Page 213 - Revista da Armada
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rante os meses de Setembro e Outubro de 1880. Pois é
precisamente em Cascais, na noite de 28 de Setembro,
que uma esquadra francesa naquela baía fundeada , acen-
de, num determinado momento, luzes nos cinco navios
que a constituem. Espectáculo sem dúvida deslumbrante,
mas que não surpreendeu os habitantes, porque Cascais
tinha precisamente, dois anos antes, festejado o aniverá-
rio do príncipe D.Carlos, usando pela primeira vez no
nosso país electricidade para a iluminação das ruas. Estão
só instalados 6 candeeiros, mas o acontecimento, 9ue o
rolar dos anos fez esquecer. merece ser relembrado(").
De facto, Paris, essa grande e moderna cidade euro-
peia, centro da cultura universal, tinha feito as primeiras
experiências de iluminação eléctrica apenas três meses
antes.
Foi, certamente, o espectáculo oferecido pela esqua-
dra francesa que despertou no comando da corveta «Min-
delo», o capitão-de-fragata Pedro Carlos de Aguiar Cra-
veiro Lopes, o interesse de dotar o seu navio com luzeléc-
trica. O rei D. Luís interessa-se pelo assunto e põe à dis-
posição do navio uma máquina electra-magnética de
Gramme. O Instituto Industrial de Lisboa empresta um
indispensável regulador Serrin e o engenheiro maquinista
naval João Pinho, utilizando o movimento da máquina
William que o navio dispunha aplicada à bomba de circu-
lação, põe o processo em marcha.
Esteepisódio que é descrito nos ... Anais do Clube Mili-
tar Naval»e) , prossegue dizendo que as primeiras expe-
riênciasdeixaram muito a desejar quanto à intensidade da
luz. Existindo, porém, numa das repartições do Ministé-
rio da Marinha, uma outra e mais potente máquina de
Gramme, foi esta, então utilizada, tendo a instalação pas-
sado a dar uma resposta satisfatória. Pouco tempo se ser-
viu a corveta «Mindelo» desta novidade, porque foi supe-
riormente considerado que teria muito mais utilidade no
couraçado «Vasco da Gama».
Depois desta experiência, o primeiro navio que teve
luz eléctrica desde início foi a corveta «Afonso de Albu-
querque». Construída em Inglaterra, nos estaleiros The
Thames Iron Works, em Blackwall, foi lançada à água em
9 de Julho de 1884. Deslocava 1110 toneladas e dispunha
de máquina a vapor que lhe imprimiu nas provas a veloci-
dade de 13.3 nós.
A ... Afonso de Albuquerque» di~punha de um gerador
Siemens que alimentava 65 lâmpadas Swan de 20 e 40 ve-
Ias, além de dois faróis de bordo. No tejadilho tinha mon-
tada uma lanterna que iluminava o mar para vanteda cha- Vtl. tlktrk. JMblo<:.hkoff. Esta "tia qUt foi I/Sada nos Ris candttiros dI!!
miné e que, quando em funcionamento, absorvia comple- Cuscais, rtftridos no lU/O. UIl cOILf/itu(dll por dluu husfts dt cafl'ÜO,
tamente a energia do gerador(4). StpuradDS por umll subs/6ncia iso/adora. formado dt srofi/t I!! cooUno.
Assim nasceI/há l)Ol/CO mais de 100 allOs a luz eléctri- A /u: t'O produzido MIo arco ~'oIloico q/lt R formal'o nDS txtnmidlldts
dos Cllrv6tS.
ca a bordo dos nossos navios.
A. Estáôo dos Reis,
el . 00cilll'lIIt •. 1 dI' NOI'embm de 1878.
C) TomoX. 1&10. pp. 166·7. cap.·m··s·
(') Amólrio MtlrlJllts EspOrltiro . • Tr;S Siclllos no Mor •. coltcçtio
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r-.s/udos. l7-IV PllfftICOfl·t/(JSI4." Volumt. pp. JJ9tug.
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