas partes do navio, e outro,
o que comunicava com o exterior.
Numa altura em que o tenente saíra
para o convés, o camarada autor da
brincadeira foi-se aos telefones e tro-
cou-os entre si nos descansos. Des-
ceu, depois, para a casa das máqui-
nas, pegou no telefone e aguardou.
Um outro camarada levantou um dos
auscultadores da mesa e, junto da
porta que dava para o convés, cha-
mou o oficial de serviço, que estava
perto. Passou-lhe o auscultador para
a mão, informando, enganadora-
mente, que era uma chamada de ter- •
ra - de que ele não duvidou, natural-
mente, porque o descanso respecti-
vo estava livre.
Do outro lado do fio, uma voz fe-
minina, perfeitamente imitada pelo
camarada na casa das máquinas,
explicou, num inglês muito doce, que
soubera que um navio de guerra por-
tuguês chegara ao porto. E logo con-
J fessou o seu enorme desejo de co-
nhecer pessoalmente um oficial de
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