Page 182 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
5. QUADRO DE PETER MONAMY (C. 1685)
A pintura do Séc. XVII (ca. 1685) é da autoria de Peter Monamy, discípulo do céle-
bre pintor flamengo Willem Van de Velde (filho) e é um dos raros exemplos conheci-
dos de pintura europeia onde aparece um navio português.
O quadro representa, à esquerda, um navio arvorando o pavilhão português do
reinado de D. Afonso VI, batendo-se furiosamente, pelos dois bordos, contra navios
berberes, estes arvorando um pavilhão ainda não definitivamente identificado mas
que, provavelmente, será o da Regência de Tunis, então subordinada ao Sultão Turco
de Constantinopla.
À direita do quadro aparece um navio berbere incendiado e irremediavelmente
batido, realçando-se o extraordinário realismo das cores que representam as chamas.
Em primeiro plano cruzam-se dois bateis em renhido combate, sendo o da esquerda
português. Era hábito, na eminência dum combate naval, arriar as embarcações para
a água não só para as poupar ao efeito da metralha como também para recolher os
náufragos dos navios afundados. Em plano afastado, por trás do navio berbere repre-
sentado na parte central da pintura, apercebe-se a mastreação e, muito desvanecido,
um pavilhão português. Este pormenor escapou aos especialistas ingleses que anali-
saram a pintura, pois sempre referiram um combate entre um navio português e vários
navios berberes quando, na realidade, estavam presentes, pelo menos, dois navios
nossos.
A aquisição deste quadro pelo Museu de Marinha foi possível graças a um conjun-
to de circunstâncias felizes.
Em Maio de 1993, o dono de um antiquário de Londres telefonou ao Director do
Museu de Marinha dizendo que tinha uma boa pintura do Séc. XVII com um navio
português.
Dada a raridade da presença de navios nossos na pintura europeia, pediu-se para
ser remetida ao Museu toda a informação possível, o que logo foi feito. Verificou-se,
então, que se tratava de um quadro de pequena dimensão (30.5X40.7 cm) mas de
grande qualidade, atribuído à oficina de Willem Van de Velde, o jovem, talvez o me-
lhor pintor de navios de batalhas navais que jamais existiu.
O preço da aquisição era elevado (15 mil libras), pelo que foi necessário procurar
apoios. Posta a questão ao Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Ribeiro
Pacheco, este decidiu assegurar desde logo a aquisição, para o que deu instruções ao
Superintendente dos Serviços Financeiros. Entretanto o Museu mobilizou as suas
próprias verbas e pediu a colaboração do presidente da Direcção do Grupo de Amigos
do Museu de Marinha, Almirante Vasco Viegas. Este desenvolveu um notável trabalho
e em pouco tempo obteve apoios significativos da Comissão Nacional para as
Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, da Fundação Calouste Gulbenkian,
da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e da Fundação Oriente, para
além de ter contribuído com uma verba do próprio Grupo de Amigos. Deste modo, a
Marinha foi ressarcida da quase totalidade da verba despendida com a aquisição e o
Museu de Marinha pode inaugurar a pintura em 31 de Janeiro de 1994 com a pre-
sença de representantes das Instituições que contribuíram para a sua aquisição.
Museu de Marinha. Cota: PN - I - 323
(Texto de J. Martins e Silva, CMG)