Page 77 - Revista da Armada
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I  Nota de Abertura









                           Lisboa Antiga





            Olhai  senhores  /  Esta  Lisboa  doutras       tudo isso e  muito mais pertence a outras
            eras/ ...                                       eras. Mas este intróito tem um fim. Outor-
                                                            gar-me o  direito  de saltar em  terra  e  er·
                   SSim  reza a  letra do refrão de um      guer a  voz para que todos façamos  com
                   dos fados  mais bonitos até agora        que Lisboa seja cada vez mais garrida e
            A cantados em Portugal. Tão bonito              acolhedora.
            que galgou fronteiras e foi um sucesso em           Por isso, louvamos todas as iniciativas
            muitos países  espalhados pelos sete con-       que vêm sendo feitas  nesse sentido pela
            tinentes ...                                    Câmara Municipal. Há imenso que fazer.
               A  nós  marinheiros,  estas duas estro-
                                                            A cidade está muito degradada. Todos o
            fes do (( Lisboa Antiga )), lembram a cidade    sabemos. Mas nada de desânimos. Para a
            de mareantes que foi sempre; os seus en-        frente  senhor  Presidente  da  Câmara  e                 ,
            cantos vistos dos navios ancorados na ba-       senhores vereadores.
            cia do Tejo; a beleza das margens a desti-          A  remodelação  do  Chiado  levantou
            larem perante os que navegam vindos do          ondas de protestos. Mas hoje, o mau tem·
            mar ou demandando a  barra; a  excitação        po já lá va.i e só por má-fé ou falta de gosto
            dos que regressam de longas comissões;          alguém contestará o que está feito.
            a inveja que tinham, ao largar de noite, de         Vi há dias na televisão um projecto de
            ver as luzes do casario acolhedor que tro-      arranjo da Rua Augusta. de modo a trans-
            cavam pelo enjoo, balanço, frio, o descon-      forrllCJ.·la  em novo logradouro para nàcio·
            forto de bordo ...                              nais  e  estrangeiros que gostam de pas-
               Assim aprendem os marinheiros, mais          sear em locais  onde não circulem viatu-
            que  quaisquer  outros,  a  amar  a  cidade      ras' onde não haja poluição, onde existam
            Das festas /  Das seculares procissões /  ...   árvores e  flores,  onde haja esplanadas e
               Mas os marujos não andam sempre no           sossego ...
            mar e em terra, calcurriavam ruas e vielas,
                                                                Que  maravilhoso  empedrado  ali  ten·
            frequentavam tascas e bordéis, riam e foI·
                                                            cionam pôr! Que belissimo tapete persa a
            gavam confraternizando com o povo que            tecer  pelos  nossos  excelentes  calcetei-
            os estimava.
                                                             ros!
               Foi sempre assim e assim há-de conti·
                                                                Para a frente, pois, com a Rua Augus-
            nuar a  ser,  pois  marinheiros  e  povo são     ta,  com  a  Avenida  da  Liberdade,  com
           coisas  que  o  tempo uniu  e  que  nem  as       Alfama e Mouraria ...
           tempestades da história conseguirão de-              Porque, como diz a  sabedoria popular
           sunir. Por isso se diz, e quanto a mim com
                                                            prá frente é que é o caminho!
           toda  a  propriedade.  que  Portugal  é  um
           país de marinheiros.




               Bem sei que marinheiros gingões e ar-
           ruaceiros, bonitas varinas. pregões. etc.,                                                 clalm.



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