Page 41 - Revista da Armada
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\1 Nota de Abertura
Mãe Marinha
e facto, quando assentamos praça as saudades dos tempos passados na pro-
na Marinha, voluntários ou recru- fissão que escolheram e à qual se dedica-
D tados, oficiais, sargentos ou pra- ram de corpo e alma.
ças, entramos numa família nobilíssima e Outros, a quem não sucedeu o mesmo,
passamos a ter nela uma segunda mãe. umas vezes por culpa dos tais traquinas
Uma mãe que não tira o lugar à verdadeira da família, outras por azares da sorte, não
mas que, em muitos aspectos, a substitui se conformam e cortam total ou parcial-
daí em diante. mente os laços que os ligavam à Armada,
Mãe de muitos filhos, uns melhores isolando-se dela. São também coisas de
outros piores, não deve ser responsabili- que ela não tem culpa e nas quais tam-
zada pelas traquinices de alguns deles. bém não tem mão ...
que não acatam as normas de boa convi- Todos sabemos que os que reagem
vência, seriedade e aprumo, nem respei- desta forma não amam menos a Marinha
tam os nobres principios em que ela os do que os outros. Ambos a têm no coração
educa. Como também não é culpada pela e ... não há forças humanas que a tirem
dureza da vida que lhes dá, nem pela delá!
parcimónia com que recompensa os seus Dizia-me há dias um ilustre camarada.
serviços. São coisas, umas e outras, que que deixou a Marinha no posto de primei-
não estão na sua mão ... ro-tenente para se dedicar a outras activi-
Vem todo este mal-alinhavado intróito dades que o que faz da Marinha um caso
a propósito de um fenómeno que se impar são os navios. As amizades que ali
observa, creio que desde sempre, com os se criam, os bons e maus bocados que se
que deixam o serviço da Armada, por te- vivem em comum, o mar nas suas cam-
rem atingido a idade da reforma, ou por biantes de leão e de cordeiro, a interde-
outra qualquer causa acidental. Pode di- pendência em que decorrem as activida-
zer-se que, de uma maneira geral, as pes- des de bordo ... são coisas que só a Mari-
soas reagem a essa desgraça de duas for- nha tem e que marcam os marinheiros
mas diferentes. para toda a vida. É ver como eles todos,
Uns, a quem a sua carreira correu mais reformados ou não, olham embevecidos e
ou menos como esperavam, continuam a com emoções os navios de guerra que so-
querer fazer parte da família naval e a bem e descem o Tejo! É ver o entusiasmo
considerar a Marinha como segunda mãe, com que contam as suas andanças por
frequentando as messes e clubes, lendo esse mundo ... Sem navios a Marinha não
as Ordens e os órgãos de informação da era nada!
Armada, promovendo convívios com os .u'd47.'/~
filhos da escola ... Tentam assim atenuar claJm.
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