Page 82 - Revista da Armada

ESCOU DE ALUNOS MARINHEIROS

A Hesl.la-atie" foi extinta

Em 1876, O rei" Dom luiz, preferencial de admissão solidariedade, que fazem do
por graça de Deus", assinou a a condição de pobres. marujo um militar IIdiferente".
carta de lei que criou Durante mais de um século, Eram designados por "escol i-
a Escola de Alunos Marinheiros, a E.A.M. formou dezenas de nhas" ou por "filhos da escola",
ficando estabelecido que a sua milhares de marinheiros, uns designação que conservaram
finalidade era a de educar por vocação, quando havia ao longo da vida e que
mancebos de menor idade o "apelo do mar", outros permanece no seu mais
para o serviço da Marinha por necessidade, se em casa emotivo imaginário.
militar. Esse documento não abundava o pão. No Consequência dos tempos,
determinava, também, que entanto, todos nela encon- a Escola de Alunos
os seus alunos, para além de traram as raízes referenciais Marinheiros foi extinta
filhos de praças e de maríti- dos mais elevados princípios pelo Decreto Regulamentar
mos, tinham como factor de camaradagem, amizade e nº 34/94, de 1 de Setembro.

Orria o ano de 1886 o José tinha apenas 13 normas ou de regras, mas varria todos os pavimentos do
quando um qualquer anos de idade e era um dos agora tinha que obedecer a navio.
(
José entrou para ii alunos mais navos. ficou nada menos de 187 anigos. O toque da ceia ocorria às
Escola de Alunos Marinheiros, obrigado a servir a bordo dos que faziam parle do Regula- 16 horas e 30 minutos e, após
então estabelecida na Corveta navios do Estado como praça mento da Escola. a refeiçao. eram aplicados os
" Duque de Patmela ~ , fundea- de marinhagem durante 8 respectivos castigos.
da no Tejo e dada como inca- anos. Era dura a vida quotidiana a O dia não terminava sem
paz de navegar. Nunca tinha ouvido falar de bordo da "Duque de Pal- uma hora de estudo obrigató-
mela u , rio.
Ás 4 horas e 50 minutos, já
o José tinha ouvido os tiros e •
o toque de alvorada.
Às 5 horas e 45 minutos o Capelão ensinou-o a ler e
tomava a primeira refeiçãO. a escrever, o Instrutor Militar
designada por almoço, e até fazia-o repetir exercícios de
ao início das aulas, que co- sabre e de revólver, e o
meçavam às 9 horas e 30 mi- Mestre desvendou·lhe os
nutos, ferrava a maca, varria a segredos da arte de marinhei-
tolda, efectuava a baldeação 'o.
e limpeza do costado, (achi- A disciplina era muito rfgi-
nava a bateria e procedia a da a bordo da ~Duque de
diversas fainas de mastros. Palmela~ e ii mudança das
Às 12 horas acontecia o to- ruas de Lisboa para a Escola
que do jantar. de Alunos Marinheiros tinha
Antes das aulas da tarde, sido muito brusca. Ainda se
procedia à limpeza e arruma· lembra quando proferiu uma
IMI,lÇJo (c. 1886) ção do ~trem" dos ranchos, e palavra obscena a bordo, bas-
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