Page 161 - Revista da Armada
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do Zêzere, entre a Estrela e a
G.1rdunha, fa7.endo com que os
dois nlt1ciços se tomem num só
e constituam um esporão
sobranceiro ao planalto da
Meseta Ibérica. Mais ou menos PORTUGAL
pela linha que vai de Sortelh.1 à
Guard" pt1ssaram os limites de
Portugal até ao reinado de D.
Dinis e, certamente foi essa a
raz..io fX>rque D. Sancho I fun-
dou a cidade naquele local
(onde já existia um castro anti- cm.".(
go) e lhe concedeu foral em
1199. A segunda mais alta """",'
(l050rn) da Península Ibérica (a
prim.:.>ira é Ávila) destinava-se a
guardar a fronteira, de frente r G
s.110s do rei de Portugal, pelo p.:1r.1 o eixo de Ciudad Rodrigo
rdunha
menos, desde D. Afonso 111. E, a Salamanca. Quase inespu- .- p
bem entendido, toda a po- gn.íve!' dentro de uma muralha 0c..u<o
voação respira à volta desta construída a partir de uma
omnipre;ença espiritual ilustre velha torre de menagem, que
que convive com as pessoas da ainda hoje existe (Torre Velha), e
rua. Com uma especial temura, alargada, no tempo de D.
o descobridor do Brasil é tra- Fernando, até à configuração
tado por "Pedro", pelos seus que tinha no príncipio do séc.
conterrâneos, como se fosse XIX e de que ainda se lhe va.">m ainda mais remoto. A catedral Alcanices. no reinado de D.
alguém que eles muito bem ai contamos. E, se em Belmonte foi mandada construir por D. Diniz (1297). Trata-se da região
conhecem: fala-se do "jardim paira a sombra dos (abrais, João I e completada já no reina- do alto Côa, entre a serra da
do Pedro"; do "café, lá em bem pode dizer-se que na do de D. João III, cerca de cento Malcata, o rio Águeda 1.'.1 ribeira
baixo, ao pé do Pedro", "aquela Guarda se ergue serena e firme e cinquenta anos depois. Por de TOUTÕeS. E no sul desta Z011.<1,
rua que sobe até ao Pedro"; e, a person.1lidade do segundo rei isso, apesar de se r~onhe<:er nos limites do que era o país
claro está "da estátua do de Portugal, o obreiro da estru- que houve 0111.1 manutenção da reconhecido e seguro, como um
Pedro". Uma familiaridade or- tura de implantação do poder traça típica do início do século guardião avançado emboscado
gulhosa que tende a identificar real e de defe;a militar em toda XV, notam-se algumas evo- numa rurva do rio, levanta-se o
a vila I.' os seus filhos com o agueI.1 região. Foi ele que trans- luções -muito suaves e tímidas- castelo do Sabugal, cujo papel
mais ilustre de todos eles. Pa- feriu a sede da antiga diocese da no estilo decorativo, manifesto nesta disputa se pode adivinhar.
receu·nos bem este sentimento. Idanha-a-Velha (Egitânia) pt1ra 11<1 intromiss.'io de um manueli- Apesar de ter sido prevista a
E caminhando para leste em a sua cidade, deslocando o cen- no simples e sóbrio como con- visita a este palco de grandes
direcção à raia, pelo meio de tro de desenvolvimento regio- vém.10 difícil trab.1lho do grani- b.1talhas, que só acab.1ram com
Um.1 tei.1 de estradas de trânsito nal b.1s!nnte mais pam o norte, to e à sensibilidade serrana. Mas a terceira invas.;o francesa, o
muito difícil e perigoso, apa- fom do alcance dos ataques dos a leste da Guarda, de Belmonte adiantado da hora e as más
rece, confundida com os mouros. A parte mais antiga é a e de SorteU\o1, fica o território de condições do tempo, já n.io per-
próprios montes pedregosos a que está contida dentro da Riba Côa que foi alvo de mitiram aas viajantes da Escola
aldeia fortificada de Sortelha, muralha, distinguindo-se edifí- quezílias complexas entre os Naval a entrada no castelo que
uma verdadeira pérola de um dos de arquitectura renascen· reinos vizinhos, desde a ada- feçhara às seis horas da tarde.
passado, guardada por titãs tista com pedras onde sobres· m.1çãO de Afonso Henriques até Enquanto o tempo o pennitiu,
nos cofres daquelas monta- saem símbolos de um pass.1do à celebrnção do tratado de ainda foi possível O'UZ..1r a cerca
nhas. Não fora as casas novas, medieval e caminhar pelas se-
que vão mostrando os seus culm'eS ruelas estreitas, sentindo
telhados de cor viva, por fora um pouco do ambiente desses
da cerca medieval, e toda a ter- duros tempos em que por ali
ra apareceria assimiJ.1da na pai- correram. em sobressalto, So:1pa-
s.1gem, confundida com a cor tos ferrados e cavalos em cadên-
parda dos penhascos agrestes. cl.1 de guerra.
Sortelha mais parece um desses E, de regre;so ao Alfeite, fica-
ermos, onde as pes5O<1S se refu- nos a sensação de que fora es-
giavam, quando as agruras dos casso o tempo disponível. Para
homens tornavam as terras visitar a Guarda, Belmonte.
férteis das planícies demasiado Sortelha e Riba Côa, para revi-
perigosas, pelas algaras e ou- ver a história que aquelas pe-
tras devassas. dras podem contar a quem a
Sortelha e Belmonte comple- elas se dirige com carinho e
mentam-se Um.1 à outra, como paciência, não chegaria uma
defesas militares da Cova da semana. II
Beira, tomando essa passagem
praticamente inespugnável. As J. Semedo de MIltos
duas fortalezas fecham o vale Ponllruor dr orqw/«/um rruosmllis/iI/W MItro da GunrJn crENFZ
REVISTA DA ARMAOA • MAIO 97 1 5