Page 44 - Revista da Armada
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Antologia do Mar
e dos Marinheiros
Robert Louis Stevenson
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ascido a 13 de Novembro de 1850, em Edimburgo, na
Escócia, Robert Louis Stevcnson foi estudante de en-
genharia antes de se formar em direito - carreira que
N não chegou a iniciar, arrastado pela vocação para a li-
teratura: a sua vida seria dedicada ao ensaio, à crítica literária,
à poesia, ao romance, principalmente a contar histórias de aven-
turas, que deram celebridade ao seu nome.
De saúde débil, e apesar disso incansável viajante, Sleven-
son morreu quando contava apenas quarenta e quatro anos, a
3 de Dezembro de 1894, ém Samoa, na ilha dos mares do Sul
em que se fixara, desiludido dos sanatórios da Europa onde em
vão buscara cura. E nessas distantes paragens escreveu até ao
fim, sempre na plena posse das suas faculdades criadoras. Assim
o demonstra o último dos seus romances, .. CalTiona», aparecido
em 1893; eo livro que logo a seguir a mone veio deixar inacaba-
do seria, segundo alguns criticos, o melhor de todos. Mas, como
sucedeu com tamos outros nomes das lelTas universais, de Lorca
a Schiller, de Byron a Pessoa, a morte prematura de Stevenson
não impediu o legado do seu talento, manifestado em inúmeros
livros, na cadência harmoniosa e viva'da narração, exuberante
no mistério e fantasia de «Strange Case of Dr. JekyU and
Mr. Hyde» (1881), ou nas peripécias históricas de .. Blanc
Arrow» (1888), inspiradas nos ambientes e tradições da sua
terra escocesa.
Mas a obra máxima deixada pelo escritor britãnico, cimento
da sua fama, foi .. Treasure Island». Publicado pela primeira vez
em 1881, objecto de incontáveis edições, guião para diversas
fitas de cinema, .. A Ilha do Tesouro» tornou-se um clássico do
livro de aventuras, e o encanto de sucessivas gerações. As figu-
ras de Jim, o pequeno protagonista, o coxo Silver, o médico, o
capitão, andam gravadas na memória da juventude de todo o
mundo. E os anos, que pouco a pouco vão levando a lembrança
da ilha real onde Stevenson acabou os longos sofrimentos, conti-
nuam impotentes para apagar essa outra ilha que.s6 em sua fan-
tasia existiu, e que ele nos deixou, com seu tesouro escondido,
e seus piratas, e seus navios, e o sortilégio da aventura. (Fala do Serviço de Documentação do «Diário de No/(eias.)
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De «A ILHA DO TESOURO~ (1881)
Como principiou a minha aventura no mar
Os amotinados nâo vol/aram, e não do na seteira, Hunter e o capitão Smollell; Quanto ao capilão, as feridas eram
tornaram a ser disparados tiros do bosque. os dois primeiros agonizavam. O amoti- realmente graves, mas não mortais. Ne-
Por hoje tinham .,levado a sua conta", nado morreu efectivamente quando estava nhum órgão vital estava atingido. A bala
conforme declarou o capilão, e tinhamos a ser lancetado pelo médico, e HUllter, de Anderson - fora 10b o primeiro a feri·
o campo livre só para nós, e todo o tempo apesar de todos os nossos esforços, nâo -lo - partira-lhe a omoplata e passara-lhe
para tratar dos feridos e almoçar. Eu e o voltou a si. Ficou durante toda a tarde a junto do pulmão; a segunda rasgara-lhe e
conde cozinhámos cá fora. apesar do peri- respirar ruidosamente, como o velho pirata deslocara-lhe os músculos da perna. Cura·
go, e contudo seria dificil dizermos o que na nossa esta/agem quando teve o ataque va-se com certeza, disse o doutor; mas por
estávamos a lazer, tão pavorosos eram os de apoplexia; ficara com o tórax esmaga· enquanto, e durante as próximas semanas,
grilos que o domor obrigava os seus doen· do pelns pallcadas, e fracturara o crânio ao não podia andar nem mexer o braço, e de-
tes a soltarem. cair. A certa altura da noite seguinte, sem via /alaro menos possível.
Dos oito homens que tinham cafdo na um gesto nem um ruido, entregou a alma Quanto ao meu golpe acidental nos de-
escaramuça, já só respiravam o pirata feri- aoeriador. dos. não valia mais do que uma picadela
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