Page 230 - Revista da Armada
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HA · Houve dirlruldades ou contratempos durante a construção? de deficiências de projecto. Houve naturalmente correcçôes de
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pormenor de execução, em consequência da experieocia da 1 série
R.O. - As dificuldades financeiras anteriormente referidas e as mas, tanto quanto me lembro, insignificantes.
decorrentes da celeridade da construção. Contratempos que
afectassem esta celeridade, pratic.lmeme nenhuns. As construções RA - Se em qualquer Marinha, a padronização possível é um
processaram-se a ritmo acelerado e com muita eficiência. Apenas objectivo permanente, muito mais o é numa Marinha de dimensão
houve a assinalar três acidentes Ilcl Alemanha que não tiveram contudo modesta como a nossa. A uniformidade de sistemas propulsores,
consequências graves: o afundamenlo no porto de Hamburgo do navio armamento, sensores, etc., conduz a grandes economias na área da
que transportava materiais de fornecimento da Marinha para as logística e na área da formação e treino do pessoal. Foi possível
C"OO5lrUÇÕeS, tendo os equipameotos de sef recuperados; a explosão de atender a esse objectivo? Quais os elementos comuns a outros
uma bomba junto do casco da ,. corveta que afectou a casa do navios portugueses?
gerador de emergência; e a colisão da 3. corveta, ainda no peóodo de
proYaS, com um paquete no Canal de KieL R.O. - Não só foi possível como até determinante na escolha do
aparelho motor nas duas séries, e da peça de 100mm e do sonar Ilcl 2i
R.A. - No projecto final das corvetas, do ponto de vista da série, assegumndo uniformidade logística com a dasse "Oe. João BeIo~.
construção naval, houve soluções inovadoras?
R.A. - O projecto português atraiu a atenção das Marinhas de
R.O. -A principal e única inovação foi talvez a filosofia subjacente ao outros países?
projecto e a sua própria concepção: a de um navio versátil, adaptável a
várias versões operacionais, de elevada operacionalidade e acima de R.O. - Parece que sim. Em 1969 a Marinha Francesa anunciava a
tudo de muito baixo custo ~1. Este último desiderato implicou o uso construção do Aviso 69 e Aviso 70, cujas dimensões e outras
exlensM:! de materiais não obedecendo a especirlCaÇÕeS militares, saM:> características aparentavam basear-se nos mesmos conceitos que a
ern áreas vitais, m.lnteodo-se contudo um elevado nível de qualidade e corveta portuguesa. A Marinh.1 Belga interessou-se muito pelo desenho
Habilidade, mas sem requintes dispendiosos. desta. A Marinha Espanhola desenvolveu o projecto de uma C()(VeI.a
inspirada na nossa, m.15 com mais poIênda propulsora. Durante os anos
RA -Ainda antes de concluída a 11 corveta, já se tinha iniciado as 1972 e 1973 ~ DCN elaborou um projecto de corveta para a
diligências para a construção da :li série. Para além das alteraçóe5 República de Africa do Sul, idêntica à corveta portuglle5a, com
no armamento e equip.lmento, motivadas por diferentes requisitos armamento e equipamento bélico a!lamente sofisticados.
operacionais, houve que corrigir deficiênciJs no projecto inicial?
RA - Os meios financeiros postos à disposição da Marinha são
R.O. - Para além das adaptações inerentes aos sistemas de armas e cada vez mais limitativos, senão impeditivos quanto à substituição
equipamentos bélicos, não nOtNe quaisquer aherações ou correa;ões de navios. Sem considerar a desactualização do arma·
mentwequiparnCflto, as corvetas, na sua opinião, como plataforma,
poderão ser utilizadas durante quanto tempo mais?
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R.O. - As corvetas, especialmente as da 1 série, deo.-ei.lm ter sido
modernizadas, o que aliás faz~1 parte do plano da Slk1 criação. E até
fXlderiam ter sido submetidas a rnOOernização mais do que uma vez,
pois a experiênda tem mostrado que a plataforma de um navio de
guerra, desde que projectad.l com as devidas margens, fXXle com as
necessárias adaptações receber equipamento moderno. Ora, as
corvetas foram calculadas com margens e disposições para, sem
dirlOJldades de maior, se manterem razoavelmente actualizadas.
A corveta mostrou ser uma boa plataforma, pelo que poderia sef
aproveitada convertendo-a em OPV, simpliflGlndo o armamento e
equipamento, dependendo este aproveitamento do estado de
conservação de estrutura e do grau de funcionalidade dos seus
equipamentos.
RA • Passaram mais de trinta anos desde que se iniciaram os
trabalhos relativos ao projecto das corvetas. O Sr. Almirante
passou à Reserva em 1980 e à Reforma em 1990. Essas mudanças
de situação não o afastaram do dia·a-dia da Marinha e por isso tem
podido seguir com alguma proximidade a vida das corvetas da , ..
série das quais a última atingirá agora os 25 anos. O que faria
diferente em relação ao projecto se pudesse voltar aos anos 601
R.O .. O fado de me encontrar ainda ligado à Nlarinha através da
actividade cultural, não ~ifica que tenha acompanhado de perto a
vida das corvetas. Mas pelas informações. oriundas dos vários sectores
da Marinha, particularmente o operacional, concluo que foram navios
bem sucedidos, quer do ponto de vista operacional, quer logístico, o
que confirma as observações feitas nas provas de recepção.
Em face disto, se voltasse aos anos 60, nada seria muito diferente,
excepto que teria quebrado a rewa inflexível do baixo custo e teria sido
mais teimoso na obtenção de verbas, para prover as COl\fetas com
amortecedores de balanço e hélices de passo regu~. E. além disoo,
na 2. série, mísseis de superfície como aliás estavam previstos no
Corveu F475 ·Jo.ao Courmho-'ú/umos apreslO5 para o I.lnçamenlo A ,igua
em 2 de Maio de 1969 projecto original. II
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