Page 62 - Revista da Armada
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que defendia a entrada dn  barra, por
                                                                                  forma  ti que os batéis pudessem pas-
                         P ANDARANE -1504                                         sar, sem ser molestados. pllra  ir ata-
                                                                                  car as naus.
                                                                                     O  pior é que o  vento caíra quase
                                               , ;                                por completo e as caravelas foram·se
                            "                     --                              atrasélndo.  Ouando os batéis já esta-
                                                                                  vam  muito próximos da barra. Lopo
                                                                                  Soares resolveu  voltar atrás para dar
                                                                                  reboque a uma das caravelas pensan·
                                                                                  do. possivelme nte, que os outros C:I
                                                                                  pitães esperariam por ele. Mas estes,
                                                                                  estando já ,I  scr alvejados pela bate-
                                                                                  ria,  em  vez dc  aguentar.  mandaram
                                                                                  tocar as trombetas. fazendo força de
                                                                                  rcmos e , bradando por Santiago, cru-
                                                                                  zaram ousadamente a  barra. sem fa-
                                                                                  zer caso dos pelouros que caíam à sua
                                                                                  volta. c foram abordar as naus.
                                                                                     A  abordagem  destas  constituia
                                                                                  uma  temeridade  que tocava  as  raias
                                                                                  da loucura uma vczqueos batéis, que
                                                                                  noio iam empavesados, logo que che-
                       Armado !'(!r1Il_
                       ~uesa funlk~dD                                             gavam junto delas ficavam completa-
                                 -~
                                                                                  mente expostos às pedradas e aos ar-
                                                                                  remessos de flechas que lhes choviam
                 .'                                                               de cima.  Por outro lado, era preciso
                                                                                  ter a  habilidade dum  artista de circo
                                                                                  para.  carregado  de  armas.  escalar o
                                                                                  costado duma nau alterosa. defendi-
                                                                                  da por turcos valentes e experimenta-
                                                                                  dos.
                                                                                     O  primeiro  batel  que  abordou
                                                                                  uma das naus apanhou tantll pedrada
                                                                                  e  tanta  frechada ,  e  leve  tantos feri-
                                                                                  dos, que foi  obrigado a desistir, indo
                                                                                  abordar a nau seguinte onde, encon-
                                                                                  trando  menor  resistência  os  portu-
                                                                                  gueses conseguiram entrar. O segun-
                                                                                  do batel abordou a capitânia inimiga
                                                                                  onde encontrou  também resistência.
                                                                                  Por  sorte,  O  couce  do  tiro  dum  dos
                                                                                  seus  canhões  tinha  arrombado  uma
                                                                                  parte da borda falsa abrindo uma bre-
                                                                                  cha  por onde  os atacantes  puderam
                                                                     "
                                                                                  entrar. Com maior ou menor dificul-
                Vendo-se  subitamente  rodeadas   nada  por falta de vento, reuniu ime-  dade,  cada  um  dos  batéis  abordou
             pelos  paraus e  tendo  falta  de vento   diatamente conselho, sendo todos os   uma  nau,  tendo  todas elas oferecido
             para  manobrar  à  vontade, defende-  capitães de opinião de que se deveria   uma  enérgica  resistêncill.  Logo  que
             ram-se aquelas com a artilharia, con-  dar um  castigo  exemplar aos  «mou-  uma era tomada , os portugueses lan-
             seguindo manter o  inimigo à  distân-  ros ..  pelo  atrevimento  que  tinham   çavam-lhe o fogo e saltavam imedia-
             cia. ao mesmo tempo que iam lenlan-  tido de desafiaras Portugueses.   temente  na  nau  vizinha  em  auxílio
             do arrastá-lo para peno do grosso da   Fundeadas  as  naus,  foi  pronta-  dos  companheiros  que  ali  comba-
             armada. Mas os paraus não foram no   mente organizada uma  força  de ata-  tiam.  Deste  modo  foram  sucessiva-
             engodo  e.  depois  de  mais  algumas   queconslituída pelas duas caravelas e   mente  tomadas  e  incendiadas  todas
             descargas dos seus canhões e de mais   pelos quinze batéis da armada em que   asdezassele naus!
             uns tantos arremessos de flechas.  rc-  iam  embarcados  muitos  fidalgos  e   Entretanto.  Lopo Soares de  Al-
             gressaram  a  Pandarane,  certamente   soldados. (Mais um exemplo do largo   bergaria conseguira. com O seu baleI.
             satisfeitos por terem pregado um sus'   uso mililarque os Portugueses faziam   rebocar uma das caravelas para junto
             to aos odiados «fTangues)!> (cristãos)!   dos batéis das naus.) A  ideia de ma-  da entrada da barra donde começou
                Quem  não  ficou  satisfeito  foi   nobra consistia em utilizélr as carave-  a bombardear a  bateria.  Até que um
             Lopo Soares de Albergaria. Como a   las para. com os seus canhões de gros-  tiro certeiro desta lhe matou duma as-
             armada eSlava  praticamente estacio-  so  calibre,  neutralizarem  a  bateria   sentada três homens e feriu dez. Des-

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